Domingo, 9 horas da manhã. Entrada do Poupa Tempo do Shopping Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Chega o primeiro trabalhador para entrar na fila do seguro-desemprego. Sebastião é o nome dele. Não haveria nenhum problema chegar a esse horário se não fosse pelo fato de que aquela fila seria para o atendimento das 8h da manhã de segunda-feira. Ou seja, ele chegou 23 horas antes para ser atendido!
E assim seguiu o domingo. Aos poucos, mais trabalhadores foram chegando, até que às 21h chega o trabalhador de número 50, que seria o último a ser atendido no dia seguinte. Porém, a fila não parava de aumentar com mais desempregados na esperança de serem atendidos. Cadeiras, colchonetes, papelão, cobertores eram levados para diminuir um pouco que fosse o desconforto e a humilhação que aquela situação impunha àqueles trabalhadores
“Estou nesse perrengue há mais de quatro meses”, reclamava uma trabalhadora. “Tô aqui desde 10h da manhã!”, dizia outro. E assim continuava aquela situação humilhante. Isso tudo reflexo de uma crise que vem se aprofundando em nosso país, que já fez a indústria demitir mais de 200 mil pessoas no ano passado e está levando trabalhadores de outros setores para a rua também.
Parecia uma ironia, ou uma provocação: uma repartição pública com o nome de “Poupa Tempo”, que reúne vários serviços, como pedidos de RG, CPF, carteira de trabalho, etc., submeter os trabalhadores àquela situação degradante na esperança de conseguir um número para ser atendido e, quem sabe, talvez, conseguir o seu direito ao seguro-desemprego, direito que é garantido pela CLT e conquistado depois de tantas lutas ao longo da história do nosso país.
E mais uma vez, nesse sistema, o capitalismo, são os trabalhadores que pagam pela crise econômica, que pagam por aquilo que a classe capitalista, os empresários e banqueiros fazem para poder garantir seus lucros a todo custo. Para piorar, o governo e o congresso não fazem nenhum esforço para contrariar os interesses dos capitalistas. Na verdade, continuam defendendo estes interesses com o corte de direitos trabalhistas e diminuição nas verbas das áreas sociais, como saúde e educação.
Esta situação coloca aos trabalhadores e à juventude a necessidade de se organizarem e lutarem em defesa dos seus direitos. Lutar por uma sociedade em que não haja exploração, onde as pessoas sejam valorizadas pelo seu trabalho e possam viver dignamente e tenha todos os seus direitos garantidos.
Felipe Annunziata, Rio de Janeiro