Por Movimento de Mulheres Olga Benário – UFABC
“Vida de Inseto” é uma animação produzida pela Pixar de 1998, mas o que poderia ser apenas um desenho “Pixar”, como qualquer outro assistido pelas crianças dos anos 90, é muito mais do que aparenta ser. O filme conta a história de uma formiga que coloca seu formigueiro todo em perigo por questionar a estrutura construída em torno da cadeia alimentar, em que as formigas colheriam e estocariam grãos para a própria alimentação e também para os gafanhotos em troca de proteção contra o suposto perigo dos demais insetos.
Flick, a formiga protagonista, é moldado pelas características de um personagem curioso, que se queixava constantemente da exploração laboral e do tamanho esforço físico que era exigido de seu formigueiro, uma vez que além de colherem os próprios alimentos, também sustentavam a pequena comunidade de gafanhotos comandada pelo personagem Hopper. Embora carismático, Flick não é bem visto no formigueiro, pois suas ideias revolucionárias tem intenção de romper com a velha ordem que impera por ali há muitas gerações. Aqui é possível traçar um paralelo com nossa realidade – a luta por uma sociedade mais justa é muitas vezes taxada de inútil e utópica, e os companheiros e companheiras que lutam por essa mudança na sociedade são, às vezes, humilhados pelos que querem a continuidade da exploração.
O filme também deixa claro porque a exploração capitalista existe: as formigas trabalham incessantemente para manterem suas vidas e a fartura dos gafanhotos. Assim também ocorre em nossa sociedade: o trabalhador ganha somente o suficiente para manter a reprodução de seu trabalho. O capitalista fica com a riqueza gerada pelo trabalho realizado, porque consegue – através da força do Estado – manter esse ciclo de exploração. As formiguinhas de Vida de Inseto rompem a ordem exploradora de sua sociedade através da conscientização do funcionamento do sistema: um despertar para a noção de que elas são o motor do mundo, elas são as trabalhadoras, elas sustentam os gafanhotos, é delas o poder.
Se antes estavam alienadas, cansadas e conformadas com a dura realidade, quando Flick, a formiguinha, traz a elas a esperança do fim da exploração que sofrem pelos gafanhotos, o formigueiro faz a festa. Agora que podem finalmente sonhar com a libertação e colher na natureza apenas o necessário para o conforto da própria sociedade e não mais a enorme quantidade exigida pelos gafanhotos exploradores, as formigas têm tempo de brincar, fazer arte, conviver e trabalhar em melhorias que beneficiem a todas elas. Deixando de lado o antigo modo de produção, repetitivo, cansativo e altamente especializado – e necessário para manter a ordem – a colônia pode fazer rápidos avanços, aproveitando melhor o trabalho de cada formiga: de cada uma, segundo sua capacidade, a cada uma, segundo suas necessidades, bem como disse Karl Marx.
Assim como as formigas, os trabalhadores, operários e camponeses, devem ser a vanguarda da revolução. São eles os que trabalham e produzem, é através da exploração da sua força de trabalho que são construídas todas as riquezas, mas não são os que controlam os meios de produção, os que tem o poder sobre aquilo que produzem. Por isso é necessário lutar pela revolução, para que os operários não sejam mais explorados! Pelo poder popular!