A palestra do general Sergio Etchegoyen, ministro do gabinete de Segurança Institucional do governo golpista de Michel Temer, deixou os alunos do Instituto Rio Branco escandalizados.
O general Etchegoyen começou sua palestra citando como uma das causas da crise que vive o país “a excessiva preocupação dos políticos em preservar mandatos e biografias e reclamou que vivemos um deserto de lideranças”. Porém, nada disse sobre as constantes liberações de verbas e emendas do seu presidente para conseguir votos no Congresso Nacional nem o loteamento dos ministérios para partidos conservadores.
Segundo o site The Intercept Brasil, que teve acesso ao conteúdo da palestra, o general, que tem cinco décadas no Exército e cuja família está há várias gerações nesta instituição, discordou da opinião de vários companheiros de farda que são contra a atuação do Exército como polícia. Para ele, o argumento de que as Forças Armadas não são treinadas para atuar no policiamento de cidades é balela de especialistas. “Ninguém sabe a guerra que vai lutar amanhã. Somos treinados em cima de princípios, de conceitos, com alguns fundamentos, com muita flexibilidade para dar agilidade mental para resolver o problema. Então, se der para o militar um problema de segurança pública, ele vai se adaptar e vai fazer”.
Aspirina x antibiótico
Etchegoyen declarou ainda que o país passa por crises tão profundas que afetam a própria estrutura do Estado: “Nós nunca vivemos, no Brasil, um momento em que coincidisse, com tanta intensidade, tantas crises estruturais e tantas crises setoriais. Isso nos dá uma crise sistêmica”, disse. “E nós não vamos tratar com Aspirina nem com Tylenol. Nós vamos tratar com antibiótico, com todos os efeitos colaterais”.
Embora nada tenha dito sobre o crescimento do desemprego no país e da corrupção no Governo Temer, o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) disse que o Brasil criou um modelo que está nos destruindo por dentro e que a origem desses males se deve ao abandono de um projeto nacional durante os mandatos de Lula e Dilma.
Ao exaltar os feitos da ditadura, o general afirmou indiretamente que a democracia limita o desenvolvimento: “Imaginem se hoje seria possível construir, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor? Quanto é que ia nos custar de discussão no Ibama, com o Ministério Público? Quanto nos custaria fazer uma ponte Rio-Niterói, pra ficar no mesmo tema? O bondinho? Itaipu?”.
Sinceridade
O ministro general Sergio Etchegoyen defendeu também a violência policial ao dizer: “Nossa sociedade bota o dedo na cara de um policial… Qualquer menino [faz isso] e não acontece nada”. “Nós não podemos, por exemplo, deixar que prossiga esse desamor pela polícia, que tem acontecido no Brasil. Porque são eles que nós temos. Nós não temos outros”.
Tem mais: o general também questionou o combate à discriminação contra a população negra e indígena ao criticar o politicamente correto: “Quantos e quantas aqui teriam coragem de levantar e discutir claramente a sua opinião sobre cotas, por exemplo? Isso é uma coisa que, na sociedade, nós estamos buscando uma unanimidade – e eu não estou falando contra as cotas, eu estou tratando teoricamente do assunto –, mas nós queremos uma unanimidade na sociedade?”.
Apesar de ter falado tantos disparates na palestra, é preciso registar a sinceridade do general ao explicar qual a origem das suas ideias; disse ele: “Sou da arma de cavalaria e tem um problema: a ausência do meu cavalo reduz minha capacidade intelectual em uns 45, 40 por cento”. Com todo respeito aos cavalos, nesse ponto, concordamos com o general.
Lula Falcão, diretor de A Verdade