Centenas de milhares de pessoas se reuniram nas principais cidades do país contra a anistia dos golpistas e a PEC da Impunidade. Mais uma vez, nas ruas o povo se mobiliza para barrar o fascismo.
Cadu Machado e Mariana Rodrigues | Redação SP
BRASIL – Menos de uma semana depois da tramitação da PEC da Impunidade na Câmara e a aprovação da urgência do Projeto de Anistia aos fascistas golpistas do 8 de janeiro,, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas em pelo menos 60 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal.
No Rio de Janeiro, mais de 100 mil pessoas ocuparam a orla de Copacabana em um ato político convocado por movimentos sociais e partidos de esquerda e que contou com a presença de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros artistas, que entoaram cantos de liberdade e resistência do período da Ditadura Militar Fascista. Em Brasília, o ato caminhou pela Esplanada dos Ministérios e reuniu mais de 20 mil pessoas.
Em Minas Gerais, além dos atos que ocorreram em mais de 20 cidades, as ruas de Belo Horizonte foram tomadas por cerca de 50 mil pessoas. Na Paraíba, estado do Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), as ruas de João Pessoa ouviram o povo cantando “Fora, Hugo Motta!”.
Em Maceió (AL), os manifestantes se concentraram próximo à Praça Sete Coqueiros, onde fizeram falas a favor da democracia e caminharam até a Praça Multieventos com cartazes e faixas escritas com “Sem anistia para golpistas e bandidos” e “Fascismo nunca mais”. Um principais defensores da anistia e da impunidade para corruptos é o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que tem em Alagoas sua principal base eleitoral.
Outras cidades do Nordeste também tiveram atos massivos. Em Recife (PE), milhares de manifestantes se reuniram na Rua da Aurora, no bairro de Santo Amaro, e caminharam até o Marco Zero. Em Salvador, o ato reuniu dezenas de milhares de pessoas na orla da Barra.
Na capital baiana, o presidente da Unidade Popular, Leo Pericles, que estava na cidade participando do 7° Encontro Nacional de Estudantes do Ensino Técnico (ENET), defendeu: “O povo brasileiro hoje está dando uma resposta muito importante. Além de exigir a prisão de Bolsonaro e dos generais que já foram condenados, exigimos também a prisão de quem financiou essa tentativa de golpe e punição àqueles que assassinam nossos jovens todos os dias.”
Ao Jornal A Verdade, Péricles completou: “As manifestações de ontem (21), mostraram que nosso povo não vai tolerar nenhum processo de anistia para os ricos e políticos criminosos, golpistas e fascistas.”
Também foram realizados atos nas capitais dos estados da região Norte. Em Belém (PA) manifestantes se reuniram em frente ao Theatro da Paz, na Praça da República, local tradicional de manifestações políticas na cidade. Em Manaus (AM) o ato se concentrou na Avenida Getúlio Vargas, no Centro, e seguiu em caminhada sob a palavra de ordem “Sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão” até a Avenida Sete de Setembro.
Já em São Paulo, desde a ida para a Avenida Paulista era possível ouvir a multidão entoando palavras de ordem contra a anistia ainda nas estações de metrô. Em defesa da democracia, mais de 100 mil pessoas deixaram claro que o povo não aceitará mais golpes e que os responsáveis precisam ser punidos. Muito além da democracia formal, quem estava nas ruas reivindicava melhores condições de vida: trabalhadores exigiam o fim da escala 6×1, denunciavam as crises climáticas e a violência da Polícia Militar do governador fascista Tarcísio de Freitas. Os estudantes, que elegeram Bolsonaro como o inimigo número um da educação, se mobilizaram junto a seus DCEs, Centros Acadêmicos e demais entidades estudantis, cobrando a melhoria da educação e a prisão dos golpistas. Além disso, foram vendidos mais de 2000 exemplares do Jornal A Verdade.
Vivian Mendes, presidenta estadual da UP em São Paulo, relembrou dos atos da frente “Povo na Rua” de 2021 e 2023: “O povo é contra anistiar fascista e blindar bandido político”, afirmou. Ela ainda enfatizou que é possível derrotar o fascismo como fizeram os povos soviético e vietnamita.

PEC e Anistia só serve a políticos milionários de direita e fascistas
A PEC da Impunidade, aprovada na câmara dos deputados semana passada, gerou indignação geral no povo brasileiro. A medida altera o artigo 53 da Constituição para ampliar os privilégios de deputados e senadores, exigindo que qualquer processo contra eles dependa de autorização do próprio Congresso — mesmo quando os crimes não têm relação com o mandato. Na prática, é uma tentativa de criar um escudo para proteger corruptos e golpistas.
Apesar da rápida aprovação na Câmara, a reação popular colocou a proposta em xeque. As manifestações em todo o país forçaram o Senado a recuar. Mais uma vez, fica provado que só a mobilização do povo é capaz de barrar a blindagem dos criminosos do Congresso.
Além da PEC da Impunidade, que busca blindar parlamentares contra processos, também tramita no Congresso o PL da Anistia, uma proposta que visa conceder perdão a envolvidos em atos golpistas, incluindo os ataques de 8 de janeiro.
A medida é defendida por aliados de Bolsonaro e tem como objetivo garantir impunidade para aqueles que participaram da tentativa de golpe, enfraquecendo ainda mais a responsabilização dos criminosos.
Ambas as propostas representam uma tentativa de garantir impunidade para os responsáveis pelos ataques às instituições democráticas, enfraquecendo a responsabilização dos criminosos enquanto o povo segue sendo alvo da repressão e da violência do Estado.
A aprovação dos dois projetos foi acordada entre o Centrão e os fascistas durante a ocupação do plenário da Câmara, quando a prisão domiciliar de Bolsonaro foi decretada. Para que a Câmara fosse desocupada, ficou definido que o Centrão votaria a favor do PL da Anistia e de sua urgência, enquanto os fascistas apoiaram a PEC da Impunidade, garantindo que deputados do Centrão permanecessem protegidos da Justiça. O episódio mostra como essas manobras legislativas servem para blindar políticos e golpistas, enquanto a classe trabalhadora continua sendo punida pela Justiça dos ricos e os pobres, sobretudo a juventude negra e periférica, encarcerados em massa.
Quando o centrão e os fascistas firmaram seu pacto pela impunidade, se esqueceram de consultar os milhões de trabalhadores brasileiros, que estão cansados da corrupção. A resposta popular foi rápida, clara e contundente.

Mente quem diz que o brasileiro é acomodado
Durante o período da Ditadura Militar Fascista (1964-1985), o povo foi às ruas denunciar os crimes fascistas, como a tortura e o assassinato daqueles que lutavam contra a repressão. Ficou marcado na história o dia 31 de outubro de 1975, quando cerca de 8 mil pessoas foram às ruas de São Paulo para protestar contra a morte do jornalista Vladimir Herzog, barbaramente assassinado pelo regime.
Em 2013, o povo voltou a se levantar, desta vez contra o aumento de R$0,20 nas tarifas de transporte e a falta de investimentos nos serviços públicos. Mesmo diante da repressão, a mobilização cresceu e mostrou que os brasileiros não aceitam de cabeça baixa a exploração diária imposta pelos governos e pelo capitalismo.
As mobilizações pela prisão de Bolsonaro e dos golpistas não terminaram. É possível derrotar o fascismo, e barrar a PEC da Impunidade e o PL da Anistia é um passo fundamental nessa luta, já que essas propostas tentam livrar golpistas e corruptos da prisão.
Um dos balanços mais importantes da manifestação de domingo (21), é o seu caráter nacional. Ao contrário dos fascistas, que hoje só conseguem concentrar mobilizações em algumas capitais e com a injeção de muitos recursos financeiros, os atos contra a anistia e a impunidade mobilizaram centenas de milhares em todo país.
Novamente, foi o povo na rua que colocou a possibilidade real de barrar de forma definitiva a tentativa de não punir Bolsonaro e os generais golpistas. Agora, cabe aos movimentos sociais e organizações de esquerda continuar as mobilizações em torno das pautas mais importantes do momento para a classe trabalhadora: o fim da escala 6×1, o aumento de 100% do salário mínimo, a luta pela moradia digna e a garantia de alimento barato e de qualidade para o nosso povo.