Indígenas ocupam espaço da COP30 para denunciar exploração da natureza pelo capitalismo e também exigir diálogo por parte dos governos.
Ronni Souza e Belle Leite | Redação PA
BRASIL – Pela primeira vez na Conferência das Partes (COP30), manifestantes conseguem adentrar a Zona Azul, área restrita aos grandes empresários capitalistas e a alta cúpula dos governos, denunciando uma Conferência que segrega povos, comunidades e organizações populares. A ação aconteceu nesta terça (11/11), durante a Marcha pela Saúde e Clima, construída por movimentos sociais e organizações ligadas à saúde, além de povos indígenas.
A Conferência das Partes é um evento essencialmente excludente, que fecha os olhos às demandas do povo e negocia os recursos naturais conforme o interesse da grande burguesia. Durante a COP, líderes mundiais e grandes empresários se reúnem para planejar as ações relacionadas às mudanças climáticas. Pelo menos é isso que se diz deste evento. Na verdade, o encontro dos signatários da Convenção Sobre Mudança do Clima é realizado para negociar o meio ambiente e os recursos naturais ao bel prazer do grande capital.
Nesse sentido, a ação dos indígenas reverbera a indignação popular diante de um evento que, em Belém do Pará, cidade sede, só trouxe melhorias para as áreas nobres e privilegiou os interesses da especulação imobiliária. Enquanto isso, a cidade possui uma das maiores favelas de palafitas do mundo, a Vila da Barca, com mais de 7 mil pessoas morando em cima da Baía do Guajará, mas sem acesso a saneamento básico e água de qualidade.
No mundo todo, povos e comunidades tradicionais são alijados do debate político e social sobre as mudanças climáticas, mesmo que sejam diretamente afetados pelas ações desastrosas das mineradoras e do agronegócio. É preciso ouvir quem trabalha verdadeiramente para a salvação do planeta e da vida, quem vive da terra e sabe cuidar dela, para que assim possamos dar respostas reais aos problemas que enfrentamos.
Já na manhã desta quarta-feira (12/11), a Zona Azul amanheceu tomada por um grande contingente de forças de segurança, incluindo a Força Nacional. Essa movimentação demonstra o medo que a revolta popular causa nesses poderosos, que se preocupam somente com seus interesses em obter lucro e não debatem de forma consequente a pauta ambiental. Expulsar povos e organizações populares que vivem no centro do debate climático escancara as contradições da COP 30 e seus interesses escusos.
Diante da emergência climática, povos e organizações do mundo inteiro têm o direito de levantar bem alto a bandeira de luta pela construção de uma nova sociedade, na qual sejamos os protagonistas e conquistemos o poder popular,
Seminário Resistência Popular na Amazônia
No mesmo dia da Ocupação, a Unidade Popular realizou o seminário “Resistência Popular na Amazônia”, que teve como objetivo principal debater sobre o meio ambiente e denunciar as contradições do capitalismo verde e “sustentável”, em mais um espaço paralelo à COP. O evento reuniu um grande público e contou com a presença de representações de movimentos sociais e populares, além de diversas pessoas que estavam interessadas em conhecer a perspectiva da luta popular organizada em tempos de crise econômica e emergência climática.
Foram organizadas duas mesas de debate: uma sobre Capitalismo e Emergência Climática e outra sobre a importância das Mídias Populares para as lutas na Amazônia. Em cada mesa houve momentos de exposição, perguntas e intervenções do plenário, garantindo um verdadeiro ambiente de democracia popular.
Leonardo Péricles, presidente nacional da UP, ao fim de sua intervenção na primeira mesa fala sobre a necessidade dos povos e da classe trabalhadora organizada para um enfrentamento radical e revolucionário aos grandes governos e monopólios capitalistas. “Paz entre nós e guerra aos senhores. Os revolucionários e revolucionárias de verdade amam o povo e a classe trabalhadora e odeiam a exploração! Tem ódio do imperialismo! Ódio das classes dominantes!”.
A mesa ‘A importância da mídia popular para as lutas na Amazônia’ contou com a participação de Bebel (Coletivo Soberana), Adriano Wilkson (Jornalista Investigativo independente) e Bruna Freire (JAV). A mesa destacou o papel da mídia e da comunicação popular para um enfrentamento e um contraponto direto às mídias tradicionais e suas tentativas de enganar o povo. Bruna Freire fez uma exposição sobre o caráter, o papel e o poder de agitação e propaganda e organização do jornal A verdade e de sua imprensa popular e revolucionária.
Estamos vendo em Belém do Pará muito mais do que as farsas dos governos e das grandes corporações capitalistas, aqui estamos podendo constatar a indignação crescente dos povos e da classe trabalhadora, indignação que está sendo expressada em poder popular e organizativo.
A COP30 acirra as contradições entre o modo de produção capitalista e os povos do mundo inteiro. A mensagem é clara, esse sistema não tem mais nada a oferecer para a sociedade e para a história, a saída para os problemas sociais e para a crise climática e ecológica que estamos enfrentando está no povo organizado e na construção de uma sociedade radicalmente diferente desta. A sociedade socialista.