Estudantes ocupam sala na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em jornada de luta pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. Walkiria Afonso Costa, presente!
Lua Plaza, Paula Dornelas | Belo Horizonte – MG
MULHERES – No dia 25 de novembro, dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conjunto com o Movimento de Mulheres Olga Benario e o Movimento Correnteza, ocuparam uma sala no Campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte. A ação denuncia a falta de políticas efetivas de combate e enfrentamento à violência na universidade, bem como reivindica a criação de espaços de acolhimento para mulheres vítimas de violência nos campi, com acompanhamento técnico qualificado.
Além da exigência à universidade, a ocupação se dá em um dos espaços mais masculinizados da universidade, o Instituto de Ciências Exatas — ICEX, denunciando também o machismo presente, que se reproduz de forma estrutural. Também nesse prédio, há quase 1 ano, a diretoria mantém a sala do Diretório Acadêmico fechada, sob a premissa de ‘diminuir espaços de insegurança’, depois de abafar um caso grave de violência ocorrido nesse mesmo espaço, como aponta Manifesto produzido pelo Movimento para apresentar as reivindicações da Ocupação.
Organização e mobilização
Diante deste cenário, ao longo do ano, o Movimento de Mulheres Olga Benario iniciou a campanha “Queremos estudar sem medo”, denunciando os casos de assédio e a inércia da instituição, além de organizar as estudantes para lutar por mais direitos na UFMG.
A primeira ação foi a criação de um formulário sobre a percepção da segurança das mulheres que utilizam nos campi, divulgado pelas redes sociais, com cartazes e lambes nos prédios das faculdades. Com essa pesquisa preliminar, o movimento Olga conseguiu averiguar que 80% das mulheres — estudantes, trabalhadoras ou transeuntes — que frequentam os campi, não se sentem seguras, ou se sentem apenas parcialmente seguras nos espaços da UFMG. Além disso, 56% dessas mulheres já sofreram assédio nos campi, e apenas 16,5% denunciaram a violência sofrida.
O núcleo do Movimento Olga também produziu o “Manual da Caloura na Luta Contra o Assédio”, que ensina o passo-a-passo de como denunciar na Universidade através do canal da Ouvidoria ou acionando outros equipamentos, como delegacias especializadas no atendimento à mulher.

A partir desse contato cotidiano com as mulheres nos campi, militantes do movimento Olga receberam inúmeras denúncias de casos de assédio, que foram encaminhadas para o acolhimento técnico voluntário da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, uma ocupação também construída pelo Movimento Olga, que acolhe mulheres em situação de violência em Belo Horizonte desde 2016.
Como resultado da organização coletiva, em 25 de novembro de 2025, o movimento inaugurou sua ocupação, apresentando uma lista de reivindicações. Entre elas estão: criação de um espaço institucional de acolhimento para mulheres vítimas de violência de gênero, reabertura da sala do DA, criação de uma política de ocupação dos campi.
Ocupar os campi por uma universidade mais segura
A UFMG tem investido cada vez mais em estratégias de isolamento dos seus campi, com a instalação ostensiva de catracas, a proibição de eventos recreativos propostos pelas entidades estudantis e até mesmo eventos construídos por movimentos sociais são muitas vezes censurados pela instituição.
Ao contrário do que se pode imaginar, impedir a circulação de pessoas nos campi não aumenta a segurança daqueles que precisam frequentá-lo: pelo contrário, cria espaços ermos e, no caso da UFMG, escuros e isolados, onde as pessoas estão mais sujeitas a violência, já a circulação livre e estimulada de pessoas nos espaços públicos é um mecanismo de vigilância natural e prevenção.

Walkiria Afonso Costa, presente!
A ocupação carrega o nome de Walkiria Afonso Costa, estudante de pedagogia da UFMG, lutadora popular e guerrilheira no Araguaia durante a ditadura militar. Sua história de resistência é inspiração para a luta!
Leia o Manifesto na íntegra clicando aqui.