Giselle Woolley
Professora de Ciências Biológicas e mestre pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
RECIFE (PE) – Nos discursos da mídia burguesa sobre a universidade pública a intenção de convencimento é apenas uma: a aprovação do Enem ocorre pela meritocracia, ou seja, se você foi um aluno estudioso e dedicado, ingressará na universidade; caso não entre, o problema está no aluno, que não dedicou tempo necessário a sua educação.
Uma pesquisa realizada em 2017 na Universidade de Brasília (UnB) mostrou que apenas 0,16% de jovens de baixa renda ingressavam na universidade, quer dizer, a cada 600 jovens que realizam a prova, apenas um consegue a vaga. E tem mais: o questionário socioeconômico mostra que pontos como cursar o ensino médio em colégio público, não ter carro, não ter computador, não ter acesso à internet nem telefone fixo, frequentado escola com pouca infraestrutura e renda familiar inferior a um terço do salário mínimo correspondem a um peso de 85% dos fatores determinantes de quem ingressa no ensino superior público, comprovando que a aprovação nada tem a ver com a dedicação pessoal, que a falha está neste sistema econômico que tem como objetivo manter os trabalhadores nos subempregos, garantindo a exploração burguesa.
Dentro deste mínimo grupo (0,16%), ainda é possível notar que muitos dos cursos optados pelos estudantes não são de fato o curso almejado, já que os cursos mais concorridos nas universidades públicas estão reservados, em sua maioria, para os alunos vindos de classe econômica alta. Um exemplo é o curso de Medicina. Um estudo realizado pela UFPE para traçar o perfil social dos estudantes dos cursos de saúde mostra que 96,4% das pessoas que cursam Medicina pertencem à chamada elite da sociedade e apenas 2,9% correspondem a jovens de classe baixa.
E este tipo de sectarismo é demonstrado na sociedade: falta de médicos no SUS, nos interiores, em aldeias, regiões ribeirinhas, falta médico humanizado, isto porque precisamos garantir que a grande representatividade do povo chegue até estes cursos e nossa representatividade não é esta corja de capitalistas que veem a vida do povo como mercadoria.
O acesso remoto a aulas durante a pandemia evidenciou a desigualdade social e a dificuldade ao acesso à educação, mostrando que a meritocracia no Brasil é apenas ilusão. Pesquisa realizada pela TIC Domicílios 2019, mostra que cerca de 30% das famílias no Brasil não têm acesso à internet; destas, 29,3% não têm rede de água; 60% não têm acesso à rede de esgoto. Já no grupo de pessoas com renda mensal de até um salário mínimo, metade não consegue utilizar a conexão em casa, enquanto que nas classes sociais mais altas, apenas 1% não tem conexão.
Outro dado importante: nas classes sociais altas, 90% dos alunos têm notebook e 49%, tablet. Nas classes sociais mais baixas, os índices são de 3% e 4%, respectivamente, fazendo do celular o único meio de acesso às aulas remotas, o que não garante a qualidade na visualização de conteúdo, vídeos, interação com professores e compatibilidade com aplicativos exigidos para aula.
Mesmo diante destas condições nada iguais entre a classe trabalhadora e a burguesia, foi necessária uma mobilização geral dos estudantes pedindo o adiamento do Enem, protestos e muitas mobilizações virtuais, campanhas e, por fim, a derrota no Senado, com 75 votos a favor do adiamento e um contra, do senador Flávio Bolsonaro. Foi proposta uma votação para decidir o melhor data para o Enem (entre os meses de dezembro, janeiro e maio/2021), a maioria dos estudantes decidiram pelo mês de maio (49,6% dos inscritos), porém, como costumeiro deste governo burguês, o resultado da votação não foi respeitado e a opinião pública da maioria foi descartada sem qualquer argumentação plausível.
A reação da maioria das instituições particulares, sobre esta decisão antidemocrática, não surpreendeu. Comemoraram a data, já que os jovens da classe trabalhadora, pobres e periféricos tiveram sua chance de concorrer a uma vaga surrupiada mais uma vez.
É necessário perceber que ingressar numa universidade não implica apenas no significado vendido pela burguesia capitalista de “mudar de vida” baseado no salário depois de formado. Ter acesso à educação de qualidade, a ambientes onde o debate é estimulado, onde o indivíduo é encorajado a ampliar sua mente, abre os olhos para esta exploração e opressão que os trabalhadores sofrem desde a implantação desde sistema econômico covarde e violento, que é o capitalismo.
A burguesia deseja manter essa “venda”, pois sabe que um povo livre das amarras capitalistas determinadas durante tanto tempo, não aceitará o descaso e a imposição e, desta forma, realizará a grande revolução socialista, libertando-se dos grilhões desses opressores podres.