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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

“Brasil: Nunca Mais” completa 40 anos de seu lançamento

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Quarenta anos após sua publicação, Brasil: Nunca Mais continua sendo um dos documentos mais intensos sobre a repressão estatal no Brasil. Proveniente de uma mobilização ecumênica e clandestina, a obra escancara as barbáries da ditadura militar com provas evidentes: tortura, assassinatos e desaparecimentos. Práticas que não pertencem apenas ao passado, ainda se mantém no presente com nomenclaturas sutis, mas igualmente perversas.

Vitória Pereira | Redação Pernambuco


HISTÓRIA – Publicado em 15 de julho de 1985 pela Editora Vozes, o livro Brasil: Nunca Mais nasceu como um esforço ecumênico clandestino de denúncia e memória, conduzido principalmente por Dom Paulo Evaristo Arns, o Pastor Jaime Wright e o Rabino Henry Sobel, com apoio do Conselho Mundial de Igrejas. A pesquisa, iniciada em 1979 e estendida até 1985, reuniu cópias de cerca de 707 processos do Superior Tribunal Militar, totalizando quase 1 milhão de páginas. Sua publicação, logo após o fim da ditadura, foi um marco: o livro ficou 92 semanas entre os mais vendidos no Brasil.

A ideia principal da obra é a exposição de torturas, assassinatos, desaparecimentos e outras infrações cometidas pelo regime militar entre 1964 e 1979. Foram documentadas cerca de 17.000 vítimas, 1.800 episódios de tortura e 353 mortos identificados. Os relatos foram extraídos dos depoimentos jurídicos dos processos, descrevendo mecanismos cruéis como pau de arara, choque elétrico, afogamento, cadeira do dragão, geladeira, uso de produtos químicos e até inserção de insetos nos corpos, muitas dessas técnicas são expostas na primeira parte do livro, intitulada “Castigo cruel, desumano e degradante”.

Brasil: Nunca Mais tornou-se instrumento de resistência e da preservação da memória da ditadura. Foi considerado a primeira Comissão da Verdade informal do país, abrindo caminho para movimentos de memória e dando suporte à Comissão Nacional da Verdade.

Entre os propósitos da obra está a denúncia da tortura como método institucional. Um dos destaques do prefácio de Arns, diz que “a tortura, além de desumana, é o meio mais inadequado para nos levar a descobrir a verdade e chegar à paz”, aponta a contradição brutal dos militares. A exposição à violência sistemática mostra como ela foi normalizada e encoberta, com participação ativa do Estado em instrumentos de opressão, como DOPS e DOI-CODI.

É impossível passar pelas páginas sem sentir um profundo mal-estar. E é exatamente esse desconforto que ele provoca que impede que a barbárie se normalize.

 Uma obra que permanece atual e necessária

Em um país onde ainda há quem celebre a ditadura, esta obra se torna necessária. O esquecimento é um projeto político, e este livro é uma trincheira aberta contra isso. A violência institucional narrada não é um fantasma do passado: ela reaparece hoje nas periferias, nas abordagens policiais e no desmonte das políticas de direitos humanos. Negar a existência da tortura ou relativizar os crimes da ditadura é mais do que ignorância, é cumplicidade.

Brasil: Nunca Mais, é um livro que deve estar nas bibliotecas públicas e escolares, ser lido e divulgado nos vestibulares e aulas de história, além de ter sua relevância e atualidade lembrada e divulgada para a nossa e as futuras gerações, como nos lembra a palavra de ordem: para que não se esqueça e para que nunca mais aconteça.

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