A instalação do colossal Data Center da ByteDance/TikTok em Caucaia, Ceará, não é o progresso que a propaganda dos governos e da burguesia tenta vender. Enquanto a população de Caucaia sofre com a falta de saneamento básico e água encanada, o data center planeja consumir diariamente a energia equivalente a 2,2 milhões de brasileiros.
João Victor Temoteo e Vitória Barbosa | CE
LUTA POPULAR – A instalação do colossal Data Center da ByteDance/TikTok em Caucaia, Ceará, não é o progresso que a propaganda dos governos e da burguesia tenta vender. Pelo contrário, o projeto é a face mais moderna e cruel do imperialismo, um estudo de caso de como o Brasil está sendo rebaixado à condição de “plantação digital”, um território pilhado para fornecer recursos baratos a uma potência estrangeira. A análise dos fatos revela um novo ciclo de dependência e exploração, onde o recurso extraído não é mais o pau-brasil ou o ouro, mas a própria soberania nacional, nossa energia e nossos dados.
Enquanto a população de Caucaia sofre com a falta de saneamento básico e água encanada, o data center planeja consumir diariamente a energia equivalente a 2,2 milhões de brasileiros. Trata-se de um enclave digital, uma zona de alta tecnologia orientada para o exterior que, na prática, funciona para aprofundar a divisão internacional do trabalho e a nossa subordinação.
“Colonialismo Verde”: A Pilhagem da Energia Limpa do Povo
A história do Brasil é marcada por ciclos de exploração que enriqueceram metrópoles estrangeiras e nos deixaram um legado de dependência. O que vemos hoje é um novo ciclo extrativista: o dos dados. O chamado “colonialismo de dados” é a forma moderna de colonização, onde Big Techs se apropriam de informações em escala global. Nesse esquema, o Brasil cumpre o papel histórico de fornecer a matéria-prima: nossa terra, nossa água e, principalmente, nossa energia.
A narrativa de que o data center usará “100% de energia renovável” esconde uma lógica perversa. Pressionadas a limpar sua imagem, as gigantes de tecnologia exploram a matriz energética limpa do Brasil para “lavar” (greenwash) suas operações massivas de Inteligência Artificial. O que acontece é um “colonialismo verde”: o Brasil se torna o local ideal para terceirizar a pegada ambiental dessas empresas. Nossas vantagens naturais são usadas para subsidiar o avanço tecnológico chinês, enquanto os custos sociais e ambientais – como os conflitos por terra e a poluição sonora das turbinas eólicas – são pagos pelas nossas comunidades. Na prática, o recurso extraído é a própria “sustentabilidade” da nossa matriz energética.
Caucaia, a “Zona de Sacrifício” do Capital Estrangeiro
O impacto do projeto transforma Caucaia em uma “zona de sacrifício”, onde o bem-estar da comunidade é esmagado pelos interesses do capital global. A realidade do município, longe de ser um polo tecnológico, é de carência estrutural. Dados oficiais mostram que apenas 39,63% do esgoto é coletado e quase 10% das famílias não têm acesso a água encanada. Em uma região semiárida com histórico de secas, a apropriação de recursos hídricos e energéticos por uma corporação estrangeira configura um profundo conflito de classe.
A promessa de empregos, pilar da propaganda oficial, é uma ilusão. Acenam com
15.000 vagas temporárias e precárias na construção civil, mas admitem que, na fase de operação, restarão apenas 500 postos permanentes e altamente especializados, para os quais a classe trabalhadora local não está preparada. Este modelo reforça a estratificação social e, com um investimento de R$55 bilhões, irá gerar uma violenta especulação imobiliária, elevando o custo de vida e expulsando os mais pobres de suas casas.
O Estado a Serviço dos Patrões Estrangeiros
Essa exploração só é possível com a participação ativa do Estado brasileiro, que age como um “comprador”, um gerente dos interesses do capital global em vez de defender a nação. Uma complexa arquitetura de leis foi montada para entregar nossa riqueza de bandeja.
- Nível Federal: A Medida Provisória nº 1.307/2025 e o programa Redata permitem que o data center opere em uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), com isenções massivas de impostos.
- Nível Estadual: A Lei N°17.755/2021 autorizou o Governo do Ceará a doar terras públicas para o polo industrial que abrigará o projeto.
- Nível Municipal: A Lei 3391/2021 de Caucaia estabeleceu programas de incentivos fiscais para atrair justamente este tipo de empresa.
Para piorar, a licença ambiental foi manipulada para evitar o debate democrático. Apesar do impacto monumental, o projeto foi classificado como de “baixo impacto ambiental”, manobra política que permitiu à empresa apresentar apenas um relatório simplificado, contornando a necessidade de estudos mais rigorosos e, crucialmente, de audiências públicas , silenciando as comunidades afetadas.
A Unidade Popular se Levanta!
Mas o povo trabalhador não aceita a exploração, calado. A vanguarda desta luta é o povo indígena Anacé, cujo território ancestral é diretamente ameaçado. Denunciando a violação do seu direito à consulta prévia, garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) , as lideranças afirmam que “em nenhum momento, o povo Anacé foi consultado”. Sua resistência se materializou em marchas e na corajosa ocupação da sede da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), exigindo a suspensão do licenciamento. A essa luta se somam organizações políticas classistas.
O partido Unidade Popular Pelo Socialismo (UP), que possui um histórico de trabalho de base na região, se opõe frontalmente ao projeto, enxergando-o como parte da ofensiva imperialista. O programa da UP, que defende a nacionalização dos setores estratégicos, oferece um contraponto direto ao modelo imperialista da ByteDance. forma-se uma coalizão de resistência em defesa do território e da soberania nacional. A luta em Caucaia é uma batalha pelo direito de decidir o próprio futuro. É um chamado para que o Brasil deixe de ser uma passiva plantação digital e se torne arquiteto de uma sociedade socialista soberana!