Em pleno Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização e combate à violência contra a mulher, a Bahia foi palco de uma sequência de feminicídios.
Coordenação do Movimento Olga Benario (BA)
MULHERES – No último mês, em pleno Agosto Lilás, feminicídios brutais ocorridos na Bahia ganharam repercussão nacional. Alexsandra Oliveira (45 anos), Maria Helena Bastos (41 anos) – ambas professoras da rede pública – e Mariana Bastos (20 anos), filha de Helena, saíram juntas para passear com o cachorro em uma praia turística de Ilhéus (BA) e foram encontradas mortas com facadas pelo corpo. Quatro dias depois desse triplo feminicídio, outra mulher foi vítima, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador: Laina Santana (37 anos) foi assassinada a marretadas pelo marido na frente das filhas de 5 e 12 anos. Na Bahia, desde janeiro deste ano, já foram 63 casos de feminicídios registrados.
O Governo Federal estabeleceu a campanha Agosto Lilás, na qual atividades de conscientização e combate à violência contra as mulheres são promovidas, em referência à Lei Maria da Penha (Lei Federal nº 11.340/ 2006), que foi sancionada em agosto de 2006. Essa lei, no entanto, ainda está longe de ser aplicada pelos governos de forma integral e de acordo com a urgência apresentada diante da violência alarmante contra as mulheres. O Brasil é o quinto país no mundo mais violento para as mulheres.
O crescimento da violência contra a mulher também tem se expressado dentro das universidades baianas, que sequer contam com um espaço de recepção, acolhimento e atendimento psicossocial a todas as mulheres da comunidade universitária que tenham sofrido qualquer tipo de violência.
Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Movimento de Mulheres Olga Benario constrói, junto com estudantes independentes, a Frente Feminista, que tem sido procurada por diversas alunas em situação de violência física, psicológica, sofrendo ameaças por ex-parceiros, mesmo com medida protetiva. Elas ainda são obrigadas a conviverem com seus ex-parceiros agressores dentro do ambiente acadêmico, que até pouco tempo não tinha qualquer equipamento para garantir a segurança dessas estudantes. Hoje em dia, graças à pressão da Frente Feminista, a equipe de segurança da UFBA passou a mapear e acompanhar os trajetos das estudantes para fazer valer a medida protetiva dentro do espaço universitário.
Não à toa, a Bahia é o terceiro estado do nosso país que mais assassina e violenta mulheres, aponta o Atlas da Violência do Ipea. Com 417 cidades, a Bahia conta com apenas 15 delegacias da mulher (DEAM) em todo o estado. Segundo o Portal Transparência do Governo Estadual, o orçamento de 2025 destinado à Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) é de R$ 35 milhões. Enquanto isso, só para a Polícia Militar, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) aprovou um orçamento de R$ 4 bilhões, ou seja, 115 vezes maior do que para o investimento em políticas públicas e aparelhos que poderiam prevenir a violência e salvar a vida de milhares de mulheres.
Além do mais, não bastasse enfrentar a violência machista, são as mulheres, mães, negras e periféricas que choram a morte de seus filhos assassinados pela Polícia no estado onde a PM é a mais letal do Brasil: em média, cinco pessoas por dia são assassinadas, sendo 97% pessoas negras e 60% jovens.
A crescente onda de feminicídios brutais e o aumento da violência contra as mulheres é expressão direta do aprofundamento da crise geral do capitalismo e o avanço do fascismo. Feminicídios ainda matam quatro mulheres por dia no país. Somado a isso, o Brasil registrou mais de 71 mil estupros de mulheres em 2024 – o equivalente a 196 casos por dia.
Em meio à luta contra a violência, a fome, por emprego, moradia e melhores salários, cresce o sentimento de repúdio ao capitalismo e o desejo de mudança não só nas mulheres, mas em toda a classe trabalhadora. Essa sociedade não nos serve porque lucra com nossa miséria e morte.
Por isso, nós, do Movimento de Mulheres Olga Benario, fazemos de todos os dias, dias de luta pela verdadeira libertação das mulheres. Já são mais de 30 ocupações de mulheres realizadas para denunciar a violência machista e acolher as vítimas.
Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade