Ensino técnico: sonho x mercado

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O governo do estado de Pernambuco tem realizado uma intensa campanha de propaganda de seus feitos no cenário social e econômico: as empresas instaladas em Suape, o Estaleiro Atlântico Sul, as obras da Copa, o anúncio de um novo estaleiro na zona da mata norte, instalação de novas empresas, etc. Para acompanhar o ritmo de desenvolvimento e com o discurso de valorizar o trabalhador pernambucano qualificando a mão de obra, o governo inaugurou várias escolas técnicas estaduais no Estado.

 Mas o que era uma reivindicação antiga dos estudantes pernambucanos, a abertura de várias outras escolas técnicas, e que graças à suas lutas conquistaram a manutenção de uma das mais tradicionais escolas técnicas estaduais, o Etepam, tem se transformado em alvo de mais uma preocupação, as escolas oferecem uma quantidade insignificante de cursos, além de pouquíssimas vagas.

Nos dias 22 e 23 de janeiro foram realizadas as provas de seleção das Escolas Técnicas Estaduais. Ao todo, se inscreveram aproximadamente 14 mil estudantes que disputaram apenas 5.445 vagas em todo o estado. A prova foi dividida em duas etapas: dia 22 para os cursos técnicos subsequentes e no dia 23, o técnico integrado.

Não é difícil perceber que centenas de estudantes vão ser excluídos do direito à formação profissional através de um curso técnico por falta de vagas. Diante disso, o que parecia ser um alento, transforma-se em mais uma decepção. Não bastasse terem que abrir mão de seus sonhos de formação profissional em nome das necessidades de mercado, sim, pois afinal tomemos como exemplo a Escola Técnica Estadual de Carpina, quem quiser alimentar o sonho de ter um curso de nível técnico e não puder arcar com os custos de deslocamento e manutenção fora da cidade para buscar outras opções de curso, tem que contentar-se com a oferta dos cursos de manutenção de computadores e comércio, e ainda tem que enfrentar uma injusta seleção por falta de vagas. O estudante Lourival Andrade, 16 anos, da Escola Dom Pedro Bandeira de Melo, que fez a prova, falou a A Verdade que estava sem muita expectativa de ser aprovado por causa  do número de concorrentes: “A disputa foi muito grande para poucas vagas oferecidas, mas tenho objetivo de entrar porque sempre quis fazer um curso técnico para ter um pouco mais de qualificação já que as escolas estaduais não são de qualidade e o técnico já é um pouco melhor. Se não passar vou ter que ter dinheiro pra fazer um curso privado”

Assim, muitos estudantes, mesmo sem ter condições financeiras para pagar um curso particular, quando não conseguem passar vão fazer um curso técnico ou superior privado, porque o nosso estado não oferece qualidade e quantidade.”.

Pauta permanente nas discussões das entidades estudantis, as reivindicações acerca da disponibilidade de vagas e da construção de novas escolas técnicas estaduais, que supram as necessidades dos estudantes e possibilitem o acesso à educação profissional, farão parte do debate do Encontro Pernambucano de Estudantes de Escolas Técnicas, que será promovido pela União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe) neste ano de 2012, na perspectiva de aprofundar o debate sobre as reivindicações estudantis e as demandas do mercado.

Jéssica Nathália, diretora da Uespe