Familiares e amigos organizaram diversas manifestações para cobrar da polícia uma resposta sobre o caso. “A polícia não tem nenhuma pista. Vou lá quase todo dia para que o caso não caia no esquecimento. Alguém tem de me explicar como é que essas crianças sumiram assim, sem ninguém ver”, disse a avó de duas das crianças desaparecidas.
Por Karol Lima | Redação Rio
RIO DE JANEIRO – Há 75 dias os meninos Lucas Matheus (8), Alexandre da Silva (10) e Fernando Henrique (11) estão desaparecidos. Sem qualquer pista sobre seu paradeiro atual, foram vistos pela última vez em 27 de dezembro, por volta das 10h30, quando saíram para brincar perto de casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A família informou que os meninos sempre saíam aos domingos para brincar num campo de futebol próximo ao condomínio onde viviam e voltavam no início da tarde, mas nesse dia não retornaram.
Familiares e amigos organizaram diversas manifestações na região a fim de cobrar da polícia uma resposta sobre o caso. Num dos protestos, um ônibus foi queimado em frente à Delegacia de Homicídios de Belford Roxo após a família acreditar que um homem seria culpado pelo caso. Os investigadores, entretanto, negaram sua participação alegando que o rapaz foi alvo de “notícia falsa” e que teria sido torturado por traficantes pela suposta relação com o crime.
Pistas falsas
Desde o dia 28/12, a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense tem ciência do caso e diz ter começado as investigações com imagens de câmeras que possam ter registrado o caminho dos meninos, mas até hoje não há nenhuma nova informação concreta. Durante esse tempo, as mães receberam inúmeras ligações, até mesmo de outros estados, mas todas não passaram de pistas falsas.
A Polícia Civil colheu material genético das mães dos meninos e comparou com o sangue de uma camisa encontrada na casa do homem levado à delegacia como suspeito. Seu possível envolvimento veio à tona devido ao material de abuso sexual infantil encontrado no seu celular, mas foi confirmado pelo Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense (IPPGF) que não havia compatibilidade no sangue, que era na verdade de sua esposa. A Divisão de Homicídios suspeita da possibilidade de envolvimento do tráfico local no desaparecimento, seguindo uma linha de que os meninos teriam sido mortos após um deles ter roubado uma gaiola de passarinho do parente de um dos traficantes do Castelar, região onde vivem, mas até hoje também não há nenhuma informação concreta sobre isso.
“A polícia não tem nenhuma pista. Vou lá quase todo dia para que o caso não caia no esquecimento. Alguém tem de me explicar como é que essas crianças sumiram assim, sem ninguém ver”, disse a avó de Alexandre e Lucas.
Os agentes policiais responsáveis dizem ter feito análises de mais de 40 câmeras e nenhuma pista foi encontrada. Porém, ontem (10/03), em apuração do Ministério Público, uma câmera de segurança na Rua Malopia, no bairro Vila Medeiros, próximo ao local onde eles moram, revelou imagens dos garotos às 13h39 do dia em que desapareceram. Como pode a Divisão de Homicídios não ter visto isso antes?
Ausência de dados sobre desaparecimentos no RJ
No Rio de Janeiro, centenas de pessoas estão desaparecidas. Apesar disso, a ausência de dados sistematizados em relação a esses desaparecimentos no Estado é uma realidade que impede a solução de muitos casos.
Dessa forma, não há como identificar que casos são homicídios com ocultação de cadáver, mortes violentas pelo Estado, tampouco as especificidades como faixa etária e raça. O que impera é um verdadeiro descaso, pois sabemos que a maioria das mortes violentas provocadas pela polícia são de jovens negros e negras.
A suposta negligência com que os casos de desaparecimento são tratados, somada à total falta de informação durante tantos anos, indica a possibilidade de encobrimentos de diversos crimes violentos e prova de que lado está a instituição policial em nosso país.
Enquanto isso, as famílias seguem sem respostas.