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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O manifesto “Nós Existimos!” é lançado em Belo Horizonte

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Lideranças das Periferias de movimentos populares e intelectuais de Belo Horizonte lançam Manifesto em apoio às pré-candidaturas de Leonardo Péricles e Indira Xavier a prefeitura de BH pela Unidade Popular – UP.

Por Redação de Minas Gerais

BELO HORIZONTE – Diversas lideranças e moradores das periferias de Belo Horizonte lançou nesta quinta-feira (13/08), às 16h na Praça da Estação através de um ato político o manifesto intitulado “Nós Existimos, lutamos e conquistamos”. O documento denuncia a invisibilidade sofrida por essa parcela da população e pelo histórico de direitos básicos negados desde a fundação da cidade, bem como na construção de uma representação política nos espaços de poder daqueles que muito contribuem para construir a cidade. O direito de ter voz na política, inspirados pelo histórico de lutas da população periférica, lançou as pré-candidaturas de Leonardo Péricles e Indira Xavier pela Unidade Popular (UP) para a prefeitura da capital mineira.

Os pré-candidatos Leonardo Péricles e Indira Xavier para a prefeitura de Belo Horizonte pela Unidade Popular (UP).
A leitura do manifesto foi lida aos militantes, em seguida foram realizadas várias intervenções de representantes de movimentos sociais, lideranças de bairros, vilas, favelas e ocupações urbanas, ativistas das periferias, do mundo acadêmico, apoiadores e pré-candidatos a vereador e vereadora da Unidade Popular, partido que conseguiu o registro eleitoral no final de 2019 e disputará sua primeira eleição. Estiveram presentes vários moradores de todas as regiões de Belo Horizonte. O ato seguiu todos os protocolos de distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel.
Leonardo Péricles fala sobre a importância do povo negro e periférico ter voz e está nos espaços de poder na política brasileira.
Ato político na praça da Estação em BH.
 MANIFESTO | NÓS EXISTIMOS! LUTAMOS E CONQUISTAMOS!

Manifesto de trabalhadoras e trabalhadores, negras e negros, mulheres, LGBTs, pobres, lutadoras e lutadores sociais das periferias em apoio a uma Pré-Candidatura Popular de esquerda à Prefeitura de BH e por uma cidade onde nossos direitos sejam respeitados 

A cidade de Belo Horizonte foi construída com a expulsão dos trabalhadores, das camadas mais pobres em sua maioria negra, que moravam nas áreas onde está hoje o hipercentro. Estima-se que o Curral Del Rey, vilarejo onde foi fundada a cidade, no século XIX, era habitado por 83% trabalhadores negros. (Historiadora Josemeire Pereira, 2018).

Para a construção da nova capital, a favela do Leitão e o alto da Estação foram despejadas do Centro. Desse modo, Maria Papuda e seu rancho foram expulsos para a construção do Palácio da “Liberdade”. Foram expulsos por uma elite Republicana, rica, racista e eugenista, que se impôs com a força violenta do Estado e do dinheiro, e que empurrou nosso povo trabalhador, negro e pobre para morar cada vez mais longe.

Somente a partir da década de 1990, com gestões populares na prefeitura é que se inicia um processo de reconhecimento dessa realidade, abrem-se novos olhares sobre a cidade, com a adoção de uma política progressista. Mesmo assim as elites mantiveram o controle da cidade e no decorrer dos anos impuseram vários retrocessos, tornando cada dia mais a prefeitura antipopular e antidemocrática. Nas gestões de Márcio Lacerda a política de habitação do município entrou em colapso e serviu para excluir ainda mais os pobres e trabalhadores. Levou BH a ter um dos maiores déficits habitacionais do país. As áreas de risco se multiplicam novamente e nos períodos de chuvas mais intensas como as desse ano, um verdadeiro caos se instalou levando centenas de famílias a perderem tudo, causando mais de uma dezena de mortes, segundo dados da Defesa Civil de MG.

Assim, fizeram da lógica de cidade elitizada e voltada para os interesses do capital uma prática, reforçando a especulação imobiliária, a privatização de espaços públicos, a implementação de um transporte coletivo caro e ineficiente e que exclui milhões do direito de ir e vir. Uma cidade em que famílias bilionárias administram o sistema agindo para impedir a modernização e a expansão do metrô, mantendo o monopólio de empresas. Colocam seus interesses econômicos acima das necessidades de milhões de trabalhadores. Só um governo popular será capaz de mudar essa difícil situação.

A Saúde e a Educação vem sofrendo ataques permanentes em todo o Brasil (com raras exceções), por quem quer transformar em mercadoria nossos direitos essenciais. Desenvolvem uma política de sucateamento, com o objetivo de reforçar o discurso de que só é bom o que é privado, com isso a maioria dos trabalhadores tem o acesso aos direitos elementares de saúde e educação negados. A defesa do SUS e da educação básica é fundamental. Esse discurso também acontece em Belo Horizonte, onde os investimentos nos serviços públicos não aumentam suficientemente para resolver o problema e consequentemente as filas para consultas especializadas nunca foram zeradas. A qualidade das UPAs e das escolas não melhora e nosso povo e nossos filhos seguem sofrendo. Por outro lado, os profissionais dessas áreas resistem às precárias condições de trabalho.

Apesar dos ataques aos nossos direitos e da violência urbana crescente, resistimos! Dezenas de favelas resistiram, quilombos permaneceram de pé, ocupações urbanas deram origem a diversos bairros, o povo pobre se impõe e mais de 70% da cidade segue sendo construída pelas mãos calejadas dos excluídos. Lutas continuam sendo travadas e vencidas pelo povo pobre: Corumbiara, Ubirajara, Dandara, Helena Greco, Camilo Torres, Irmã Dorothy, Eliana Silva, Nelson Mandela,  Izidora, Paulo Freire! São mais de 100 mil moradores e moradoras nas ocupações. Sem estrutura e enfrentando a repressão, as ocupações construíram muito mais moradias nos últimos 25 anos do que a prefeitura de BH. Exemplos importantes surgiram, construímos Creches comunitárias, abrimos e calçamos ruas, fizemos sistemas de esgoto alternativos, preservamos matas e nascentes, inciamos a construção de parques, limpamos e reformamos praças, construímos lixeiras onde não há coleta de lixo, alfabetizamos jovens e adultos, organizamos hortas comunitárias, criamos a primeira casa de referência da mulher vítima de violência da América Latina (a Tina Martins), conquistamos o meio-passe estudantil, produzimos arte com teatro e cinema realizados pelas nossas próprias mãos. Durante a pandemia temos conseguido evitar a fome de  milhares de famílias das comunidades, fortalecemos a economia solidária entre os moradores e moradoras das periferias, nos últimos anos, inserimos nossos jovens em projetos comunitários e de formação no dia a dia das comunidades, participamos ativamente das conferências municipais, ajudamos a construir e aprovar o novo Plano Diretor de BH, construímos mais de 20 mil moradias, vencemos pela teimosia e união do povo. São experiências coletivas que vão superando a burocracia imposta pelo descaso do poder público e dos ataques do fascismo. Portanto, não ficamos criticando sem apresentar soluções, trabalhamos para modificar essa realidade todos os dias. O que nos credencia a disputar eleições e ir além, acumular forças para, nas lutas sociais, construir o poder popular.

Nos últimos anos começou-se a retomar o Centro com as ocupações Luiz Estrela, que apoiamos desde primeira hora, estamos a frente da Ocupação Carolina Maria de Jesus, da Casa Tina Martins, apoiamos as ocupações Zezeu Ribeiro, Vicentão e todas as lutas pelo direito à cidade. O Centro ainda continua a ser retomado com o carnaval de rua, pela juventude com os duelos de Mcs e com as jornadas de luta!

Mesmo assim, as elites tentam nos silenciar, nos invisibilizar, para servirmos apenas como mão de obra barata. Os frutos desse trabalho e dessa cidade nunca nos foram garantidos, os ricos tiram todos os dias nossos direitos, pisam na nossa dignidade, sufocam a nossa liberdade, nos discriminam e boa parte de nós segue desempregada.

Somos motoristas de transportes urbanos, taxistas, professores, donas de casas, servidores públicos, urbanistas, empregadas domésticas, acadêmicos, pesquisadores, boys dos escritórios, estagiários, arquitetos, estudantes das escolas públicas, entregadores e motoristas de aplicativos, lavadores de carros, cozinheiros, cabeleireiras, pedreiros, vendedores nas lojas, ambulantes, trabalhadores em todo tipo de informalidade, serventes, caixas de supermercados, enfermeiras, entre outros. Exercemos as mais diversas atividades econômicas e somos criativos em todos os campos. Sim, porque para sobreviver nesse sistema de injustiças e crueldade, é preciso resistir, sonhar e lutar sempre!

Nossa pré-candidatura tem como prioridade fortalecer a luta contra o fascismo em nível federal, estadual e municipal. Hoje a maioria dos governos estão a serviço dos banqueiros e militares, genocidas, que provocaram mais de 103 mil mortes de brasileiros, em maioria negros e pobres, são governos que existem para massacrar a classe trabalhadora e o povo.

Nesta mesma pandemia, a postura da prefeitura tem sido diferente do Governo Federal, se apoia em pessoas de ciência que têm compromisso no combate ao Coronavírus. No entanto, não foram garantidas questões essenciais aplicadas mundo afora, como a condição de fazer testes em massa e condições reais de fazer quarentena que acabou virando um privilégio e não exercida pela maioria da população. Acharam que distribuindo cestas básicas, resolveriam o nosso problema. Esqueceram que um programa municipal que complementasse a renda das pessoas mais pobres deveria ter sido feito, que o álcool em gel deveria ser distribuído, que deveriam ter mais ônibus e que deveriam ter sido adaptados, que os micro e pequenos empresários precisam de ajuda e não os grandes. E esses grandes empresários que vencem a batalha e impõem a cidade voltar, defendem que trabalhemos, mas eles permanecem em suas mansões e condomínios fechados, dão ordens que nos expõem ainda mais ao perigo do vírus e da morte.

Pensamos e lutamos por uma cidade verdadeiramente democrática, humana, digna para seus habitantes. Já ocupamos com luta a prefeitura, a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa. Ocupamos por moradia digna, por reforma urbana, por educação, por trabalho e renda e pelo direito à cidade. Agora nossa jornada é ocupar os espaços políticos. E neles fazer o que se deve: romper as amarras de um poder que privilegia uma cidade para os ricos que são a imensa minoria.

Quando lutamos e exigimos nossos direitos, além da repressão, ainda têm os que nos chamam de radicais. Ou seja, querem que nós suportemos essa situação calados, de modo a aceitar o jogo bruto de pedir por favor aos políticos de carreira, muitos dos quais ligados a famílias ricas ou meros representantes dos interesses de empresários, especuladores e capitalistas selvagens, que somente querem nossos votos nas eleições. É necessário avançar, ocupar a política com mandatos populares que aumentem a representação progressista e de esquerda em BH. Estamos abertos ao diálogo por uma construção de uma unidade que derrote os fascistas e a direita conservadora, neoliberal e reacionária, que fortaleça a diversidade, combata toda espécie de preconceito, discriminação e que avance ainda mais as experiências transformadoras, expressando as lutas originadas das ruas e das periferias.

Inspirados na resistência histórica, na força do nosso próprio povo belo-horizontino, nós que construímos e mantemos essa cidade, resolvemos expressar que nós existimos! E cansados de apenas resistir, resolvemos ter partido, construimos a Unidade Popular – UP, decidimos disputar o poder das mais variadas formas, dentre elas, lançando uma pré-candidatura popular à prefeitura, com Leonardo Péricles e Indira Xavier. Uma chapa negra, da periferia, e do povo, para quebrar essa estrutura secular de cidade racista e romper com os privilégios da minoria mais rica que oprime!

Viva a luta dos trabalhadores, trabalhadoras e do povo das periferias!

Por um governo popular, democrático e que assegure a participação do povo!

Maria Papuda, Izidora e Eliana Silva vivem e lutam!

 
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