Após quase seis meses de negociações com a Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e com o Banco Central Europeu – trio de instituições que ficou conhecido como ‘a troika’ – o povo grego deu sua palavra final em um plebiscito que rejeitou as terríveis condições impostas pelo imperialismo alemão à cabeça da União Europeia.
A Alemanha impunha à Grécia um definhamento econômico ainda maior do que o vivido nos últimos anos, quando o PIB do país foi reduzido em 25%, o salário mínimo ficou 26% menor, a renda média das famílias decaiu em 30%, e o salário dos aposentados foi reduzido em 45%. No ano de 2013, a Grécia atingiu o patamar de 35% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza e a metade da sua juventude se encontra desempregada.
Mesmo diante desse quadro, a Alemanha queria mais. Para renovar os contratos de empréstimos que o país mantinha com ‘a troika’ era necessário cortar ainda mais os gastos sociais, aumentar impostos e reduzir o pagamento dos aposentados.
O governo do primeiro-ministro Alexis Tisipras – da Coalizão de Esquerda, Syriza – teve como primeira atitude a de ceder, com resistência e de maneira negociada, às exigências da Alemanha. O imperialismo alemão, no entanto, não aceitava nenhuma condição, queria a rendição completa.
O Syriza, então, resolveu girar para a esquerda. Apostou na mobilização popular e convocou um plebiscito em que o povo foi chamado a decidir se aceitava ou se decidia lutar contra as condições impostas pelo imperialismo.
Em uma semana de campanha, a mídia dos ricos tentou por todos os meios implantar um clima de terror no país, afirmando que a negação das exigências dos chantagistas alemães geraria o caos e o isolamento total da Grécia. Nada disso foi suficiente. Com cerca de 90% das urnas apuradas, 3,1 milhões de gregos (61,4%) votaram ‘NÃO’- OXI, em grego – enquanto 1,9 milhões (38,5%) votaram ‘SIM’ – NAI, em grego.
A vitória do OXI abre um novo momento de luta para a classe trabalhadora da Grécia. Alexis Tsipras já afirmou que pretende voltar à mesa de negociação, tentando usar o plebiscito como um meio de conseguir melhores condições dos imperialistas alemães. É importante lembrar que, no processo da negociação, Tsipras já havia aceitado realizar um novo programa de privatizações.
A classe capitalista grega usará de todas as chantagens e sabotagens econômicas para criar o caos social e forçar a aceitação de um acordo com ‘a troika’. É preciso organizar o povo para uma luta decidida, que a afirme a soberania nacional e organize a economia sobre a base do planejamento e da função social.
O governo grego se vê diante de um dilema muito semelhante ao que ocorre na Venezuela neste momento. Frente à pressão imperialista, não bastam meias medidas. É preciso ir até o fim, estatizando as empresas que atuem em setores estratégicos, expropriando os capitalistas que sabotam a produção nacional e implantando medidas que reorganizem a produção sobre uma base socialista.
Sandino Patriota, São Paulo