Com dívida milionária e após 15 anos de abandono, um prédio em Taguatinga virou lar para 80 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Mas, mesmo depois de reconhecer o interesse social da ocupação, a Justiça do DF voltou atrás e autorizou a reintegração de posse, aprofundando a insegurança habitacional em uma região marcada pelo déficit de moradias.
Redação DF
LUTA POPULAR – O Juiz da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal, Carlos Maroja, decretou nesta quinta-feira (26) a reintegração de posse do imóvel ocupado pela Ocupação Expedito Xavier, no Setor Hoteleiro de Taguatinga Sul. A decisão, contraria despacho anterior do próprio juiz dias antes, que havia reconhecido o interesse social da ocupação e marcado audiência de conciliação para o próximo dia 10 de outubro.
A ocupação, que renasceu no dia 7 de setembro pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), abriga cerca de 80 famílias. O prédio estava abandonado havia mais de 15 anos e pertence a um proprietário que acumula dívidas superiores a R$ 5,6 milhões, valor maior do que o próprio imóvel. Desde a chegada das famílias, que reconhecem a ocupação como lar, o espaço passou a abrigar atividades comunitárias, culturais, esportivas e educativas, além de uma creche e uma cozinha coletiva.
Contradição judicial
Na decisão publicada no início da semana, o juiz havia negado o pedido de reintegração de posse, considerando que o imóvel não cumpria sua função social e que a ocupação se mostrava legítima. Entretanto, o novo despacho afirma que o prédio estaria em reforma e que a permanência das famílias representaria “risco à vida e à integridade física de pessoas”, determinando a retirada imediata.
Para a advogada da ocupação, Laura Ingrid, a decisão ignora a realidade: “O prédio permaneceu abandonado por 15 anos, sem qualquer função social. Foi somente com a chegada das famílias que o espaço ganhou vida comunitária, com atividades culturais, educativas e de solidariedade”.
A realidade das famílias
Juliana, de 74 anos, resume a luta: “Só Deus sabe o que eu sofri. Nunca morei numa casa minha, desde que saí da casa do meu pai. Sempre trabalhei, sempre lutei, mas nunca consegui ter um teto próprio”.
Para Ellica Ramona, coordenadora do MLB, os números revelam a urgência da mobilização: “No Brasil existem 18 milhões de imóveis abandonados e 8 milhões de famílias sem teto. A Ocupação Expedito Xavier nasceu para enfrentar essa realidade. Já temos creche, cozinha coletiva e mutirões constantes para recuperar um imóvel que estava abandonado há mais de 15 anos”.
Famílias seguirão resistindo
Apesar da decisão judicial, as famílias organizadas prometem resistir. Um ato público em apoio à ocupação está marcado para o dia 27 de setembro, às 15h, no próprio local. Durante o fim de semana, estão previstas oficinas, rodas de conversa, exposições e atividades culturais.
A ocupação segue aberta à comunidade e recebe doações de alimentos, roupas, materiais de limpeza e serviços voluntários. As contribuições podem ser entregues no endereço – Setor Hoteleiro Taguatinga Sul, a 900 metros da Praça do Relógio, ao lado da Escola Único – ou via Pix: ocupacaoexpedito@gmail.com.