Por Camila Figueiredo Rio de Janeiro
Com a pandemia todos os campeonatos de futebol foram suspensos no país. Desde então os clubes de futebol se viram numa encruzilhada, pois a paralisia do futebol poderá significar a falência. Essa conjuntura se fortaleceu ainda mais por causa das diretorias corruptas que normalmente dominam o futebol brasileiro.
Os cartolas dos times começaram então a propagandear a necessidade de volta urgente do futebol. Um dos clubes vem liderando esse processo de maneira mais incisiva: o Flamengo. Curiosamente, o time estava na mídia como um dos clubes mais saudáveis financeiramente do Brasil, enquanto outros times afundavam em dívidas.
Veio a pandemia e, com ela, a quarentena e os campeonatos e treinos foram suspensos. O Flamengo declarou que conseguiria ter suas atividades normais por cerca de 3 meses. Fez campanhas de distribuição de álcool em gel nas comunidades e liberou a marca para a confecção de máscaras. Porém essas ações da diretoria foram apenas para inglês ver.
No dia 30 de abril, o clube demitiu 62 trabalhadores do seu quadro de funcionários. E isso é só a ponta do iceberg. O Flamengo vem concentrando informações. A diretoria, funcionários e jogadores estão proibidos de dar entrevistas à imprensa, podem somente para a FLATV, que não mostra nada do que vem acontecendo dentro dele.
Ao contrário de outros clubes saudáveis financeiramente pelo mundo, que tiveram iniciativa dos próprios jogadores de reduzir seus salários milionários para garantir o pagamento dos funcionários do clube, não sabemos o caso do Flamengo. Se a diretoria não quis diminuir os salários gigantes dos jogadores profissionais e resolveu demitir funcionários, ou os jogadores não aceitaram a redução.
Os jogadores, por sua vez, não tem se posicionado não só no Flamengo mas em todos os times. A atitude é de simplesmente lavar as mãos. Numa entrevista a Folha de São Paulo, Guilherme Arana, do Atlético-MG afirmou que “não têm nada a ver com a situação do coronavírus”, posição que parece ser a da maioria dos jogadores.
O problema não para por aí. As premiações do ano passado que ficaram acordadas de serem divididas entre jogadores e funcionários, a diretoria proibiu que isso acontecesse. Após a má repercussão, a diretoria entrou em acordo com sindicato dizendo que não haverá novas demissões e que haverá redução de salários. Ou seja, essas demissões não serão revertidas e não sabemos quais salários serão cortados.
No dia 7, o Flamengo realizou testes para a COVID-19 em 293 pessoas incluindo funcionários, atletas e familiares próximos, desses 38 deram positivo. Não entraram nessa lista um vice-presidente do clube que se recuperou, assim como de um funcionário da comunicação e o de Jorginho, massagista do time, que faleceu (Jorginho trabalhava há 40 anos no clube).
Na nota que o time informa os casos terminam com a seguinte mensagem: “Por fim, o Flamengo reafirma que está trabalhando em total sintonia com as autoridades governamentais de forma a, com toda a responsabilidade e segurança, colaborar com o importante retorno às atividades do futebol no menor prazo possível”. Reafirmando, portanto, o ponto de vista de que as atividades esportivas devem voltar independente das recomendações de isolamento.
Não é possível que um dos clubes com torcidas mais populares do mundo venha a ter uma posição tão nefasta em um momento que estamos precisando de solidariedade. Um clube não é uma empresa, não deve visar o lucro, mas sim ser uma instituição que preserve o esporte e todos os envolvidos para que eles ocorram.
A torcida do Flamengo, assim como a de muitos outros clubes, tem se revoltado com essa atitude. Recentemente, a Torcida Jovem do Flamengo edita um manifesto público no qual repudia as ações antidemocráticas do fascista Bolsonaro, assim como fez a torcida do Corinthians em São Paulo ao enfrentar o bando fascista na Avenida Paulista. Na nota a organizada afirma que “Não nos alinhamos com essa elite corrupta e fascista, que hoje ao lado de Bolsonaro governam para os ricos e ignoram os pobres”
Os cartolas do Flamengo chegaram ao cúmulo nessa semana. Junto com o presidente do Vasco da Gama, a diretoria se reuniu em Brasília com Bolsonaro para discutir a volta do Campeonato Carioca, no mesmo dia em que morreram mais de mil pessoas no Brasil devido ao coronavírus.
Impressionante como a falta de solidariedade e a união com o governo fascista tem sido a marca da direção do Flamengo. A pressão para voltar os jogos num estado onde o sistema de saúde está em colapso é apenas mais uma prova de que esses cartolas não pensam nos torcedores, na sua ampla maioria trabalhadores pobres, muitos deles hoje nas filas dos hospitais, mas apenas em seus lucros e planilhas financeiras.