Quem diria que as reclamações, observações e opiniões de uma menininha se transformariam na voz de milhões de pessoas. Isso jamais passou pela cabeça de Quino, famoso chargista argentino, quando começou a desenhar as tirinhas da pequena MAFALDA.
Joaquim Salvador Lavada nasceu em 1932. Aos 3 anos, descobriu sua vocação para o desenho com um tio, também pintor e desenhista. Na década de 1940, perdeu seus pais, terminou o ensino primário e ingressou na escola de belas artes de Mendoza, desistindo para desenhar quadrinhos de humor. Poderia ter sido mais um entre tantos, já que passou por muitas dificuldades no início de sua vida profissional se não fosse a personagem Mafalda, criada para um Cartoon do diário Clarín, em 1962, que nunca chegou a ser publicado porque o contrato foi cancelado. Sua primeira aparição se deu dois anos depois, em setembro de 1964, no Primeira Plana. Uma semana depois, as tiras de Mafalda se tornariam diárias.
Mas como poderia uma pequena garotinha se transformar em um símbolo de várias gerações? Simples, Mafalda era um desenho de criança feito e pensado para os problemas e dilemas dos adultos. Com sua posição crítica, firme e questionadora opina sobre diversos assuntos fundamentais de sua época. Sua vida em tira não foi muito longa, de 1964 a 1973, e perdura em período distinto em diversas campanhas internacionais até os dias atuais.
A vida de Mafalda foi muito agitada. Passo pelo início da ditadura militar no Brasil, pela Revolução Cubana, os assassinatos de Martim Luther King e Che Guevara, a guerra do Vietnã, o Festival de Woodstock e o fim dos Beatles. Ela, claro, opinou sobre tudo isso.
Hoje aos 51 anos de idade, Mafalda ainda é símbolo de luta, resistência, questionamento e independência ideológica para diversos movimentos organizados, particularmente os de mulheres e juventude em todas as partes. Sua vida em tiras é estudada em diversas universidades, e seus livros têm edições reeditadas. Quino sempre deixou claro que o nascimento de Mafalda, como a conhecemos, não foi um ato planejado, ela se tornou o que é por ela mesma. Na verdade, a transformamos no que ela é, uma voz sem restrições de nossas opiniões.
Elisabeth Araújo, Movimento de Mulheres Olga Benario