Isabela Alho e Felipe Fly
Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas
SÃO PAULO – Na tarde do último sábado (20), 4 viaturas da BAEP, 4 da Força Tática e 11 Rocam chegaram à Rua Mauá, onde se encontra a Ocupação Mauá, na região do centro de São Paulo. Fortemente armados, os policiais invadiram o prédio sem mandado judicial e sem abrir espaço para negociação com as lideranças do movimento que estavam no local. A invasão foi realizada pelo 7º batalhão da PM tem histórico em invadir ocupações urbanas, como fez em 2013, reintegrando violentamente a Ocupação do Espigão.
Além de impedir a entrada das lideranças do movimento no prédio, os policiais também proibiram as famílias que estavam no prédio de sair de suas casas. Depois de algum tempo, pressionada, a polícia permitiu a saída de algumas pessoas, mediante revista invasiva e injustificada. A invasão ocorreu sem amparo legal, seja de um mandado expedido previamente ou autorização para o porte de armas ou uso de cães farejadores nas residências das famílias.
O quadro se agrava mediante o registro das câmeras internas que mostram um dos policiais entrando com uma mochila cheia, e saindo com ela vazia, logo após deter uma das moradoras que foi levada grávida para a 2ª DP, acusada de porte de entorpecentes. Outra moradora da ocupação relata que: “eles chegaram numa loucura, por volta de 15h e pouco da tarde, eu me apresentei, não deixaram eu entrar e quem estava dentro não podia sair. Foi bem constrangedor, muito desrespeito.”
No vídeo da câmera interna da ocupação é possível ver os fuzis da polícia apontados para cima, mirando nas moradias de trabalhadores, crianças, mães e pais de família, ou seja uma ação fascista, violenta e inconstitucional.
Liberdade imediata a Adriano, Silmara e Neti
Na noite de ontem (25), lideranças das ocupações Mauá e Pena Forte, os companheiros Adriano, Silmara e Neti, foram levados pela polícia civil sob a justificativa de que estariam envolvidos nos casos de furto da região de da Luz (SP), mesmo sem ter nenhuma prova. A prisão destas lideranças da luta por moradia tem por objetivo criminalizar os movimentos e impedir a luta pelos direitos do povo pobre.
Apesar disso, a Ocupação Mauá resiste. “Eles tem feito de tudo para criminalizar os movimentos de moradia. Nós lutamos por habitação, é isso que fazemos, há anos. Não vamos nos assustar, seguimos firmes na luta, que é o nosso lugar. Precisamos denunciar nas ruas, com o povo” disse o coordenador da Ocupação, Nelson, ao Jornal A Verdade.
Na próxima semana, a Ocupação Mauá comemora 14 anos de existência. Quando a ocupação foi realizada, naquele terreno havia um hotel que já não exercia atividade alguma havia anos e encontrava-se em total situação de abandono. No lugar de um prédio abandonado surgiu a ocupação que abriga mais de 230 famílias, além de atividades culturais e educacionais. As famílias que moram ali cumprem o previsto no ordenamento jurídico, uma vez que conferiram uma função social à propriedade que estava inutilizada.
Alinhado à política do Governo Bolsonaro de extinção dos programas habitacionais para a população de baixa renda, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), massacra todos os dias o povo que precisa de moradia. Não podemos permitir que ações inescrupulosas como essas ocorram sem denúncias. Num país em que 7,8 milhões de pessoas se encontram numa situação de déficit habitacional, em que tivemos a pior gestão do mundo com relação à pandemia da COVID-19, é preciso, justo e necessário que defendamos as ocupações de moradia organizadas.
Não recuaremos. A cidade é do povo. A terra é do povo. E se estamos em nosso direito, ninguém há de tirá-lo.
Todo apoio à Ocupação Mauá!
Só o povo salva o povo!
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!