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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Trabalhadoras da enfermagem da Unifesp deflagram greve

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Trabalhadoras da enfermagem do Hospital São Paulo decidira entrar em greve a partir do dia 10 de novembro, denunciando demissões em massa, sobrecarga, condições insalubres e omissão da SPDM e da Unifesp

Anni Lei, Laura Maria* | São Paulo (SP)


TRABALHADOR UNIDO — Depois de meses de denúncias e tentativas de negociação frustradas, os trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Hospital São Paulo (HSP) deflagraram greve a partir do dia 10 de novembro de 2025. A decisão foi tomada por unanimidade em assembleia, diante da deterioração das condições de trabalho, da falta de pessoal e da omissão da administração diante dos problemas graves enfrentados pelos profissionais.

Nos últimos meses, a SPDM (Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), organização  social de saúde também responsável pela gestão do hospital, não cumpriu o acordo firmado na última greve local, que previa a reposição do quadro de funcionários. O resultado tem sido sobrecarga extrema, jornadas extenuantes e risco crescente à segurança de trabalhadores e pacientes.

“A falta de reposição adequada da equipe tem gerado condições de trabalho inseguras e insalubres”, denuncia o sindicato dos trabalhadores da Unifesp em carta aberta publicada no dia 27 de outubro. “Nosso compromisso sempre foi com o cuidado e o bem-estar dos pacientes, mas a situação chegou a um ponto insustentável”.

Além da redução drástica do número de profissionais, os trabalhadores também denunciam infestação de pragas, relatam o aparecimento de escorpiões, baratas e ratos, comprometendo a higiene do ambiente hospitalar. A ausência de uma fiscalização efetiva do Coren/SP, que tem se mostrado omisso diante das irregularidades, agrava ainda mais a crise.

Hospital público sob ataque

O Hospital São Paulo, referência nacional em média e alta complexidade, sofre há anos com a privatização disfarçada imposta pela parceria entre a Unifesp e a SPDM. Sob o discurso da “gestão eficiente”, essa política tem servido apenas para transformar um hospital público em um campo de exploração, onde o lucro e o corte de custos valem mais do que a vida.

Joana**, uma enfermeira do hospital desabafa: “Não descansamos desde a pandemia e, de lá pra cá, só piorou. Não tenho nem palavras pra descrever como piorou”.

Por trás desse processo está o modelo das chamadas Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades privadas que recebem dinheiro público para administrar hospitais e unidades do SUS. Na prática, elas funcionam como empresas que lucram com a gestão pública, contratando profissionais sem concurso, impondo jornadas desumanas e promovendo demissões em massa.

Apresentadas como solução “moderna” e “eficiente”, as OSS são, na verdade, instrumentos de privatização e precarização, que desviam recursos do SUS e enfraquecem o controle social sobre a saúde (veja edição 324 do Jornal a Verdade). Com isso, o Estado se retira de sua responsabilidade constitucional e entrega o destino dos hospitais a grupos privados, comprometendo a qualidade do atendimento e a dignidade dos trabalhadores.

Desde 2022, mais de trezentos trabalhadores foram demitidos em poucos meses, e os que permaneceram enfrentam assédio, sobrecarga e desvalorização. O piso da enfermagem, conquistado com muita luta, segue sendo descumprido. Muitos profissionais chegam a emendar plantões de 12 horas sem intervalo adequado, o que compromete não apenas sua saúde, mas também a qualidade da assistência prestada.

As reivindicações desta greve são claras: a contratação imediata de novos profissionais, o cumprimento dos acordos prévios, condições dignas e seguras de trabalho e o respeito à saúde.

As trabalhadoras e trabalhadores podem ir além

As greves são instrumento de formação e luta para a organização das categorias, pois ensinam que,  unidos, os explorados podem ter nas mãos as decisões sobre seus direitos.

Contudo, ainda que as lutas reivindicatórias imediatas sejam importantes, é preciso ter em mente que isto é insuficiente e que, apesar das tentativas de desmobilização através de ameaças de represálias, a classe trabalhadora deve ir à luta rumo à transformação das relações de produção e trabalho a fim de construir uma nova sociedade.

*Enfermeiras do Núcleo Olga Unifesp/Saúde

**Nome fictício

 

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3 COMENTÁRIOS

  1. Boa somos funcionários da radiologia do hospital das clínicas da faculdade de medicina da USP, estamos com um problema salário de mais de 11 anos.
    Sendo que agora temos um processo transitado e julgado, mas o HC não nos dá o direito de receber.
    Vocês poderiam fazer uma matéria pra tentar nos ajudar e demonstrar que este governo estadual quer cada vez mais acabar com o funcionalismo público.

  2. A enfermagem sempre foi sinônimo de cuidado, empatia e coragem. Somos a base silenciosa que sustenta o sistema de saúde aquele mesmo sistema que só funciona porque existe uma equipe de enfermagem presente, dia e noite, cuidando, acolhendo e salvando vidas.
    Mesmo na pandemia, quando o mundo inteiro reconheceu o valor do nosso trabalho, o reconhecimento ficou apenas nos aplausos das janelas. Quando o tempo passou, o que restou foi o mesmo cenário de sempre: sobrecarga, desvalorização e salários que não refletem nem de longe o peso da nossa responsabilidade.
    Hoje, ao ver profissionais da Unifesp e de tantos outros serviços tendo que cruzar os braços para serem ouvidos, sentimos indignação mas também orgulho. Orgulho por fazer parte de uma categoria que não se cala, que luta não só por melhores condições de trabalho, mas também pela dignidade que a profissão merece.
    A enfermagem não pede aplausos. Pede respeito. Pede condições para exercer com segurança e humanidade o trabalho que é essencial em todas as fases da vida.
    Enquanto o cuidado existir, a enfermagem resistirá.
    Porque cuidar é um ato de amor, mas lutar é um ato de justiça.

    Rogério Marcondes/ Enfermeiro

  3. A enfermagem sempre foi sinônimo de cuidado, empatia e coragem. Somos a base silenciosa que sustenta o sistema de saúde aquele mesmo sistema que só funciona porque existe uma equipe de enfermagem presente, dia e noite, cuidando, acolhendo e salvando vidas.
    Mesmo na pandemia, quando o mundo inteiro reconheceu o valor do nosso trabalho, o reconhecimento ficou apenas nos aplausos das janelas. Quando o tempo passou, o que restou foi o mesmo cenário de sempre: sobrecarga, desvalorização e salários que não refletem nem de longe o peso da nossa responsabilidade.
    Hoje, ao ver profissionais da Unifesp e de tantos outros serviços tendo que cruzar os braços para serem ouvidos, sentimos indignação ,mas também orgulho. Orgulho por fazer parte de uma categoria que não se cala, que luta não só por melhores condições de trabalho, mas também pela dignidade que a profissão merece.
    A enfermagem não pede aplausos. Pede respeito. Pede condições para exercer com segurança e humanidade o trabalho que é essencial em todas as fases da vida.
    Enquanto o cuidado existir, a enfermagem resistirá.
    Porque cuidar é um ato de amor, mas lutar é um ato de justiça.

    MARCONDES,R / ENFERMEIRO

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