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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Subversivos na estrada

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O jornal A Verdade realizou uma entrevista com Camilo Maia, vocalista da banda Subversivos. A banda pernambucana de punk rock, fundada em 1997, traz em suas letras mensagens socialistas e a defesa da revolução proletária. Anos depois de uma turnê na Europa, em 2010, a banda lança agora um novo CD, intitulado “20 anos de luta!”, e realiza uma turnê nacional junto com a banda Juventude Maldita, comemorando duas décadas de estrada. Antes deste quarto disco, a banda já tinha lançado “Hino de uma luta de classes” (2001), “Democracia Vermelha” (2004) e “Século de Ferro e Flor” (2010), este último em homenagem ao comunista Gregório Bezerra. Aqui, Camilo faz um resumo da atual fase da banda.

Bruno Abreu, Pernambuco

A Verdade – Conte um pouco sobre a fundação da banda.

Camilo Maia – Os Subversivos surgiram como ideia em meados de 1996, quando conheci Fred Elesbão no cursinho pré-vestibular. Éramos os esquisitos e desajustados da sala e a identidade e ideologia socialista que já tínhamos nos conectou como amigos. Descobrimos os Pistols, o Clash, os Ramones e um universo cultural, ativo, contestatório e de muita atitude se revelou pra gente. Não demorou para alimentarmos entre nós o desejo de fazer diferença tendo uma banda punk rock. No final daquele ano, numa espiral de acontecimentos que jamais cessaram em 20 anos de luta, Fred ganhou um contrabaixo de presente da família e, efetiva e inevitavelmente, começamos a nossa própria banda. Nosso início oficial se dá em março de 1997, quando realizamos nosso primeiríssimo ensaio.

Quais foram as principais influências da banda?

As principais influências foram o Green Day e o Offspring, referências do que se chamou de Neo punk, e, logo em seguida, Sex Pistols, Ramones, e o Clash, o mais impressionantemente combativo, coeso e socialista que poderíamos ter encontrado de influência da safra 77, para, na sequência, descobrirmos a radicalização de som e atitude dos anos 80, na forma de Dead Kennedys ou Exploited. Rapidamente, outras bandas entraram nessa lista, descobrimos os Garotos Podres, banda surgida com toda aquela efervescência operária do ABC paulista do começo dos anos 80, com suas letras classistas, socialistas que seguramente se tornou e jamais deixou de ser, nossa influência mais antiga e duradoura. Hoje, permanecemos atentos ao desenvolvimento do punk no Brasil e no mundo, e é inevitável não continuar se influenciando com bandas de posturas revolucionárias, classistas e combativas como o Los Fastidios, da Itália, e o Juventude Maldita, de São Paulo.

Como foi a relação da banda com os movimentos sociais nesses 20 anos?

Uma relação de apoio mútuo e reconhecimento em ocupações, sindicatos, escolas, congressos estudantis e centros sociais, onde uma atividade cultural politizada coerente e combativa se fazia necessária. Acreditamos que os movimentos sociais são a base para organizarmos o povo em torno de demandas reais, que devemos arrancar do capitalismo, e também é a grande escola dos novos lutadores, lideranças e assembleias que desejam lutar por seus direitos e, até mais que isso, mudanças estruturais do sistema, em prol da classe trabalhadora.

Qual o grau de importância da música e das letras dos Subversivos nesse momento que o Brasil vive?

Continua tão importante quanto antes, pois as condições de opressão e ataques patronais aos direitos dos trabalhadores continuam. Hoje, com as máscaras da classe dominante caindo abertamente, mais importante que nossas letras é a politização em torno delas, na forma de entrevistas como esta, e aprofundamento dos temas e motivos abordados em nossas letras em programas de rádio, palestras, debates, bem como os manifestos escritos que vão acompanhando as letras em encartes e panfletos para o grande público. Não podemos achar que somente as letras, perante o público que as ouve e assimila, são suficientes para aprofundar e avançar a consciência da juventude. Se só isso fosse suficiente, o movimento punk seria um dos mais ativos, crescentes e relevantes movimentos sociais a pressionar a transformação desse sistema. Mas isso está longe da verdade por que exatamente falta mais aprofundamento e organização para além das letras.

Você acha que os Subversivos estão no seu melhor momento?

É difícil dizer se seria este, de fato, o nosso melhor momento nestes nossos 20 anos de história, pois já tivemos mais recursos, tanto musicais quanto de economias de nosso caixa, além de que, no passado, já estivemos mais organizados enquanto coletivo. Mas posso afirmar com muito orgulho e segurança que esse é o momento de melhor reorganização e retomada de atividades e lutas que já tivemos, pois foi preciso nos concentrar em nossas forças e ideologia proletária e em toda a energia e atitude típicas do punk para poder sair inteiros e melhores do momento mais difícil que passamos como banda, entre 2011 e 2015.

Na sua opinião, qual a saída para a crise econômica e política que vive o Brasil?

A saída, eu acredito fortemente, que seria avançar a união de todo o campo da esquerda em uma grande frente, a ser construída coletivamente e o mais ampla e horizontalmente dentro de uma perspectiva possível de contenção do corte dos direitos e ataques ao trabalhador baseada na luta de massas, nas ruas e locais de trabalho e estudo, e não no Parlamento. Daí então avançar na luta anticapitalista, construindo e formando novos e mais lutadores, até termos correlação de forças pra avançar a alguma proposta de poder popular que consiga desautorizar o Estado capitalista até suplantá-lo. O caminho, a meu ver, é longo e precisamos dar os primeiros passos para longe do sectarismo, para poder avançar numa proposta que coesione a esquerda.

Para você, qual a importância de uma imprensa popular, como o jornal A Verdade, para a luta do povo brasileiro?

É muito importante a mídia alternativa, classista, anticapitalista, construída e apoiada nas forças populares e de fato comprometida com a classe operária, estudantil, camponesa, suas lutas mais importantes, bem como a necessidade permanente da denúncia como arma que forma e conscientiza os trabalhadores contra esse estado de coisas. O jornal A Verdade felizmente tem esse perfil e o tem mantido, como imprensa alternativa e operária, real e combativa, todos esses anos.

Qual mensagem a banda deixa para nossos leitores?

Não se conforme, não se acomode. Organizem-se em movimentos e organizações populares comprometidas com a luta de curto, médio, e, se possível, de longo prazo. Forme-se, estude, não siga convenções e se torne um autodidata, lendo, estudando e aprendendo o máximo que você puder com todo o acervo de teoria e de luta revolucionária que a humanidade foi capaz de escrever nos últimos 200 anos, desde que a classe trabalhadora passou a se reconhecer como classe. Pare de atacar outras doutrinas e tendências, pare de reclamar de outras iniciativas de luta, ainda que você não concorde totalmente com elas, e se empenhe na luta que seja capaz de unir todos os trabalhadores num grande campo anticapitalista. Mantenhamos nossas mentes e corações sempre abertos… e a guarda sempre fechada! Vida longa… Solidariedade!

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