João Vitor Souza, militante da UJR – Sergipe
BRASIL – Apesar da postura negacionista do Presidente da República, vivemos sim uma situação delicada, que merece fundamentalmente a nossa atenção. Se tratam de inúmeras vidas humanas: milhares, e na pior das hipóteses, quase um milhão e meio de brasileiros, portanto é nossa obrigação enquanto coletivo levar consideração a preservação dessas vidas. Mas isso não significa que devemos entrar em pânico, tomar os cuidados básicos e cobrar a assistência e o amparo para aqueles que mais precisam é o nosso dever político de massa. Se por um lado esse governo chefiado por um incompetente, fascista e genocida busca salvar a economia, amparar primeiramente os empresários e patrões; por outro, temos a solução, como parte de setores da esquerda acha, que se passa unicamente com o impeachment de Jair Bolsonaro.
Ao que parece, a oposição de esquerda juntou forças para propor um projeto de renda temporária para setores de vulnerabilidade sócio-econômica. Este consiste em uma remuneração de 600 (para trabalhadores que recebem até 3 salários mínimos) à 1200 reais (para famílias com mais de duas pessoas na informalidade, famílias com mães solteiras) que vida atender, principalmente, setores informais. Apesar de ser uma medida pontual, é acima de tudo uma conquista para o povo, mas também se configura como uma pauta fora de um projeto duradouro que ainda está ausente no cenário político brasileiro. As soluções para os problemas mais cruciais do Brasil, como a desigualdade social, a falta de moradia digna para as pessoas, a fome ou o saneamento básico, entre outras condições necessárias para a vida saudável de cada cidadão não irão cair dos céus, muito menos da vontade política da nossa classe política (por mais bem intencionada que ela seja, essa vontade – se vier a existir – esbarra na estrutura do campo político no Brasil, da exploração econômica e dominação social).
O presidente Bolsonaro vai contra às recomendações das autoridades sanitárias, nacional e internacional que recomendam a quarentena, e exemplos como o da Itália – talvez o mais famoso -, e EUA, que possui o maior número de identificados reforçam a necessidade de tomada dos devidos cuidados a fim de achatar a curva de contaminação e evitar o colapso do Sistema de Saúde – e que entram ambos setores público e privado, impactados pela insuficiência de leitos para as situações de relaxamento que aumentem a aceleração da contaminação e das mortes (acometidas pelo vírus ou pela insuficiência de UTIs. Ele, o governo, ampara os patrões, como dispõe a MP 927/2020, e deixa os trabalhadores formais e informais em piores condições, visto que para não ser desempregado o trabalhador se vê obrigado a se expor ao risco de contaminação com o vírus, que já se espalha de forma local, comunitária.
Como se não bastasse a informalidade dominante na população economicamente ativa, e o fato de mais da metade da população viver com menos de um salário mínimo (trabalhando várias horas, e nos grandes centros urbanos, enfrentando também jornadas cansativas no transporte coletivo), os empresários e para esse governo que trabalha para os patrões vão contra as medidas anunciadas ao redor do mundo contra a prevenção do corona vírus, expondo as pessoas que precisam trabalhar, como já dito, ao risco de contaminação nos transportes coletivos e até mesmo em seus postos de trabalho. O Governo Bolsonaro, além de não fazer nada que melhore a situação da população brasileira, também atrapalha e contraia as recomendações técnicas do próprio Ministério da Saúde do seu Governo, vemos aí Governo e governante divergindo em gênero, número e grau nas soluções para tal problema sanitária, econômico e social. A gravidade da situação é tamanha que até mesmo ex-aliados do governo impõem hoje críticas às posturas, como é o caso dos governadores dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro (onde estão concentradas as maiores ocorrências do novo vírus COVID-19, registrando também a maioria das mortes decorrentes do corona vírus).
Enquanto outros países que possuem economias de mercado, os chamados capitalistas, como o nosso, asseguram a maioria da população com suas medidas: seja com a isenção das contas, pagando a maior parte do salários dos trabalhadores públicos e privados, com checks de crédito ou outras medidas; no Brasil tomam-se medidas para salvar a economia, os empresários e seus lucros saem às ruas pedindo a volta do comércio. Até mesmo uma campanha oficial foi lançada e ocultada[1] das redes da secretaria de comunicação do Governo devido à repercussão jurídica e do projeto da oposição de esquerda no parlamento, quando milhões de pessoas sem acesso a saneamento básico, sem insumos necessários para se alimentar ou se higienizar, ou ainda sem moradia digna correm risco de vida, visto que o colapso do SUS já foi anunciou para o final do mês de maio e início do mês de abril pelo Ministério da Saúde e nenhum plano de assistência social às populações em piores condições sanitárias foi apresentado, tampouco se falou sobre medidas de assistência à população sem-teto dos centros urbanos.
E aqui é o ponto crítico da situação, onde assumimos os nossos privilégios, os menores que sejam e nos fortalecemos contra a ameaça que está por vir. Diante dessa situação, a necessidade de construção de redes de solidariedade orgânicas e duradouras (principalmente na ausência de ações oficiais, e políticas públicas que sabemos que não vão cair dos céus), de trabalho de base e empatia para com o próximo são gritantes! Enquanto os governos e municipais estaduais recomendam que os cidadãos permaneçam em quarentena em suas casas, faz-se necessário o seguinte questionamento: e quem não tem casa, nesse caso, o que se fará para ajudar o José ou a Maria que dormem no papelão, não possuem acesso à informação tão rapidamente quanto a maioria da população, e não sabem nem da existência do corona vírus, das proporções da ameaça ou dos cuidados que devemos tomar para evitar a contaminação pelo vírus? Como eles vão se preparar, caso saibam, para manter a higiene, a saúde e o bom funcionamento do seu sistema de defesa natural se não tem nem o que comer amanhã, se vão estar vivos amanhã?
Chegamos então à algumas considerações sobre essa situação de emergência, como não apenas coisas ruins estão acontecendo, há também mobilização tanto das forças populares, e aqui incluo a atuação do MLB em assistência, amparo e combate à proliferação do vírus, bem como na sua iniciativa de construção de redes de solidariedade pelo país a fora, como também incluo uma atuação específica do núcleo que faço parte, em São Cristóvão, no Bairro Rosa Else, na zona da Universidade Federal de Sergipe, em parceria de agentes políticos da universidade e militantes da organização na arrecadação e distribuição de sabonetes para a comunidade do Barreiro.
Ações simples como essa podem ter um enorme impacto na vida das pessoas, principalmente nesse contexto de crise sanitária, mas também no sentido de alimentar um processo de tomada de consciência sobre a necessidade de ir além, de não depender somente das vias institucionais de mudança, e construir coletivamente relações sociais alternativas, e contribuição para erguer uma nova sociedade: mais justa, humana e revolucionária. É necessário seguir com a construção do Socialismo no Brasil, diante da pandemia precisamos tomar consciência da necessidade de planejar a economia e adequar a produção dessa atender as nesses mais pontuais da população brasileira, em especial no enfrentamento ao COVID. Os setores essenciais precisa estar em favor do povo, e não do lucro dos patrões, cito aqui exemplo da China, onde fábricas que produziam telefone celular e/ou computador, passaram a produzir produtos básicos, necessários e essenciais ao combate ao novo vírus (como máscaras, álcool em gel, por exemplo) que não possui medicação específica eficaz no tratamento, nem vacina por enquanto. O exemplo das universidades aqui no Brasil, como a UFS em Sergipe, entre outras, de produzir álcool em gel e glicerinado nos próprios laboratório farmacêuticos para suprir a necessidade da população local, como hospital universitário e asilos é claro para apontar o rumo que devemos seguir no momento. Segundo o escritor e jornalista de origem polonesa Thomasz Konicz, em seu mais recente artigo faz o diagnóstico de que “‘nós’ simplesmente não podemos oferecer proteção contra a pandemia dentro do quadro das coerções capitalistas”[2].
Estudantes e trabalhadores conclamam e anseiam por um mundo melhor, nunca na história do Brasil pensar a Revolução Brasileira foi tão urgente e necessário para o horizonte histórico. A partir do corona vírus, nada será igual à antes! As mortes já começaram a ocorrer, e há tendências de que a violência doméstica aumente na quarentena e/ou confinamento social. Tiremos das contradições atuais da realidade brasileira o alimento para que germine o poder popular por meio ações concretas que deem cabe de levar para frente um novo modelo de sociedade, que concretiza uma alternativa de sociedade justa, popular e revolucionária. Agora, mais do que nunca, impõe-se a necessidade de construção de uma nova forma para orientar a produção e a reprodução social.
POR EDUCAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA, UNIVERSAL E DE QUALIDADE!
PELA CIÊNCIA A FAVOR DA COMUNIDADE!
ABAIXO O SISTEMA CAPITALISTA, TODO AO PODER AO POVO!
PELA REVOLUÇÃO SOCIALISTA BRASILEIRA!
[1] Após divulgar vídeo de Campanha intitulado “O Brasil não pode parar!”, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) apaga postagem em Twitter e Instagram e diz que campanha não existiu. Matéria disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/secom-apaga-postagens-com-slogan-brasil-nao-pode-parar-diz-que-campanha-nao-existe-1-24335636. Acessado em 29/03/2020 às 01:20.
[2] KONICZ, Thomasz. CRISE DO CORONAVÍRUS: O COLAPSO IMINENTE. Citado anteriormente.