Por Letícia Freitas e Lucas Pena,
militantes da UP em Itabirito-MG
Foto: Reprodução
MINAS GERAIS – Diante da pandemia de Covid-19 (coronavírus), milhares de trabalhadoras e trabalhadores têm ficado – ainda mais – à mercê da vontade das grandes empresas. Exposto aos riscos de contaminação, aglomerados dentro dos transportes e sem segurança nos ambientes de produção, o proletariado se vê, mais uma vez, sem perspectiva dentro do sistema capitalista, além de estar vendo sua vida em risco devido aos desinteresses dos donos do capital em mantê-los seguros diante da pandemia que têm assolado o mundo desde o dia 11 de março de 2020.
Exemplo disso é a mineradora VALE. Na cidade de Itabirito, que tem como principal atividade econômica a mineração, a produção segue normalmente, e funcionárias e funcionários se veem praticamente obrigados a irem trabalhar caso queiram manter seus empregos e sustentar suas famílias.
Embora a cidade esteja sendo “isolada” por meio de barreiras sanitárias, os ônibus da empresa seguem seus percursos sem fazer a triagem necessária dos passageiros que embarcam seguindo para o trabalho; e os funcionários, dentro dos locais de produção, têm contato com trabalhadores de outras cidades, o que torna o “isolamento” ineficaz e coloca a cidade em risco. Além disso, os trabalhadores não são imunes à doença, portanto, deveriam ser liberados de suas atividades sem sofrer nenhum tipo de prejuízo.
De acordo com funcionários itabiritenses, a empresa disse que vai adotar medidas de redução de pessoas em algumas áreas; têm determinado distância de “segurança” no refeitório e disponibilizou vidros de álcool nas máquinas. No entanto, tais medidas são apenas uma forma de mascarar o real interesse da empresa, uma vez que a mesma afirmou que não vai parar sua produção. Ora, se a VALE está mesmo tão preocupada com a segurança dos funcionários, por que então não os libera? Por que as trabalhadoras e trabalhadores ainda precisam sair de suas casas e seguir para a produção dentro de ônibus cheios onde nem a triagem, tampouco a distância de “segurança” tem sido aplicada?
A complacência das organizações sindicais com a atitude da VALE também é assustadora. Essa atitude criminosa para com os trabalhadores não vem de agora e os próprios funcionários não se sentem representados por tais organizações. É necessário dizer que é o mesmo sindicato que, após o crime de Brumadinho, nada fez pelos atingidos, muito pelo contrário: compactuou com “normalidade” de funcionamento da empresa, apesar do choque dos funcionários que perderam tantos companheiros e companheiras de trabalho. O que torna urgente a organização de sindicatos combativos, dispostos a defender os funcionários da empresa e terceirizados.
A verdade, é que a decisão da VALE apenas reafirma sua falta de responsabilidade com o povo trabalhador. Afinal, o que podemos esperar de uma empresa que, no dia seguinte da morte de mais de 300 funcionários, com o rompimento da barragem em Brumadinho, estava com suas unidades operando normalmente? Os crimes em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019) já nos mostraram sua total incompetência e desrespeito com centenas de famílias. Agora, diante de uma pandemia, a empresa novamente fecha os olhos e coloca o lucro acima da vida de milhares de pessoas.
O que a realidade nos mostra é que essas ações estão aliadas a um contraditório discurso neoliberal. Discurso esse, defendido pelo governo fascista de Bolsonaro, Moro e Guedes, em que, teoricamente, as empresas deveriam ter responsabilidade social e dar um retorno à sociedade por acumularem tamanha riqueza. Apesar disso, essa teoria fica apenas no papel, pois mais uma vez os interesses empresariais têm sido colocados acima da segurança de toda uma comunidade. A falácia sobre estado mínimo se mostra outra vez incapaz de render bons frutos, pois vemos que a grande maioria do empresariado só parou após decretos que os obrigaram a tomar tal medida. Como seria se esses senhores tivessem total controle sobre as decisões?
Além do mais, vemos o nosso governo completamente perdido, incapaz de dar respostas ou de investir em pesquisas contra a pandemia; tentando salvar não a população, mas sim as grandes corporações que os colocaram no poder enquanto nosso povo fica, a cada dia que passa, a mercê de sua própria sorte. Não seria esse o momento de cobrar as dívidas dos grandes banqueiros e dar àqueles que realmente precisam? Cuidar daqueles que tudo produzem e que deveriam ser os verdadeiros detentores da riqueza do nosso país?
A atitude da VALE, assim como a de diversas grandes empresas, do governo Bolsonaro e da burguesia no geral, nada mais é do que a reprodução de uma lógica capitalista, em que a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras é feita sem nenhuma preocupação com suas vidas, suas famílias e com comunidade que os cerca. Garantir a riqueza daqueles que nada produzem é o único objetivo traçado por essas corporações. Por isso, precisamos travar uma grande luta para que, além da paralisação imediata da produção da empresa (sem prejuízo para os trabalhadores), a VALE volte a ser do povo.
Somente com sua reestatização conseguiremos garantir que a riqueza dos nossos recursos minerais seja, de fato, a riqueza do povo brasileiro. Não podemos aceitar que a empresa seja guiada seguindo interesses de mercados financeiros, ignorando situações caóticas como a que vivemos durante essa pandemia. Precisamos convocar todas e todos os trabalhadores a luta, pra que, finalmente, a vida esteja acima do lucro, e não o contrário!