O jornal A Verdade reproduz na integra a nota do movimento de mulheres Olga Benario denunciando a crescente escalada de violência contra as mulheres no estado.
Coordenação Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario em Pernambuco
MULHERES- Segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o primeiro semestre de 2025 foi marcado pelo aumento dos casos de feminicídio em relação ao ano anterior. Já quase ao final do segundo semestre, período em que esta nota é redigida, o estado se encontra em um cenário alarmante, onde diariamente são noticiadas vidas de mulheres ceifadas. Seja pela negligência da saúde, como no caso de Paloma, seja pela violência de gênero, como no caso da menina Alicia, as mulheres em Pernambuco seguem impedidas de viver plenamente.
Somos mortas, perseguidas, desacreditadas e lançadas à própria sorte por um sistema que deveria nos proteger. Quando buscamos atendimento ou socorro, somos julgadas, desmentidas e, em casos extremos, violentadas até mesmo por quem veste a farda do Estado.
Como é o triste e revoltante caso da moradora do Cabo de Santo Agostinho, de 48 anos, que foi estuprada por um Agente do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) dentro de um posto policial no último final de semana. A vítima estava na presença de suas filhas e foi abordada a caminho da praia de Gaibu pelo estuprador de plantão. Ele alegou que o veículo possuía dívidas e a enganou até o local da violência no posto policial.
Após três dias da ocorrência, a Polícia Militar de Pernambuco não havia afastado nem identificado o policial. Somente em 14 de outubro, após a repercussão na mídia e a pressão dos movimentos feministas, o Secretário de Segurança Pública afirmou à imprensa que o acusado havia sido afastado. No entanto, a defesa da vítima, Maria Júlia Leonel, informou que até o momento essa informação não consta oficialmente no inquérito e que não foram revelados os nomes dos policiais que estavam de plantão.
Até o momento, a governadora Raquel Lyra (PSD) não comentou sobre a denúncia nos perfis oficiais. Esse caso não é isolado. É o retrato da realidade das mulheres pernambucanas, atravessadas pela má gestão das políticas públicas de proteção e atenção às vítimas de violência. Em todo o estado, existem apenas 30 Centros de Referência de Atendimento à Mulher e 15 Delegacias da Mulher, sendo somente cinco funcionando 24 horas em um estado com 185 municípios.
Todos os dias somos bombardeadas por notícias que mais uma de nós sofreu nas mãos do patriarcado sustentado pelo capitalismo. Estamos cansadas e queremos uma transformação. Queremos um basta na violência contra as mulheres e meninas. Não precisamos de compaixão do estado burguês ou notas de repúdio. Precisamos de ações, precisamos tomar as ruas e exigir uma sociedade em que não tenhamos medo de deixar nossas casas. Merecemos um trabalho digno, estudar e ter lazer sem uma vigilância constante, até contra as autoridades policiais.
É por Alícia, Paloma e todas as mulheres. Chega de violência! Basta ao feminicídio e ao fascismo! O Movimento de Mulheres Olga Benario reafirma a importância da organização e da luta coletiva das mulheres como instrumento fundamental para enfrentar essas violências. Somos nós, mulheres trabalhadoras, que lutamos pelo direito à moradia, pelo acesso à saúde, pela existência de centros de referência que acolham e atendam mulheres vítimas de violência com dignidade e especialização.
Lutamos também pela organização das mulheres em seus territórios, para que nenhuma de nós esteja sozinha diante da opressão e da exploração. Seguiremos firmes, construindo nas ruas, nas ocupações e nos espaços populares a resistência das mulheres que não aceitam mais morrer, calar ou recuar.