Rodrigo dos Anjos Nascimento foi assassinado por milicianos da região de Curicica, Zona Oeste da cidade. A principal suspeita é que o rapaz tenha sido vítima de uma tentativa de abuso, seguida de execução. Em nota, a UFRJ afirmou que o estudante “foi vítima da violência e da homofobia tristemente vicejante em nossa sociedade”.
Por Leonardo Gonçalves
Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO – No último dia 22 de fevereiro, o estudante de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rodrigo dos Anjos Nascimento, foi assassinado por milicianos da região de Curicica, Zona Oeste da cidade. O jovem estava em uma festa na comunidade Dois Irmãos quando foi abordado por milicianos.
A principal suspeita é que o rapaz tenha sido vítima de uma tentativa de abuso, seguida de execução. Rodrigo foi mais uma vítima de LGBTfobia e da ação violenta das milícias, que dominam uma parcela cada vez maior do Rio.
A UFRJ se posicionou através do Instituto de História e do Conselho Universitário, que lançaram moções de pesar pelo caso. No texto, a universidade afirma que “Rodrigo foi vítima da violência e da homofobia tristemente vicejante em nossa sociedade. As circunstâncias do seu assassinato revelam os desafios ainda presentes para a construção de um país mais justo, igualitário e de respeito à dignidade humana”.
A morte de Rodrigo é mais uma pra conta de um país que, mesmo durante a pandemia, segue perdendo mais de 40 mil pessoas por ano vítimas de homicídios. É consequência também de um projeto de nação criado para que um pequeno grupo de indivíduos lucre com a constante pobreza e abandono de uma parte considerável da população. Esse modelo de país serve única e exclusivamente a uma elite, enquanto a maior parte do povo não tem acesso pleno aos direitos mais básicos, como segurança e lazer.
O poder das milícias
As milícias cariocas ocupam uma parte considerável da Zona Norte, Zona Oeste e Baixada Fluminense. Segundo pesquisa do Grupo de Estudos Novos Ilegalismos (GENI/UFF), esses grupos paramilitares ocupavam 25,5% dos bairros da capital fluminense, em 2019.
É difícil ver as milícias apenas como um poder paralelo que cresce onde o Estado é ausente. Nos locais onde atuam, elas se colocam como o próprio Estado, sendo responsáveis por diversos serviços, como internet, gás, televisão, lazer, transporte e segurança. As milícias nasceram e cresceram do que há de mais podre e corrupto do sistema capitalista; são fruto da corrupção policial e especulação imobiliária. Hoje estão completamente entrelaçadas ao Estado burguês e são bases de apoio fundamentais para o bolsonarismo, com quem mantêm relações bastante próximas.
Preconceito e violência
Atualmente, a população LGBT é vítima constante da violência que domina a “Cidade Maravilhosa”. Seus corpos não cabem no cartão postal.
Todos os dias, vemos a cidade triturar sonhos e afetos de quem mora na periferia ou não se enquadra nos padrões pré-definidos pela sociedade. Rodrigo tinha apenas 22 anos e uma vida inteira pela frente. É mais um jovem cheio de sonhos que se vai.
Mais do que nunca, é necessário se organizar para resistir à ofensiva conservadora, defender um projeto de cidade mais inclusivo, que deixe de ser uma máquina de moer sonhos e gentes, como é no capitalismo. Defender a vida e a causa LGBT em um dos países que menos tolera essa existência é defender uma pauta anticapitalista. A memória de Rodrigo e tantos outros dos nossos, que são constantemente atacados por esse modelo excludente de sociedade, precisa permanecer viva.