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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Método de trabalho nas tarefas de organização

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“Mas a burguesia não forjou apenas as armas que lhe trazem a morte; também gerou os homens que manejarão essas armas – os operários modernos, os proletários”.  Karl Marx, O Manifesto do Partido Comunista. 

Júlia Andrade Ew | Florianópolis (SC)


TEORIA MARXISTA – Lênin, no livro Que Fazer?, afirma que é “necessário despertar em quantos participam ou se propõem participar no trabalho prático o descontentamento pelo trabalho artesanal que reina entre nós e a decisão inquebrantável de nos desembaraçarmos dele”. Quais as características do trabalho artesanal? A produção é realizada em pequena escala, de forma individual ou em pequenos grupos, quase sem divisão de tarefas, dependendo exclusivamente da personalidade do artesão. Esse estilo de trabalho em um Partido Comunista acaba desembocando em problemas políticos graves. A verdade é que não se combate um inimigo poderoso como a burguesia sem um trabalho sistemático.

Já reparou como funciona uma grande indústria?

Ao contrário de uma oficina artesanal, a fábrica não para. Isso só é possível porque há um alto nível de coletividade e especialização na produção. Desde os setores que trabalham com as matérias-primas, passando pela transformação, empacotamento, armazenamento e distribuição, até os setores de planejamento de produção, controle de qualidade, logística, manutenção e recursos humanos. Todos os operários sabem exatamente qual o posto que vão ocupar e quais tarefas são esperadas deles.

Na linha de produção, o trabalho é diário, sistemático e contínuo. Cada setor tem uma hierarquia de responsáveis, que prestam contas da produtividade e das metas de sua equipe por meio de relatórios com as informações necessárias para um balanço do desempenho. Esse desempenho é avaliado pelos responsáveis de hierarquia superior, que buscam sempre introduzir nos diferentes setores tecnologias para aumentar a produtividade, otimizar os processos de produção e corrigir as falhas por meio de métodos científicos

É melhor formarmos camaradas de forma artesanal – a depender da personalidade do assistente – ou aplicarmos de forma sistemática o cronograma nacional de formação, sendo possível nivelar e munir ideologicamente um grande contingente de quadros?

É melhor se contentar que poucos camaradas que não tiveram acesso a uma boa escolaridade possam acessar os textos do marxismo-leninismo, ou construir de forma sistemática a Escola Eliana Silva e alfabetizar os lutadores e lutadoras das favelas de nosso país?

É melhor que cada secretário de organização, finanças ou agitação e propaganda invente uma forma de trabalho e não haja um padrão de prestação de contas e compreensão da tarefa, ou reunir periodicamente as comissões, transmitir as metas coletivas e traduzi-las para as metas locais?

É melhor recrutar para o Partido de forma espontânea e subestimada, ou realizar grandes Plenárias do Socialismo de forma periódica, de modo que possamos avaliar o fluxo de ingresso em nossas fileiras a partir do trabalho desenvolvido em cada território?

É melhor que os quadros sejam artesãos, realizando todas as etapas de um processo individual, ou “parafusos dinâmicos” (como denominava Che Guevara), cadeias de transmissão em um processo coletivo?

Lênin, o arquiteto do Partido Bolchevique, que foi capaz de tomar o poder político e construir o primeiro Estado proletário, aponta que nosso desafio é formar uma organização “única, forte e disciplinada, com partes metodicamente desenvolvida” (Que Fazer?).

O trabalho organizado e consciente

A fusão do socialismo com a classe operária não tem apenas a ver com um método de trabalho, mas com um estilo de vida. Você já percebeu como vive um operário?

Em geral, a classe operária, por suas condições materiais, leva uma vida simples. Precisa adaptar sua rotina a fábrica e às exigências do capital: é disciplinada, tem hora para acordar, almoçar, se locomover e, para poder viver, precisa de organização e espírito prático. Faça chuva ou faça sol, bate o ponto na hora certa, senão tem seu salário descontado.

Por estar submetida a uma rotina de produção coletiva, não se deslumbra tão facilmente com iniciativas individualistas. Os operários vão para a fábrica em um ônibus cheio, observam a quantidade de trabalhadores necessária para produzir-se uma mercadoria e, ao fim do dia, voltam para seu bairro, em geral, periferias, onde se vive em coabitação. Sua moral pode ser observada com a atitude frente a um fura-greve, por exemplo. A ideia de uma disciplina única e igual para todos e a solidariedade, camaradagem e ajuda mútua são duas faces da mesma condição de vida. Como afirma Lênin:

“Os operários não têm medo da disciplina nem da organização e entram de bom grado nas organizações do Partido, quando se decidem filiar-se a este. Os que temem a disciplina e a organização são os intelectuais de tendência individualista, e estes se mantêm, na realidade, à margem do Partido. E fazem bem, pois o Partido se livrará da afluência de elementos inseguros que acodem a ele.” (História do Partido Comunista Bolchevique da URSS, Edições Manoel Lisboa)

Camaradas, nossa rotina está adaptada aos nossos objetivos? O estudo individual, a prática de exercícios físicos e as reuniões acontecem diariamente com pontualidade e regularidade? Somos organizados em nossa rotina pessoal? Temos agenda e relógio para ajudar em nossa concentração? Buscamos ser exemplo de bons operários da revolução? É possível nos fortalecermos ideologicamente para que a constância, disciplina, a cobrança e prestação de contas não sejam um fardo, um sacrifício ou algo reservado apenas para alguns momentos ou campanhas específicas, mas um costume tão cotidiano quanto escovar os dentes, um modo de viver!

O estilo e o método de trabalho leninista

No trabalho de construção do Partido devemos analisar criticamente tudo o que se vê dentro de uma fábrica ou grande empresa. É importante lembrarmos que nossas análises devem ser feitas com base na ciência revolucionária, no materialismo e na dialética. A negação dialética tem como movimentos a negação, a preservação e a superação. O trabalho comunista deve preservar a coletivização, otimização e a produção em larga escala, mas precisa deixar para trás a alienação, o embrutecimento e a burocratização que são típicos à produção capitalista. Afinal, o produto da produção coletiva é expropriado dos trabalhadores e, para que eles não se rebelem, é necessário furtar-lhes a consciência.

Devemos, pelo contrário, ser profundamente humanos em todas as nossas relações. Em diferentes textos, Stálin advertiu os dirigentes do Partido a não cair em utilitarismo barato e denunciou comportamentos de um “praticismo mesquinho” ou “burocratismo escandaloso”, quando os dirigentes colocam as pessoas em segundo plano e não são capazes de travar as lutas políticas e ideológicas com generosidade.

Ao entrarmos na luta política e ideológica com um camarada que está enfraquecido, é preciso escutar com muita atenção e falar com humildade, firmeza e vontade de conquistar aquela consciência para o que há de mais avançado. Ao acompanhar coletivos, devemos estar sempre dispostos a aprender, pois ninguém melhor que o operário conhece a máquina que opera todos os dias, e assim é nossa militância, que tem ótimas ideias sobre como melhorar de forma criativa o trabalho onde atua, e precisa ser incentivada a pensar ativamente e se responsabilizar pela implementação da política do Partido.

Camaradas, nós estamos vigilantes para não sermos engolidos pelo burocratismo e a falta de iniciativa? Estamos conscientes de que do resultado de nosso trabalho depende o futuro de nossa classe? Temos lutado com todas as nossas forças pelo desenvolvimento dos companheiros e companheiras que assistimos? Visitamos suas casas, conhecemos suas famílias, sabemos do que sofrem e o que amam, nos interessamos por eles como seres humanos?

Podemos avançar muito na elevação da nossa organização e método de trabalho ao nível de nossa política e facilitar a nossa identificação com amplos setores da classe operária. Nosso Partido pode e deve ser, desde sua estrutura, a imagem e semelhança da classe capaz de produzir o necessário para alimentar, vestir e abrigar toda a humanidade.

Superar os métodos artesanais no trabalho de organização é determinante para que possamos elevar nosso papel dirigente e cumprir nossa tarefa na conjuntura, para que não façamos como os economistas russos que, como afirmou Lênin, se resignaram a ficar de joelhos adorando a espontaneidade e contemplando religiosamente o traseiro da classe operária. Ao trabalho!

Matéria publicada na edição impressa  nº316 do jornal A Verdade

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