Ato em Vitória reuniu mulheres contra o feminicídio, em defesa da vida e pela mudança do nome da Av. Dante Michelini. Não esqueceremos Rayana Bittencourt, Graziela Ramos, Íris Rocha e Araceli Cabrera Crespo — mulheres e meninas seguem vivas em nossa memória e luta
Ana Thompson | Vila Velha – ES
No dia 7 de dezembro de 2025 (domingo), a avenida em Vitória/ES de nome criminoso, Av. Dante Michelini, encontrava-se em estado gritante de revolta.
Coletivamente, o Movimento de Mulheres Olga Benário ES construiu, no estado capixaba, esse momento de luta nacional pela defesa da vida das mulheres e pela reivindicação do fim do feminicídio.
Atualmente, o Espírito Santo é o 6º estado do Brasil que mais mata mulheres por serem mulheres e apresenta uma média de casos de feminicídio superior à média nacional, segundo o Mapa da Segurança Pública 2025. Ainda segundo a Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (SESP-ES), foram registrados 32 casos de feminicídio e 80 tentativas de feminicídio em 2025, totalizando 112 mulheres atacadas com intenção de morte apenas por serem mulheres, sem contar a subnotificação das tentativas.
O SESP-ES também aponta que a esmagadora maioria dos episódios ocorre no interior das residências, tendo como agressor o companheiro atual ou ex-companheiro. A análise de outros dados da mesma fonte revela ainda que essa realidade é ainda mais expressiva quando se trata da vida de mulheres negras (pretas e pardas), que correspondem a aproximadamente 7 em cada 10 das 112 citadas. Isso evidencia que as mais atravessadas por esse tipo de violência são mulheres negras, em suas próprias casas, atacadas por homens que faziam parte íntima de seus cotidianos.
Infelizmente, podemos citar diversos casos, como o de Rayana Bittencourt, morta a facadas dentro de casa pelo namorado; o crime ocorreu na frente de seus filhos, sendo um deles com menos de 10 anos. Graziela Gomes, morta a facadas por se recusar a emprestar o celular ao marido; quando preso, o homem ainda afirmou que não queria que Graziela saísse de casa. Íris Rocha, assassinada a tiros pelo ex-namorado quando estava grávida de oito meses; o nome do bebê seria Rebeca. Araceli Cabrera Crespo, uma menina de oito anos que voltava da escola em 18 de maio de 1973, foi sequestrada, violentada e assassinada; o principal suspeito do caso era Dante Michelini, um ricaço que dá nome a uma importante avenida da capital capixaba.
Esse ciclo brutal de violência não começou com Araceli, não terminou com Rayana e não terminará enquanto não houver a superação do patriarcado e do capitalismo, sistemas irmãos que assassinam diariamente, de forma estrutural, mulheres e meninas da classe trabalhadora.
Com esse norte em mente, o Movimento de Mulheres Olga Benário esteve nas ruas reivindicando o fim do racismo, do capitalismo e do patriarcado, que impulsionam essa cultura de extermínio brutal e generalizado de mulheres e meninas. Nesse contexto, várias mulheres abriram mão de seu único dia de “descanso” na semana e marcharam pela Av. Dante Michelini, partindo do ponto de encontro no Jardim Araceli, um consolo vergonhoso construído pelo Estado há alguns anos em memória ao hediondo crime.
Juntas, exigimos a mudança do nome da avenida para Av. Araceli Cabrera Crespo, o fim do feminicídio e a verdadeira libertação feminina.
Nesse sentido, lutamos pelo fim do ciclo interminável de exploração e sobrecarga. Lutamos pelo direito ao descanso. Lutamos contra um sistema que nos extorque até a alma. Lutamos por uma sociedade na qual não sejamos descartáveis. Lutamos por um mundo em que nossas filhas possam crescer com saúde e segurança. Lutamos pelos sonhos daquelas que já se foram e pela possibilidade de a nova geração de meninas sonhar. Lutamos por condições dignas para a reprodução da vida. Lutamos para que nossas vozes sejam ouvidas. Lutamos para que sejamos livres e, sobretudo, para que continuemos vivas.
O dia 7 de dezembro de 2025 foi importante, mas a luta não terminou ali. O Movimento Olga e a Rede Araceli de Enfrentamento à Violência contra Mulheres e Meninas seguirão pleiteando a libertação e a emancipação feminina e trabalhadora.
Rayana, Graziela, Íris e Araceli estão presentes!