Em meio a uma sociedade adoecida, manter a saúde se tornou um desafio diário — e, para os militantes e lutadores populares, cuidar do corpo e incluir a atividade física na rotina é também um compromisso com a luta coletiva, exigindo disciplina e responsabilidade.
Vitória Louise | Salvador (BA)
JUVENTUDE – A depressão é uma doença que vem atingindo grande parte da classe trabalhadora. Dados do último mapeamento sobre a doença realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que cerca de 6% da população brasileira sofre de depressão – mais de 11 milhões de pessoas. Segundo a OMS, mulheres apresentam duas vezes mais chances de terem o diagnóstico da doença do que homens. A falta de perspectiva de futuro, o aumento do custo de vida, a falta de acesso aos direitos básicos, a precarização do trabalho e pouco tempo também são fatores que induzem as pessoas para esse transtorno.
Esse transtorno faz com que os afetados tenham uma alteração no humor do qual alguns sintomas são: sentimentos de tristeza, aborrecimento; sensações de irritabilidade, tensão/agitação; sensações de aflição, preocupação, insegurança/medos, (mesmo que alguns desses receios tendem a ser infundados); diminuição da energia, fadiga e lentidão; perda de interesse e prazer nas atividades diárias; perturbações do apetite, do sono, do desejo sexual, variações significativas do peso; pessimismo; sentimento de culpa, de autodesvalorização e ruína, que podem atingir uma dimensão delirante (sem fundamento real); alterações da concentração, memória e raciocínio; sintomas físicos (dores de cabeça, perturbações digestivas, dor crônica, mal-estar geral); em quadros mais graves, podem gerar ideias de morte até a escala de tentativas de suicídio.
Essa é a doença mais incapacitante do século. Com o aprofundamento das contradições do capitalismo, cobra-se um nível de produtividade e acúmulo cada vez maior por parte dos patrões, aumentando a exploração sobre a classe trabalhadora e tornando a rotina mais apertada e o tempo escasso. Também não é à toa que se aumentam o número de “comidas instantâneas” oferecidas pelos mercados.
E essa é a fórmula que os capitalistas apostam: uma rotina sem tempo para a classe trabalhadora e a oferta de comidas industrializadas cheias de conservantes e aditivos químicos. Mas esses alimentos ultraprocessados fazem com que quem os consome a longo prazo adoeça com mais rapidez – e a doença, dentro do capitalismo, é muito lucrativa para indústria farmacêutica.
A prática de hábitos alimentares saudáveis e atividade física constante proporcionam melhor qualidade de vida. Um outro fator benéfico observado durante a prática de exercícios físicos é a liberação de hormônios que trazem sensação de prazer e de bem-estar, diminuindo e prevenindo condições depressivas. A melhor defesa contra o desenvolvimento de doenças associadas à falta de atividade física e ao sedentarismo é ativar os músculos em uma base regular de exercícios físicos que movimentem os ossos, articulações, coração e demais órgãos internos.
É possível identificar em estudos que a prática de atividades físicas tem como decorrência o efeito de antidepressivo, integrando-se como medida preventiva da ansiedade, estresse e, por consequência, a melhoria no quadro de depressão e insônia. O desafio é incluir essa prática na rotina.
Se a depressão, ansiedade e várias outras doenças têm mais chances de aparecerem em pessoas que não se exercitam, logo, é necessário encarar a atividade física como uma tarefa diária. Não devemos cair no idealismo de que a forma como movimentamos (ou não) o nosso corpo, o que ingerimos de alimento e demais hábitos, não vão influenciar negativamente o nosso bem-estar.
Exercitar-se é uma mudança de hábito e todas as mudanças exigem esforços para que se concretizem. Mudanças que exigem mais, demandam mais, logo, devemos partir do pressuposto que a dificuldade é parte do processo e não devemos desanimar ao tentar mudar. A mudança não precisa ser brusca, como sair do sedentarismo para se exercitar vários dias da semana. A mudança pode vir aos poucos: começar com exercícios duas vezes na semana, por exemplo, até que se torne hábito e, depois avançar.
A conjuntura exige dos lutadores sociais mais compromisso com a sua saúde, afinal, ficar bem no meio de uma sociedade adoecida é um desafio diário. Incluir a atividade física no cotidiano é também uma responsabilidade com os interesses coletivos e exige de cada um de nós maior disciplina no cumprimento dessa tarefa.
Matéria publicada na edição impressa nº315 do jornal A Verdade