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domingo, 24 de novembro de 2024

“Pagar por software é um crime contra a humanidade”

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Tux, mascote do LinuxO desenvolvimento da computação e das tecnologias da informação atingiu tal proporção nas últimas décadas que os softwares estão hoje praticamente em todo lugar. Não só quando ligamos o computador, digitamos um texto ou navegamos pela internet estamos utilizando diversos softwares ao mesmo tempo, mas até ao atender uma ligação no mais simples telefone celular estamos utilizando um programa. Os softwares dão “vida inteligente” a dispositivos que, sem eles, seriam pouco mais que um limitado aglomerado de placas e circuitos.

No entanto, como tudo mais numa sociedade capitalista, os softwares não pertencem aos trabalhadores que os desenvolvem, mas apenas aos capitalistas que empregam esses trabalhadores – o que Karl Marx definiu como alienação do trabalho.

Os softwares assim produzidos, chamados softwares proprietários, representam um grande desperdício de esforços ao multiplicar trabalhos isolados que tem a mesma finalidade, pois as empresas não compartilham seu código-fonte (1) com a sociedade e com isso não propiciam a troca de informações e conhecimento – uma consequência da anarquia da produção capitalista. Isso mostra que o capitalismo é hoje um grande entrave ao desenvolvimento tecnológico, o qual se encontra ainda muito aquém do que já seria possível avançar, não obstante a difundida ilusão de que justamente neste aspecto residiria uma das provas do seu sucesso.

Por isso, ainda em 1983, o estadunidense Richard Stallman, partindo do ponto de vista de que “pagar por software é um crime contra a humanidade”, fundou o Movimento Software Livre, um movimento social que tem por objetivo alcançar e garantir liberdades para os usuários de softwares.

Uma das mais conhecidas contribuições de integrantes do movimento foi o desenvolvimento de um sistema operacional livre hoje conhecido como GNU\Linux. Este sistema, que substitui o Windows, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer usuário ou instituição, além de ser mais seguro, mais rápido, imune a vírus e outras “pragas virtuais” típicas do sistema da Microsoft.

Por que usar software livre

Os escândalos recentes que revelaram toda a rede de espionagem dos EUA em conluio com as mega corporações de informática como Microsoft, Google, Facebook e Yahoo mostram que o objetivo dessas empresas não é dar liberdade às pessoas, mas vigiá-las. A burguesia nunca hesitará em utilizar todas as suas armas contra o povo. O seu predomínio no campo tecnológico significa que importantes informações sobre as pessoas estão em seu poder e serão utilizadas contra elas quando necessário.

Dessa feita, substituir softwares proprietários por softwares livres resulta não apenas em mais segurança, liberdade e conhecimento, mas é também uma contribuição na luta contra a “propriedade intelectual” e mitiga os efeitos da formação de monopólios no setor. Como ressalta Richard Stallman, “software livre é igual a desenvolvimento”.

É por isso que Bill Gates, ao se referir certa vez à luta do Movimento Software Livre por reformas na propriedade intelectual nos EUA, associou o movimento ao comunismo. Em uma entrevista à revista eletrônica CNET, em 2005, o bilionário afirmou: “Há um novo tipo de comunistas modernos que querem se livrar dos incentivos […] aos produtores de softwares sob vários disfarces.” Para Bill Gates, portanto, quem defende software livre é comunista.

Tux GuevaraMas o caráter progressista do software livre não é reconhecido somente por quem tem a perder com ele, como é o caso de Bill Gates. Os que têm a ganhar também já o perceberam. Quando Cuba lançou sua própria distribuição GNU\Linux, em 2009, Hector Rodriguez, diretor da Universidade de Ciências da Informação, afirmou que “o movimento de software livre está mais próximo da ideologia do povo cubano, sobretudo por sua independência e soberania”.

A versão cubana do Linux, chamada Nova, tem o objetivo de substituir o Windows nos computadores da ilha devido às falhas de segurança, à espionagem e às dificuldade de atualização do sistema da Microsoft.

Outros países não alinhados com os EUA também buscam sua independência tecnológica, como a Coreia do Norte, por exemplo, que desenvolveu sua própria distribuição GNU\Linux, chamada Red Star (Estrela Vermelha).

A Venezuela também, em 2006, emitiu um decreto para substituir todos os softwares proprietários por softwares livres nos órgãos do governo. A chamada Declaração de Caracas, documento do Primeiro Encontro da Fundação de Software Livre da América Latina, proclamou “a Liberdade de Software como um ideal comum, pelo qual todas as nações da América Latina devem se esforçar.”

Glauber Ataide é diretor do SINDADOS-MG (Sindicato dos Trabalhadores em Informática e Processamento de Dados)

Notas

1) Código-fonte é uma sequência de instruções escritas em uma linguagem computacional próxima à linguagem humana. Todo software é escrito pelos programadores neste tipo de linguagem. Sem o código-fonte não sabemos como exatamente um software foi desenvolvido.

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5 COMENTÁRIOS

  1. A diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem. tem duas gotas de verdade neste artigo que é distorcido até ficarem irreconhecíveis.

    “os softwares não pertencem aos trabalhadores que os desenvolvem, mas apenas aos capitalistas que empregam esses trabalhadores – o que Karl Marx definiu como alienação do trabalho.”

    Atualmente por meio das stores como a apple store, google play, mac store, etc, o programador individual pode desenvolver o seu produto e disponibilizá-lo para o público, chegando a receber 70% do preço total, muito mais do que quando os softwares eram vendidos em caixas nas lojas. Se vc considera que 30% é alienação do trabalho, vc não imagina na trabalheira e despesa de manter as lojas online 24/07 para o planeta inteiro acessar e baixar os produtos.

    “Uma das mais conhecidas contribuições de integrantes do movimento foi o desenvolvimento de um sistema operacional livre hoje conhecido como GNULinux. Este sistema, que substitui o Windows, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer usuário ou instituição, além de ser mais seguro, mais rápido, imune a vírus e outras “pragas virtuais” típicas do sistema da Microsoft”

    A criptografia do PGP do linux tinha fraquezas injetadas lá pela NSA que os permitia quebrar a criptografia com facilidade porque os seeds não eram verdadeiramente aleatórios. Uma vez descoberta a falha foi consertada, mas como tinha essa podem ter outras. O fato de o software ser aberto não o torna seguro, o fato de ser bem feito sim.

    “A versão cubana do Linux, chamada Nova, tem o objetivo de substituir o Windows nos computadores da ilha devido às falhas de segurança, à espionagem e às dificuldade de atualização do sistema da Microsoft.”

    Cuba usa linux por devido ao embargo todo windows por lá por definição é contrabandeado e portanto pirata. O mercado de TI em Cuba é praticamente inexistente.

    A liberdade de software deve ser defendida sim, mas com argumentos verdadeiros de que a diversidade estimula a concorrência, que traz melhor qualidade e menores preços. Um conceito capitalista básico.

    ps: sou entusiasta do SL e desenvolvedor android e FFOX

    ps2: Richard Stallman prega tanto que software não deve ser pago que o HURD já tem mais de 20 anos e nunca lançou nenhuma versão.

  2. Caro Paulo, uma crítica da sua “crítica”.

    1) Sobre o conceito de alienação do trabalho, dá pra perceber que vc não conhece o conceito em Marx. Seu exemplo da apple store, google play, etc, não tem nada a ver com o assunto, passa ao largo da questão.

    Quando o desenvolvedor faz o software e ele próprio o disponibiliza para venda isso não é alienação do trabalho (se o produto e o código-fonte continuam lhe pertencendo). Pagar uma porcentagem à loja não tem nada a ver com alienação do trabalho em Marx.

    2) “A criptografia do PGP do linux tinha fraquezas injetadas lá pela NSA…”

    O que torna o software livre mais seguro é justamente ele ser livre e suas falhas poderem ser detectadas e corrigidas pela comunidade, o que não acontece com software proprietário. Com software proprietário a falha é corrigida se o fabricante quiser e puder.

    3) “O mercado de TI em Cuba é praticamente inexistente.”

    Exatamente… e isso 1) devido ao bloqueio econômico e 2) porque NÃO HÁ “mercado” de praticamente coisa alguma em Cuba, menos ainda de T.I..

    Em sociedades capitalistas, como a produção é anárquica (e não direcionada à satisfação de necessidades humanas em primeiro lugar, mas sim ao lucro), a produção é voltada ao “mercado”, isso é, não se sabe de antemão quem precisa daquilo, se precisa e quando precisa (daí as crises de superprodução que acontecem no capitalismo). Mas em sociedades com uma economia racional e planificada, como a socialista, não há produção de mercadorias, mas sim de artigos para satisfação direta das necessidades humanas.

    E a dificuldade de atualização do Windows em Cuba é justamente porque as cópias são piratas.

    4) “A liberdade de software deve ser defendida sim, mas com argumentos verdadeiros de que a diversidade estimula a concorrência, que traz melhor qualidade e menores preços. Um conceito capitalista básico.”

    Você está dois séculos atrasado em economia, história e filosofia. O que estimula o software livre é justamente a cooperação para melhorar os produtos, não a “concorrência”. Essa concepção liberal de “concorrência” é algo muito atrasado, completamente superada.

    E que concorrência é essa em que você tem o código-fonte do seu “concorrente” e pode melhora-lo? Se isso não é cooperação, meu amigo, então não sei mais o que pode ser.

  3. 1) Você não tem honestidade intelectual. Continua falando de alienação do trabalho sem ter nem idéia do que seja isso. E ainda acha que “demonstrou” alguma coisa. Tem que se achar muito genial pra acreditar que esse tipo de conceito pega-se “no ar”, sem enfiar a cara nos livros.

    Desde quando uma store equivale a um capitalista que emprega trabalhadores? Não tem nada a ver uma coisa com a outra, não existe alienação nessa relação. E o texto nem fala disso. Aprenda a ler.

    2) Auditar o kernel do Linux? A humanidade inventou a roda só uma vez. Quando a roda se mostrar inapropriada então alguém irá “auditá-la” e reinventá-la.

    3) “No capitalismo a criação de um produto visa o lucro sim e isso não é ruim”

    Imagina, claro que isso não é ruim. Afinal de contas, veja, por exemplo, o déficit habitacional no Brasil e o grande mercado de cosméticos que temos no país, que é um dos maiores do mundo. Tudo o que o povo brasileiro precisa é de batom e esmalte!

    E isso porque creme para a pele e pó de arroz são mercadorias que dão lucro, mas moradia não é considerada nem mesmo um direito básico no “livre mercado”.

    “gostaria de saber com a sua enorme sapiência dois séculos a minha frente onde um regime socialista foi implantado com sucesso no mundo. Cuba?

    Depende do que você entende por “sucesso”. Pra mim sucesso é ter uma sociedade alfabetizada, com educação pública de qualidade, com saúde publica eficiente, sem desnutrição infantil, sem miséria e com moradia digna ** PARA TODOS **. E nisso o socialismo sempre foi vitorioso e superior ao capitalismo. Veja os índices de desenvolvimento humano em Cuba que, a despeito do bloqueio econômico, proporciona uma vida muito mais digna ao seu povo do que o restante da América Latina.

    Além disso veja a ciência na URSS. Enviou o primeiro satélite ao espaço, o primeiro ser vivo (a cadela Laika), o primeiro homem, a primeira mulher, a primeira sonda à lua, etc, etc. Isso sim é ciência.

    Agora, se o seu conceito de “sucesso” é o consumo de gadgets para iPhone e outras quinquilharias, ao mesmo tempo que mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, então o seu capitalismo é um sucesso. Parabéns, liberal!

    Agora… Afeganistão e Somália, socialistas? Sem comentários. Troque um livro de arquitetura de aplicações ou de banco de dados por uns bons livros de história e também de filosofia (este último pra te ensinar a ter senso crítico). Isso tá te fazendo falta.

    “o que te permite pegar a idéia básica e desenvolver algo melhor sem os vícios de arquitetura”

    Sem os vícios e sem as virtudes também. Ou seja, reinventar a roda, que é o seu objetivo na vida.

    Uma observação final: você quer os benefícios do software livre mas negando os princípios responsáveis por esses mesmos benefícios. Quer negar as premissas e obter a mesma conclusão. Software livre não é para capitalistas. Abandona o barco e vai desenvolver seus programas do zero.

    O Software Livre nasceu de um movimento social, de um ideal progressista e anti-capitalista. Deal with it!

  4. 1) “dramatizar um conceito banal”

    Agora você se desqualificou completamente. Dizer que a alienção, uma riquíssima categoria que Marx trouxe da filosofia hegeliana, é um “conceito banal” é um atestado de ignorância sem precedentes.

    Você citou o trecho que fala da alienação do trabalho e mesmo assim falou bobagem de novo.

    Presta atenção nisso: as stores (que você disse que são “contra-exemplos”) pertencem ao setor de DISTRIBUIÇÃO, não de PRODUÇÃO!!! Quem explora os trabalhadores são as empresas que PRODUZEM, QUE DESENVOLVEM softwares!!

    O cara que faz seu próprio software sozinho e o vende – seja lá onde for – não é explorado e não explora ninguém porque não está em RELAÇÃO DE PRODUÇÃO com ninguém!!!

    E para de mandar link de “ligeira” biografia sobre o assunto. Por que não manda um link do livro “O capital”, de Karl Marx? Já leu? Não? E tá aí tentando se passar por “sabiçhão” (SIC)?

    2) “Aí vc mostra ignorância também na área de TI”

    Você é quem mostra não conhecer a arquitetura do Linux. Nenhum sistema no mundo é 100% seguro. Mas a própria arquitetura robusta e aberta do Linux faz com que seja muito mais fácil trabalhar sua segurança do que a caixa-preta que são os sistemas operacionais proprietários.

    E dizer que o Linux é utilizado por uma fração “minúscula” é não saber que a maioria dos servidores web no mundo são Linux e que os maiores super-computadores, assim como os servidores mais seguros, operam Linux. O Linux tem poucos usuários desktop, é verdade, mas mesmo isso vem mudando. Até o número de usuários domésticos Linux vem crescendo.

    3) “Tenho como política não rebater argumentos baseados em falácias básicas”

    O cara me vem falar de “falácias” e me mostra um link desses (Papo de homem)… Sério que sua bibliografia é essa? Achei que você faria referências aos escritos lógicos de Aristóteles, dos medievais (que pelo menos nisso eram bons), Schopenhauer ou até mesmo da lógica moderna com Frege ou da filosofia da linguagem em Wittgenstein… Você quer conversar seriamente sobre lógica e falácias, então?

    Sobre a Somália e o Afeganistão, não confunda luta de libertação nacional com modo de produção socialista. A URSS apoiou a luta de libertaçao de várias colônias africanas, mas isso não as fez socialistas. E menos ainda o fato de os partidos desses países terem a sigla “socialista” ou “comunista”. Se assim fosse até o PSB no Brasil seria socialista. Até a China seria socialista hoje.

    Socialismo significa socialização dos meios de produção. Isso aconteceu na Somália e no Afeganistão? Não. Então não foram socialistas. Simples assim.

    “O Software livre nasceu de um ideal técnico muito relevante”

    Nasceu de um ideal social com viés científico. O Movimento Software Livre é um movimento SOCIAL, nunca se esqueça disso.

  5. “O conceito não é banal por ser simples, é banal por ser de conhecimento público e notório.”

    Claro, pois conceitos técnicos como esse costumam ser de conhecimento público e notório mesmo… No seu mundo…

    “Não há alienação do trabalho exatamente porque o sistema capitalista que vc tanto detesta possibilitou que estes desenvolvedores tivessem acesso aos meios de produção”

    Os pequenos artesãos já eram donos dos seus meios de produção antes do capitalismo. Essas formas são pré-capitalistas, campeão. Eu já falei que seu grande objetivo na vida é reinventar a roda, não é?

    “Quanto ao afeganistão e a sómália eu acho super divertido”

    Claro que você só pode achar divertido, afinal de contas seriedade é algo que você não é capaz de ter em discussões teóricas. E considerando suas referências bibliográficas você não tem outra opção na vida.

    Você já deixou claro que não tem a menor noção do que seja o modo de produção socialista mas mesmo assim acha que tem alguma capacidade de se pronunciar sobre o assunto. How come?

    “A URSS só durou tanto tempo por causa de fatores econômicos”

    Exatamente, por fatores da economia SOCIALISTA. Pois antes do socialismo ela tinha essas mesmas riquezas naturais que vc menciona mas era o país mais atrasado da Europa, semi-feudal, sob uma espécie de monarquia (tsarismo). E hoje, após a queda do socialismo, ela não é mais nem a sombra da potência que foi.

    Ou seja, ela só foi uma potência quando era socialista, e não por causa das riquezas naturais, pois essas estavam lá antes do socialismo e continuaram lá depois.

    “Quando eu tenho que auditar código (caixa branca) ou fazer um pentest sem acesso ao código (caixa preta) ”

    A questão não é só falhas, mas SEGURANÇA também. Avise a Dilma e ao Serpro que, para combater a espionagem, é bobagem trabalhar com software livre para implementar o Expresso V3, o e-mail de tecnologia nacional. Manda seu currículo e entra pra equipe! Fala pra eles que é só usar as ferramentas que você usa que dá pouca diferença!

    “Algumas pessoas podem até ver como um movimento social, mas é uma iniciativa técnica.”

    Estude a história do movimento. Leia os textos do Richard Stallman ao invés de dar uma opinião inventada sobre algo que não é objeto de discussão, algo que é ponto estabelecido e pacificado. O fato do movimento ter gente (alguns parecidos com vc) que não sabe o que faz lá não muda a história. Os princípios do movimento continuam os mesmos. Vê se o Stallman responde seu e-mail.

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