A UNE realizou seu congresso nacional no mês de junho, em Brasília. Com uma bancada de 800 estudantes, a UJR elegeu Gabryel Henrici, estudante de História da UFRJ, secretário geral da UNE. Diante dos seguidos ataques do MEC à universidade pública brasileira, A Verdade entrevistou Gabryel para conhecer a opinião dos estudantes sobre a atual crise que vive a universidade brasileira.
Da Redação
A Verdade – O governo fascista de Bolsonaro já bloqueou 44% das verbas para a educação pública. Qual o objetivo desses cortes?
Gabryel Henrici – “Acabar com a capacidade crítica das universidades, que historicamente têm esse papel. Por ser um local de conhecimento e questionamento, que historicamente sempre resistiu às medidas autoritárias de regimes vigentes, como na ditadura militar, Bolsonaro tenta atacar o setor que mais tem questionado seu governo e suas medidas antipovo. Além dos cortes, tenta também, através das intervenções em reitorias eleitas democraticamente por suas comunidades acadêmicas – como na Unirio, a Federais do Ceará, Mato Grosso, Dourados, Cefet-RJ –, facilitar seus objetivos. Destruir as universidades faz parte de seu projeto de impedir a mobilização e a luta da juventude brasileira.”
Várias universidades estão passando por grandes dificuldades e algumas delas dizem que serão obrigadas a fechar restaurantes e até suspender aulas. Esta é pior crise da universidade brasileira?
“Sim. Mesmo durante o governo entreguista e neoliberal de FHC, não tivemos uma crise orçamentária tão grande para as universidades brasileiras. A pior coisa que pode existir para os estudantes é a incerteza de sua formação, principalmente para os mais pobres. Muitos estão sem condições de continuar indo às aulas por conta do não funcionamento dos restaurantes universitários, falta de ônibus intercampi, bolsas, etc. Serviços estratégicos para o funcionamento das universidades não podem continuar porque não existe perspectiva para o repasse de tais verbas por parte do MEC. Os casos mais recentes em que as reitorias foram a público dizer que irão fechar suas portas se não houver reversão dos cortes foram a UFG, UFRJ e UFSC, sendo que esta última, para poder continuar seu funcionamento, contou com a aprovação de uma greve estudantil e a construção de uma assembleia comunitária com mais de quatro mil presentes. Se não tivermos a reversão desses cortes, a maioria das universidades, vai parar de funcionar!”
O governo já cortou mais de 10 mil bolsas de pesquisa. Há alguma mobilização marcada em defesa da universidade? É possível desenvolver um país sem pesquisa científica?
“Primeiro, é importante questionar por que o governo cortou essas mais de 10 mil bolsas de pesquisa. Pouco mais de 84 mil estudantes ganham bolsa de pesquisa no país, o que já quebra o argumento de que essas bolsas são gastos pesados para o MEC. Portanto, o debate que deveríamos fazer é que temos que ter mais bolsas de pesquisa para as universidades, para ajudar no fomento de pesquisas tão importantes para o nosso país.
Temos uma mobilização marcada pelos setores educacionais, puxada pelo Movimento Estudantil, Andes-SN, Fasubra e Sinasefe, que será uma greve de 48 horas nas instituições federais. Não podemos ter um projeto de país que sirva para o bem de nosso povo, que defenda nossa soberania, sem pesquisa científica. Os diversos tratamentos de doenças de alta complexidade e as descobertas recentes são graças à nossa pesquisa, como o tratamento contra o Zika vírus por um grupo de pesquisadores da UFRJ, ou até mesmo, do ponto de vista de nossa soberania, a descoberta do pré-sal feita por grupos de pesquisa coordenados pela Petrobras. Sem pesquisa e sem financiamento público para ela, nosso país morre!”
Embora diga que não tem verbas, o MEC desenvolve uma campanha publicitária em favor de escolas militares. Qual a opinião dos estudantes sobre essa propaganda?
“O governo mente descaradamente. Não só sobre a propaganda das escolas militares, mas também sobre a falta de verbas em geral. Vimos recentemente a liberação de mais de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares para a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Isso faz parte de mais uma das mentiras propagadas por esse governo. As escolas militares, para quem diz que as universidades públicas são caras para os cofres públicos – afirmação feita pelo atual ministro da Educação Abraham Weintraub na reunião de que participei pela UNE –, são uma contradição gigantesca. A manutenção de um aluno na escola militar é três vezes mais cara (R$ 19 mil), do que na escola pública regular (R$ 6 mil). Enquanto isso, nossas escolas públicas estão sendo destruídas também por falta de investimento. Nossas escolas públicas precisam ter verbas para seu funcionamento pleno e que nossa juventude possa ter direito a um futuro. Precisamos de melhores salários para nossos professores, construção de mais escolas públicas, já que a realidade que estamos vendo é de fechamento, e não de abertura.”
O que é o projeto “Future-se” do MEC? O que os estudantes pretendem fazer para enfrentar essa política de destruição da universidade pública?
“O projeto “Future-se” é um projeto que almeja colocar nossas universidades a serviço do mercado financeiro e dos bancos. Caso haja adesão pelas universidades, significa o fim do caráter público das instituições. O projeto entrega a gestão de nossas universidades na mão de Organizações Sociais (OS) e modifica 16 pontos da Constituição, sendo a principal a que determina a autonomia das universidades. Com a adesão, as instituições têm que entregar seu patrimônio físico e científico a um fundo privado (fundo de investimento imobiliário). Ou seja, qualquer empresa pode investir e ter seus interesses ligados à instituição de ensino que aderiu ao programa. Por exemplo: a Kroton, que é o principal grupo acionário das universidades particulares no mundo, poderia estar dentro de qualquer universidade federal caso investisse nesse fundo. Esse programa significa o fim da universidade pública brasileira.
Os estudantes brasileiros estão se mobilizando na luta contra os cortes, indo para dentro das universidades lutar contra a aprovação do programa nos Conselhos Universitários das principais universidades do país. Essa mobilização já foi vitoriosa na UFRJ, UFF, UFRRJ, UFPR, UFPI, UFBAC, UFSC, UFMT, Univasf, UFC, UFSM e Unifesp. A tendência é o rechaço por completo deste projeto neoliberal em nossas universidades. Da mesma maneira que a juventude brasileira vem tomando as ruas desde maio deste ano, precisamos construir novamente assembleias, campanhas e passagem em sala para fortalecer a luta contra esse governo fascista e defender a educação. O recado é que continuaremos lutando nas ruas pelo nosso futuro! “