Mesmo sendo um dos eventos culturais mais importantes do país, o São João de Caruaru (PE) tem passado por um processo de privatização e de abandono dos artistas locais e das tradições populares para gerar lucro para empresários.
Iany Morais | Caruaru
CULTURA – Após 65 dias de festa, o São João de Caruaru em Pernambuco, chegou ao fim, deixando evidente como a cultura popular tem sido precarizada em nome da garantia do lucro de uma minoria de ricos. Os festejos juninos figuram entre os principais do país e a cidade carrega o título de maior São João do Mundo, porém, a tradição tem sido sistematicamente esmagada por uma lógica mercantil.
O espaço, antes tomado por pessoas dançando forró pé de serra, hoje é disputado com o camarote, que a cada edição parece maior. Esse ano o camarote que fica em frente ao palco principal, ocupou mais de 4mil m² no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, principal polo entre os 27 espalhados pela cidade, impedindo que quem não pague fique próximo ao palco e revelando a privatização do São João.
Mas, não para por aí. Os apoios que antigamente serviam para fazer a festa acontecer, deram lugar aos patrocínios multimilionários que determinam a lógica da festa, incluindo as atrações artísticas. Exemplo disso, é a Aposta Ganha, casa de aposta e cassino online que há 4 anos consecutivos é a maior patrocinadora do São João de Caruaru, evidenciando a influência das chamadas bets, que lucram com o vício e o endividamento do povo pobre no Brasil atualmente.
O São João, historicamente construído por artistas populares, trios de forró pé de serra, banda de pífanos, bois, quadrilhas, foi rifado e virou vitrine para grandes marcas lucrarem ainda mais. A discrepância entre as atrações é enorme. O maior montante de dinheiro é destinado a cantores e bandas tidas como “nacionais”, Wesley Safadão, por exemplo, cantor e dono de bets, recebeu R$1.200.000,00, (Um milhão e duzentos mil reais), o maior cachê do ano.
Enquanto isso os verdadeiros responsáveis pela identidade do São João, os trabalhadores da cultura popular, são precarizados, dividem a menor parcela dos cachês e estão cada vez mais longe do palco principal. Para alguns trios e bandas de pífano de Caruaru, o cachê ficou em torno de R$ 1.500,00 (Mil e quinhentos reais), que muitas vezes são pagos meses após o fim da festa.
A mercantilização do São João na capital do forró não é obra do acaso, é fruto da sociedade em que vivemos.
No capitalismo tudo vira mercadoria, os ricos ficam mais ricos e até mesmo a cultura é usada para esse fim. Mas é possível mudarmos isso! É preciso cobrar do poder público o fortalecimento da cultura popular e pegar nosso São João de volta. E mais: é urgente construirmos uma nova sociedade e fazer como diz a canção de Gilberto Gil, virar este mundo em festa, trabalho e pão!