No momento em que o congresso nacional avança na votação da redução da Maioridade Penal, medida punitiva contra os pobres, negros e moradores das periferias que em nada vai diminuir a criminalidade no país mas apenas lotar ainda mais as cadeias fortalecendo o crime organizado, reproduzimos abaixo o depoimento do soldado da Polícia Militar da Paraíba, Jimmy Felipe.
Após anos de propaganda incessante nos grandes meios de comunicação, o discurso de fortalecimento da repressão está forte e ganhou a consciência, inclusive, de muitos setores da classe trabalhadora. É preciso fortalecer a propaganda e a mobilização para barrar esse discurso e a aprovação de mais leis de perseguição contra os mais pobres.
Trabalho na Polícia Militar do Estado da Paraíba como soldado e tenho acompanhado o debate sobre o tema da redução da maioridade penal. Talvez pelo fato de trabalhar na rua, na atividade fim e de maneira ostensive, eu tenha possibilidade de ter uma visão diferente do que a maioria das pessoas tem.
Faz um bom tempo que não assisto televisão. Penso que isso também tem certa influência no meu modo de pensar. As vezes vejo que alguns colegas são claramente influenciados pelo que veem na televisão. Mas me considero um pouco imune a essa influência, na verdade tenho até certa aversão ao que passa na programação diária e ao modo como tentam transferir a responsabilidade de uma falha da sociedade e culpar exclusivamente o menor infrator.
Uma coisa fundamental: a minha profissão de policial é o autocontrole, chegar em uma ocorrência às cegas, não poder tomar partido sobre o que ocorre, entre outras coisas, acaba por me possibilitar sair do meio emocional e agir de forma mais racional possível.
Na maioria das ocorrências em que estive e houve envolvimento de menores, existia um padrão que se repetia quase sempre. Eram jovens pobres, vindos de familias desestruturadas e quase sempre estigmatizadas, seja por morarem em zonas de risco ou por sua cor de pele.
Esse tipo de situação me fez pensar sobre o que leva um jovem a esse tipo de situação, dentre as coisas que conclui, destaco as seguintes:
* Desestruturação familiar;
* Influência da mídia de consumo;
* Falta de perspectiva de vida.
* Falta de conhecimento legal sobre o que pode acontecer com os mesmos;
Tudo que citei anteriormente mostra que não adianta tentar sanar o problema da criminalidade cometida pelo menor infrator trantando ele meramente como um adulto, coisa que o mesmo não é.
Tratar criminalmente é apenas uma forma paleativa de tentar solucionar um problema mais grave. É como querer derrubar uma arvoré arrancando-lhe três ou quatro folhas, ou seja, ineficaz.
Enquanto não tivermos em mente que a causa principal da criminalidade juvenil não é exclusivamente a sua “imputabilidade” estaremos enxugando gelo. É preciso fornecer subsidios essênciais, em especial a educação, para que possamos sanar de fato o problema.
Em especial, quando temos vários estudiosos se mostrando contrários a redução da maioridade penal e apontando como verdadeiro problema a falha estrutural da nossa sociedade, que é não dar o suporte necessário aos mais pobres.
Jimmy Felipe, Soldado da Polícia Militar da Paraíba
coisa rara.. parabéns ao soldado cidadão..
Também trabalho na área policial militar (no serviço de ponta, bem lá onde acontece o tumulto, quando chamam às ocorrências de cães na rua a assaltos bancários). Li, concordo e assino embaixo, me identificando quanto à mídia.
Quando parei de ver tais jornais, tais telenovelas carregadas de representações sociais (e aumentado a criticidade nas leituras), tornei-me eu mesmo, por isso, diferente mesmo no próprio meio.
Acho que esse sintoma de liberdade é que todo mundo busca, principalmente na adolescência. Daí eles “comprarem” rótulos que lhes vendem, porque é tudo que tem pra pegar e a mídia consumista “cair em cima” deles.
Fico feliz com o posicionamento do colega da paraíba, sou policial civil , a 35 anos, e também sou contra a antecipação da maioridade penal. Há muito que ser feito pelos nossos jovens, dar-lhes escolas decentes, com atividades em tempo integral, esportes, ensino profissionalizante e assistência médica e psicológica. Nenhum jovem vira bandido aos 15 ou 16, a cooptação se dá muito antes, aos 10 ou onze anos, quando ainda é mais vulnerável. Sugiro aos que defendem esse absurdo, pensar em seus filhos, se eles são capazes de se defender nessa idade.
Minha admiração e meu respeito pelo soldado. Parabéns pelo posicionamento, principalmente porque será muito criticado pelos colegas de farda.
dai porque é pobre podem mata roubar a vontade que sai com o nome sujo? tem muito de menor que fazem crueldade até ja vi casos de um que matou uma criança indevesa a paulada e fica 6 meses no educandário e sai limpo e até de ficha limpa, é por isso que o basil não vai pra frente, de menor, adolecente ou como alguns dizem “crianças” sendo pobre ou rico tem que pagar pelo seus atos sim!!
Falando em preconceito, já nos primeiros comentários um diz: soldado cidadão é coisa rara. A outra conclui: será muito criticado por colegas. Mas não é dos quartéis que vejo saírem os argumentos fajutos pró redução. Claro, há divergências, como há espaço para elas. De fato, é fácil presumir q há necessidade de maior rigor, bem como que a solução, entretanto, não reside na criminalização. Mas, ao presumirem o ponto de vista do PM sem buscar conhecê-lo, pautando-se num retrato desrespeitoso apresentado pela grande mídia, vcs demonstram grande desrespeito, agindo com o preconceito q tanto criticam. Essas piadinhas toscas, fascistas, preconceituosas q todos ouvimos serem dirigidas à Presidenta da República, também as ouço serem diuturnamente dirigidas aos policiais militares por alguns dos senhores, de quem se esperaria uma postura um tanto mais respeitosa, sobretudo pela respeito q afirmam ter à classe trabalhadora