A tensão racial nos Estados Unidos sempre foi alta, já faz parte da história do país. Mas, no último ano ela tem se intensificado com o aumento da violência policial contra os negros. Em Ferguson, no Estado do Missouri, a população protestou massivamente depois que um policial branco matou um jovem negro desarmado, em agosto do ano passado. Em Nova Iorque, foi o caso do estrangulamento de Eric Garner, em julho do ano passado, também por um policial branco que depois foi absolvido, o que revoltou a comunidade. Em Ohio, também no ano passado, um menino de 12 anos com uma pistola de brinquedo foi morto por policiais brancos que alegaram legítima defesa. A prisão, no Texas, da militante do movimento “Black Lives Matter” (A Vida dos Negros Importa, em tradução livre), Sandra Bland, que foi imobilizada no chão e algemada por não ter sinalizado adequadamente ao mudar de faixa no trânsito e apareceu morta em sua cela três dias depois sem uma explicação plausível.
O ataque terrorista à igreja afro-americana batista de Birmingham, no Alabama, em 1963, em que o grupo racista Ku Klux Klan explodiu 15 bananas de dinamite na escadaria, matou quatro meninas e feriu outras 22 pessoas, gerou uma onda tão grande de protestos que conseguiu forçar a aprovação, no ano seguinte, da lei federal que criminalizou o racismo e baniu o sistema de segregação que existia no país. Cinquenta e dois anos depois da aprovação da lei, a bandeira dos Estados Confederados, que ainda é um símbolo forte da escravidão e da segregação que ocorria no Sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana, ainda tremulava no Parlamento da cidade de Columbia, na Carolina do Sul, onde ocorreu o assassinato de nove negros por um homem branco, na Igreja Metodista Episcopal de Charleston, no dia 17 de junho. A população saiu às ruas para exigir a retirada da bandeira e outros símbolos que representam o passado escravista. No dia 10 de julho a retirada da bandeira foi aprovada pelo Congresso Estadual e sancionada pela governadora Nikki Haley.
Após a retirada da bandeira, terroristas da organização racista Ku Klux Klan, que proclama a supremacia branca, foram às ruas no sábado (18 de julho) protestar contra a decisão do Parlamento. Durante a marcha mostraram faixas confederadas – algumas chegando a conter a suástica nazista no meio – e proferiram insultos aos negros que passavam pelo lugar. Apesar do aumento do policiamento na região, o conflito se tornou inevitável e foi tão intenso que a governadora do Estado emitiu um comunicado pedindo para as pessoas ficarem em suas casas. Agressões verbais racistas e físicas foram desferidas contra a comunidade negra, que revidou, deixando alguns feridos e pelo menos dois detidos.
No mesmo dia, no entanto, a população mobilizada pelo Novo Partido dos Panteras Negras, partido que defende a luta revolucionária para a libertação e emancipação do povo negro, e vários negros ligados a movimentos por direitos civis foram às ruas defender o fim do racismo nos EUA. Cerca de 400 pessoas do Novo Partido Panteras Negras, criado para autodefender e impulsionar uma luta revolucionária para libertação e emancipação dos negros, inspirado no antigo Partido dos Panteras Negras, marcharam nas ruas uniformizados e carregando bandeiras do movimento e proferiram sua palavra de ordem: “Pela auto-organização popular e individual, para a autodefesa e para uma luta revolucionária de caráter político, econômico e social autônomo! Todo poder ao povo!”.
Andrea Moura, Pernambuco.