Apesar do alto IDH das cidades do ABC paulista, o número de feminicídios e a violência contra as mulheres tem aumentado devido ao descaso das prefeituras da região
Isabella Catarina | Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus
MULHERES – A região do ABC Paulista é uma das mais ricas do estado de São Paulo e do Brasil. A história da região faz parte da história colonial do Brasil, devido sua proximidade à cidades importantes para a exploração das riquezas como Santos e São Vicente, o que desde o início fez ampliar a economia da região.
Com o passar dos anos, o ABC Paulista foi se consolidando como um gigantesco polo fabril, possuindo filiais de multinacionais como Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Bridgestone e Ford. Todo esse processo contribuiu para o enriquecimento e povoamento das cidades, fruto do trabalho de milhares de homens e mulheres.
As sete cidades que compõem a região apoiam-se em dados estipulados pela burguesia como padrões para medir a qualidade de vida, em especial o IDH, liderado nacionalmente pela cidade de São Caetano do Sul.
Entretanto, mesmo com a manipulação de dados e as políticas de higienismo características das prefeituras das principais cidades (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), não é possível esconder o avanço da violência contra mulheres e crianças na região.
Violência contra a mulher
Apenas no ano de 2025, 7 mulheres foram vítimas de feminicídio no ABC. Santo André lidera o ranking, com 4 feminicídios. Mauá, São Bernardo e Diadema contam com um feminicídio cada.
Sabe-se ainda que os equipamentos públicos de acolhimento às mulheres em situação de violência são completamente insuficientes, já que a região conta apenas com uma Casa Abrigo, alvo de desmontes constantes, e nenhuma Delegacia da Mulher 24 horas e Casa de Passagem.
A situação fica muito pior quando trata-se da violência contra vulneráveis. Pode-se considerar que o ciclo violento inicia desde o momento em que as crianças ficam em estado de subnutrição, já que em 2023, 37% das crianças menores de 5 anos passavam fome.
As merendas oferecidas pelas escolas e creches públicas são fora dos padrões nutricionais estipulados para um bom desenvolvimento infantil, e as creches não possuem nem mesmo insumos básicos para higiene. Situações como essa geram casos como o da criança de 5 anos morta após ser atingida por um tronco de árvore na creche em São Bernardo, após a prefeitura recusar-se a fazer a poda preventiva, seguem sendo relativizados pelas prefeituras.
A violência sexual também é alarmante. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o crime de estupro de vulnerável cresceu 10,42% no ABC, comparado ao mesmo período do ano passado. Apenas em São Caetano – a cidade com maior IDH no Brasil, o número de casos cresceu 50%, com 15 casos, existindo ainda uma investigação de um estupro dentro de uma creche.
Em Santo André, o aumento foi de 45,4%, e em Mauá 17,7%. Há de se considerar ainda a enorme subnotificação, principalmente por tratarem-se de menores de idade, que muitas vezes não compreendem a violência e contam apenas com os órgãos dos Conselhos Tutelares como meio de denúncia.

Descaso das prefeituras
É inadmissível que diante de tamanho avanço da violência as prefeituras mantenham-se caladas. Calar-se diante da violência contra mulheres e crianças é colaborar para que os números aumentem.
Mas não é de se surpreender que as prefeituras nada façam sobre essas problemáticas, como é o caso da prefeitura de Gilvan (PSDB) em Santo André, que se contentou em pintar uma faixa de pedestres foi pintada de rosa em “homenagem” às mulheres no dia 8 de março.
O desmonte dos equipamentos públicos é um plano meticulosamente articulado. O CAPS Infanto-Juvenil de São Caetano está com agenda lotada e a prefeitura altera a composição do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente mediante portaria, o que é ilegal, apenas em benefício próprio.
Jornais e portais de notícia da burguesia, fantoches das prefeituras de direita preocupam-se mais em inventar mentiras sobre as ocupações de mulheres, que salvam as vidas que as prefeituras ignoram, do que em denunciar essa situação alarmante e violenta, à exemplo da perseguição política às coordenadoras da Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano.
Vereadores das cidades preferem propor projetos inconstitucionais, como o de proibir que qualquer servidor público da cidade fale a palavra aborto, como foi proposto pelo fascista Márcio Colombo (PSDB/Santo André e membro do MBL) do que propor medidas de enfrentamento à violência, um dos fatores principais para o serviço de abortamento ser uma questão de saúde pública.
A realidade é que tanto as mulheres quanto as crianças são vistas como inferiores na sociedade do lucro e da exploração. Não existe uma preocupação por parte dos burgueses e políticos corruptos com o futuro da humanidade, estes preferem ver seus bolsos cheios de dinheiro roubado do povo.
A solução para a violência é a organização popular para a construção de uma sociedade completamente nova, que vê as mulheres como fundamentais para a transformação de tudo que é velho e caduco em novo e justo. Que vê as crianças como aqueles e aquelas que vão viver numa sociedade verdadeiramente livre, a sociedade socialista.