Os resultados das eleições do dia 19 de fevereiro nos permitem chegar a algumas conclusões gerais, que não implicam ainda uma análise da totalidade deste importante processo político que viveu nosso país e que ainda não foi concluído.
Mais de 60% dos equatorianos votaram a favor da mudança, contra a candidatura correísta; a diferença existente entre Lenin Moreno e Guillermo Lasso obriga a realização de um segundo turno no mês de abril.
Estes dois aspectos constituem um revés político para o Governo. Sua intenção de resolver a presidência ainda no primeiro turno não se cumpriu e a possibilidade de lograr o triunfo definitivo fica mais distante em razão do movimento dos equatorianos de rejeitar o continuísmo. Por isso, as desesperadas intenção do governo – através de seus prepostos no Conselho Nacional Eleitoral – para inverter a vontade popular através de uma fraude descarada.
Este processo eleitoral foi expressão de uma intensa luta política, ainda que um alto percentual de pessoas tenha decidido seu voto no último momento com a intenção de impedir a vitória da candidatura de Moreno-Glas. Isso explica o crescimento da candidatua de Lasso e de Viteri que foram posicionadas pelos meios de comunicação e de pesquisa de opinião como possíveis e até seguros finalistas, canalizando assim o chamado voto útil. O resultado obtido pela candidatura do Acordo Nacional pela Mudança – que se encontra abaixo das expectativas criadas – pode explicar-se pela mobilidade produzida nos últimos dias.
O processo foi marcado por uma série de irregularidades desde o momento mesmo de sua convocatória até o dia da votação. As denúncias de juntas de votação nas quais se encontraram cédulas previamente marcadas a favor dos candidatos governistas demostram o plano fraudulento preparado pelo regime. Novamente, o governo jogou com as empresas de pesquisa de opinião para criar a ideia de um triunfo esmagador e provocar o desalento nas forças de oposição, ficando assim com as mãos livres para manipular os dados das Juntas Eleitorais e do CNE.
As forças do Acordo pela Mudança desenvolveram uma grande campanha política, puseram em jogo todas as suas forças e capacidades de levar à vitória a candidatura presidencial e seus candidatos para a Assembleia Nacional e o Parlamento Andino.
Haverá um segundo turno eleitoral, que é a continuação da luta política dos trabalhadores e dos povos, das esquerdas e do partido do proletariado. Nossa luta continua contra o autoritarismo e a corrupção do correísmo e para barrar o continuísmo.
A Participação da Unidade Popular no processo
Unidad Popular surge como uma organização política jovem, que se apropria do acúmulo histórico da esquerda revolucionária que teve no MPD seu mais alto expoente organizativo, mas que, na quadra atual, assume as reivindicações que marcam a confrontação com o correísmo.
O processo eleitoral de 2017 teve nesta organização um de seus principais protagonistas, tanto nos momentos pré-eleitorais, quando junto a sindicatos, organizações sociais e populares, movimentos políticos de esquerda e progressistas com ou sem registro eleitoral, resolvem conformar o Acordo Nacional pela Mudança, assim como a definição de uma candidatura única na campanha eleitoral.
Por ser uma organização nova, a UP enfrentou este processo com limitações financeira e de divulgação de sua existência entre a população em geral. Este limite foi sendo superado de maneira desigual, expressando dificuldades no resultado eleitoral; ainda que pesem estas dificuldades, as lideranças políticas da UP se consolidaram durante este processo, tanto em sua direção interna como em sua condição de candidatos, por exemplo: Lenin Hurtado teve uma votação nacional individual próxima aos 17%, superando inclusive personagens como Lúcio Gutiérrez; o mesmo ocorreu com Natasha Rojas que teve mais que o triplo de sua votação em eleições passadas.
A militância jovem da UP se incorporou neste processo. Era comum encontrá-los nas ruas e praças pedindo o voto na Unidad Popular e nos candidatos do Acordo Nacional pela Mudança, as iniciativas políticas ajudaram a consolidar uma votação que, ainda que não seja a espera, é importante para consolidar uma base social. As propostas da UP, apoiadas em grande parte pelos candidatos do Acordo Nacional pela Mudança, puseram em debate vários temas durante a campanha. Foram nossos companheiros e companheiras os principais expoentes em temas como: direitos sexuais e reprodutivos, violência contra a mulher e a família, ingresso na universidade, reformas no Parlamento Andino, meio ambiente, luta contra a corrupção, entre outros. Infelizmente, não se soube levantar as reivindicações imediatas das massas trabalhadoras que esperavam suas condições materiais de vida, o que trouxe uma limitação para atrair a adesão desses setores. Este fato fez com que muita gente olhasse com simpatia a proposta, mas não se identificasse com ela.
É um fato que os resultados eleitorais logrados pela Unidad Popular implicam em um revés, posto que não foram alcançados os objetivos – em porcentagem eleitoral e representações na Assembleia Nacional – que foram definidos ao se iniciar a campanha. Até o fechamento desta matéria, estava em disputa o ingresso na Assembleia da companheira Natasha Rojas e de Lourdes Tibán no Parlamento Andino.
No entanto, este processo serviu para seu posicionamento em importantes setores da população, para que esta conheça as suas propostas políticas e que permitam sua consolidação organizativa.
A candidatura de Paco Moncayo criou expectativas, teve um inicial crescimento ao ponto que, durante um momento, houve praticamente um empate técnico entre Lasso, Viteri e Moncayo. Mas, este crescimento não pode se consolidar e menos ainda avançar mais pela debilidade das organizações integrantes do Acordo pela Mudança. Inclusive, houve um retrocesso na última semana de campanha, quando o nível de indecisão ainda era alto, a favor do denominado “voto útil” que viu em Lasso a opção para enfrentar o segundo turno contar Moreno.
Sem deixar de analisar e enfrentar as ações fraudulentas que ocorreram neste processo, é dever das forças do Acordo pela Mudança – que trabalham no seio do movimento social – melhorar a relação com o povo e levantar políticas adequadas a estes setores. A luta continua!
Tomado do Semanário En Marcha (http://www.pcmle.org/EM)