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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O protagonismo das mulheres na cidade de Santo André

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Por Laura Santana e Reinilson Câmara Filho

SÃO PAULO – Desde o início da pandemia, o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB) organizou um comitê de solidariedade na favela do amor, região periférica da cidade de Santo André-SP, conseguindo arrecadar e distribuir mais de 100 cestas básicas para os moradores da comunidade. Agora o comitê avança, com forte participação das mulheres da comunidade, para além do trabalho assistencialista, na construção do poder popular com discussões, propostas e encaminhamentos de ações para transformar a realidade vivenciada na favela.
Santo André é a sétima cidade com mais mortes por Covid-19 no estado de São Paulo. Sendo que a população mais pobre está abandonada pelo poder público. Os governantes do município se esforçam para propagandear que a pandemia está sob controle, que é necessário retomar as atividades econômicas normalmente, enquanto isso, nosso povo segue morrendo.
É bem verdade que esse cenário de abandono e descaso vivenciado por grande parte da população não se iniciou com a pandemia e não acabará ao final dela. Mas são nesses momentos em que o acirramento da luta de classe se desenvolve mais rapidamente que fica mais claro quem está do lado do nosso povo e quem está contra ele. Nesse cenário, frases como “Só o povo salva o povo” ou “Eles combinaram de nos matar e nós combinamos de não morrer” encontram grande apelo entre a população.
O trabalho que vem sendo desenvolvido pelo comitê de solidariedade não é um mero trabalho assistencialista que se limita a doar cestas básicas, ele se constitui enquanto instrumento de organização da luta popular na medida em que os moradores opinam e deliberam os próximos passos que serão dados. Dessa forma, o comitê não se pretende passageiro, quanto maior for a capacidade de organização do povo, maiores são as condições de caminhar rumo à profunda transformação da sociedade.
É certo que são as mulheres, principalmente as mães, as que mais sentem as consequências perversas do capitalismo e as contradições desse sistema, justamente por ocuparem na divisão social do trabalho uma posição que as confere uma tripla jornada de trabalho, onde além de trabalhar fora de casa, ainda abarcam para si as atividades domésticas e criação dos filhos, ou seja, além de oprimida enquanto mulher, é profundamente explorada enquanto classe trabalhadora. Esse trabalho não remunerado é essencial para a manutenção do sistema capitalista e revela o porquê das mulheres possuírem um papel central na luta pela emancipação humana. Sendo o comitê da Favela do Amor um dos exemplos de que, na prática, são as mulheres que estão na linha de frente na construção do poder popular e de uma sociedade socialista.
As maiores reivindicações do bairro, expressas pela presença maciça das mulheres na reunião, são relacionadas aos jovens e crianças da comunidade e a necessidade de tirá-los das ruas e envolvê-los em atividades de lazer e ensino. Embora seja um problema que exista independentemente da pandemia, esta veio a agravar a situação. Em virtude do fechamento de creches e escolas, os moradores veem a extrema necessidade de uma ação que envolva esses jovens e diminua a exposição, muitas vezes à violência e possa dar aos pais e mães, autonomia para realizar as atividades de sustento da família.
De encontro à isso, as propostas tiradas no comitê visam, a princípio, conquistar um espaço que possa ser destinado às crianças e jovens, onde as famílias possam deixá-los em segurança e com garantia de que vão estar sendo cuidados. A ação de solidariedade abraçou também a possibilidade de oferecer aulas e oficinas de forma voluntária aos jovens, com intuito de promover um ambiente de desenvolvimento no período em que puderem permanecer.
Essa ação, aprovada unanimemente entre os presentes, mostra como o povo tem o desejo de lutar para transformar a realidade concreta em que vivem, participando, propondo e realizando políticas no âmbito local e nesse sentido, proposto pelo debate, caminhar para a consciência plena de que as responsabilidades sobre as crianças não são somente das mães, mas de toda a sociedade, principalmente no que diz respeito à educação, que é dever do Estado garantir.
A verdade é que precisamos desenvolver a auto-organização do nosso povo com a perspectiva de construir uma democracia popular. Nesse momento, torna-se evidente que o povo organizado tem capacidade de transformação, de resolver os problemas cotidianos e se ajudar mutuamente. Dessa forma, fica mais concreto a proposta do poder popular, que é exatamente o povo organizado para dirigir a sociedade de acordo com os interesses coletivos.
Devemos fortalecer a construção desse trabalho colocando como ponto central a organização popular. As cestas básicas entregues são de extrema importância para as famílias, mas o avanço obtido com a organização do povo é um passo muito significativo para construção do poder popular. Lembrando que precisamos sair mais fortes e mais organizado dessa quarentena para derrubar o governo fascista do presidente Jair Bolsonaro e enfrentar o próximo período, que dificilmente não será de grandes mobilizações e revoltas.

 

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