Após a morte do adolescente Wellington Sabino, de 20 anos, pela Polícia Militar, na favela da Mangueira, no Rio de Janeiro, um sentimento de rebelião e ódio ao Estado tomou conta dos moradores, na madrugada do dia 05 de janeiro deste ano.
Dois dias depois, a política de remoções e repressão ao povo em prol da Copa da Fifa e dos grandes empresários colocou novamente os moradores da famosa favela em enfrentamento com a Polícia. As remoções já acontecem desde que as obras do entorno do Maracanã começaram, mas esta foi a primeira vez onde foi registrada resistência à base de pau e pedra. A área do Morro da Mangueira valorizou-se muito após a implementação da Unidade de Polícia Pacificadora (que de pacífica não tem nada), e da manutenção do Complexo Maracanã, ou seja, como de praxe, pobres favelados são prejudicados pela especulação imobiliária e despejados sem sequer existir um mandado oficial para essas ações. O mesmo pretexto da expulsão dos índios da Aldeia Maracanã foi utilizado para demolições dos barracos.
O primeiro confronto entre moradores e a Polícia Militar ocorreu no dia 7, à noite, com vários detidos e feridos, inclusive crianças. Barricadas foram erguidas, coquetéis molotov e vários objetos, atirados. No dia seguinte, foi convocado um ato, onde militantes de esquerda, entidades e a mídia alternativa se uniram com o povo e compareceram em peso. A tropa de choque montou um plantão na entrada da comunidade e só começou agir quando os ativistas foram embora, deixando claro que, no pensamento deles, uma grande resistência aconteceria com todo aquele contingente disposto a lutar contra o aparato repressivo do Estado.
Moradores antigos do morro apresentaram aos advogados e jornalistas ali presentes documentos que provam a regulamentação das habitações, que, mesmo assim, foram pichadas com números que indicavam a demolição, e de fato foram implodidas. Um casal de antigos moradores entrevistado por A Verdade contou que mora há dois anos na Mangueira, antes da UPP chegar, e é tratado como invasor. Outros disseram que o secretário de Habitação do Município, Pierre Batista, prometeu pessoalmente programas como o Aluguel Social e lhes comunicou um prazo para a retirada das casas. Porém, horas depois, a PM batia na porta para expulsá-los de suas casas, embora não tinham para onde ir. Manifestantes chegam a todo instante para ocupar e resistir com os “mangueirenses”, que os recebem muito bem, oferecendo comida, café, água e serviços básicos. No dia 9, quatro casas foram removidas e houve novo confronto. A população está reagindo, se conscientizando e se organizando para garantir seus lares. A favela luta!
Igor Plácido – militante da UJR