O século 21 aprofunda a fase mais dura do capitalismo, marcada pelo imperialismo, guerras e adoecimento coletivo. Nesse cenário, precisamos defender o autocuidado e acolher militantes como parte essencial da luta política.
Kalí Santos | Belém (PA)
SAÚDE – O século 21 é marcado pela fase mais violenta do capitalismo, o imperialismo. Nessa fase, a opressão contra os trabalhadores, mulheres e jovens é tanta, que se torna desumano e insuportável viver nesse sistema. É a fase das guerras interimperialistas, do agravamento das doenças psicológicas e da exploração do homem pelo homem, que se torna tão absurda que se perde a empatia e faz com que tudo isso seja naturalizado.
Com o acirramento da luta de classes, tornou-se fundamental o debate de saúde em cada organismo. Nós somos os braços, as pernas e a cabeça do Partido, precisamos estar bem para desenvolver cada vez mais tarefas e pensar atividades para que avancemos cada vez mais rápido. A conjuntura exige de nós entender nosso próprio corpo e suas necessidades, cuidar de nós mesmos é uma tarefa como qualquer outra e não deve ser secundária.
Para um comunista se sentir bem numa sociedade adoecida, é um grande desafio, mas é uma tarefa essencial. A vanguarda deve ser exemplo. Olga Benario, em seus últimos dias na prisão, organizou as mulheres para praticar o autocuidado. Incentivou-as a fazer ginástica coletiva, a manter os espaços em que conviviam organizados e também a se cuidar com banhos e estudos diários, afinal, estavam presas, e não mortas. Olga lutou pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo e encontrou no autocuidado uma forma de resistência contra aquele regime nazista que a torturou.
E então, por que nós ainda negligenciamos o debate de saúde? Muitos camaradas ainda não praticam suas atividades físicas semanais e nem suas leituras individuais, alegando que não existe tempo por conta das tarefas diárias da militância. Mas não seriam o autocuidado e os estudos também uma tarefa?
Como incentivar?
“As palavras convencem, mas o exemplo arrasta”. Ainda acontece de muitos camaradas ignorarem seus problemas de vida pessoal para não afetarem a militância, mas isso é um erro. Nós pretendemos construir uma nova sociedade, uma sociedade coletiva. O atual sistema prega o individualismo, prega que nós mesmos temos que nos virar com nossos problemas, mas não podemos acreditar nessa falsidade!
Para as mulheres isso é ainda mais grave: nos ensinam que temos que dar conta de tudo e de todos os problemas sem reclamar, que temos que ser fortes o tempo todo, pois isso é característica de “mulher” ou de “mãe”.
A verdade é que devemos coletivizar nossos problemas e, quando é avaliada a necessidade de buscar por terapia profissional ou atividades físicas, devemos fazer sem resistência. Para incentivar outros camaradas, não há maneira melhor do que ser exemplo.
Para as pessoas neurodivergentes, isso é ainda mais difícil: o sistema que nos explora é o mesmo que exige que tenhamos força produtiva. É comum que os camaradas que necessitam de um pouco mais de atenção se sintam um peso, mas isso não é natural. Essa é uma ideia que não é nossa, ela foi colocada em nossas cabeças.
Quem um dia nos disse que não somos úteis? Que somos menos amados ou que somos culpados pelas coisas que sofremos? Devemos fazer uma profunda reflexão sobre como nós podemos e devemos contribuir com a libertação de nosso povo.
Camaradas, mais uma vez, não devemos negligenciar o debate de saúde, a melhor forma de ajudar outro camarada é praticando nosso autocuidado para que tenhamos condições de cuidar uns dos outros e nos fortalecermos nos princípios marxistas revolucionários.
Matéria publicada na edição impressa nº319 do jornal A Verdade