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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

As brigadas de solidariedade no Brasil

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Brigadas de Solidariedade são acompanhadas de leitura e debate do Jornal A Verdade. Foto: Jornal A Verdade

Jorge Ferreira


SÃO PAULO – Conhecemos o senhor Dorgival há aproximadamente um mês enquanto batíamos de porta-em-porta nas casas do Lageado, bairro da zona leste de São Paulo, coletando contribuição de alimentos dos moradores para montarmos cestas básicas. Saiu de sua casa e veio até o portão andando calmamente para nos explicar que gostaria, mas não poderia contribuir. Com as mãos no portão e o olhar fixo em nossa direção, serenamente justificou, como quem se constrangesse por não poder ajudar, que havia acabado de conseguir um pacote de arroz fiado na venda do bairro, e que apesar de todos os dias montar sua barraca de frutas e verduras na região, o que ganhava não estava sendo suficiente para garantir a alimentação da família. Enquanto fazíamos seu cadastro para receber uma cesta das Brigadas de Solidariedade, Dorgival um pouco emocionado confessou “olha, filho, até ovo tá difícil comprar… fazem 3 meses que eu tenho vontade mas não sei o que é comer carne…” Conseguimos montar as cestas em 2 semanas de trabalho e voltamos em sua casa para entregar, quando fomos surpreendidos pela notícia dada por sua esposa de que Dorgival havia falecido. 

A verdade é que por mais que nos esforcemos, não conseguiremos resolver a fome de todo o povo, e no Brasil é cada vez mais comum homens e mulheres falecerem com vontade de comer um pedaço de carne. Isso quer dizer que os revolucionários devem se conformar e reconhecer que as Brigadas de Solidariedade nada podem fazer para contribuir com a mudança da realidade de fome em que mais da metade dos brasileiros vivem? Absolutamente não. A construção das Brigadas de Solidariedade são do ínicio ao fim do processo de montagem e entrega das cestas uma possibilidade de elevar o nível de consciência dos trabalhadores, recrutar os melhores filhos da classe operária para a luta revolucionária e fortalecer ideologicamente os militantes na máxima de que só o povo salva o povo. 


Lembro daquele começo de março de 2020, quando ainda no trabalho recebi a ligação de um camarada “será como um desastre natural, precisamos organizar nossas tarefas. quando você pode se reunir?” Naquele momento de incerteza e medo generalizado pela chegada de uma pandemia, a primeira para a grande maioria do povo, os comunistas revolucionários orientados pelo seu Partido tomavam a decisão de estar desde o primeiro minuto na linha de frente, apoiando os movimentos sociais, distribuindo máscara, álcool em gel, organizando a solidariedade em cada favela de norte a sul do país. De lá para cá foram atendidas aproximadamente 35 mil famílias regularmente, distribuído mais de 400 toneladas de alimentos, além de roupas, sapatos, e apoio ao cadastramento de milhares de famílias para receber o auxílio emergencial. É verdade que o número ainda é pequeno perto das 125 milhões de famílias que vivem insegurança alimentar nessa pandemia, ou seja que não sabem o que vão comer no dia seguinte, conforme aponta a pesquisa coordenada pelo Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça. Mas as dezenas de milhares de famílias atendidas pela rede de solidariedade construída pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, pelo Movimento Luta de Classes e pela União da Juventude Rebelião não foram alimentadas apenas com comida, mas também foram alimentadas com a imprensa popular através dos exemplares do Jornal A Verdade, debateram as alternativas para mudar essa situação, e viram com os próprios olhos que o povo organizado pode construir uma sociedade muito mais justa e solidária do que a sociedade comandada por  meia dúzia de bilionários como é no sistema capitalista.

Leonardo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular e morador de ocupação, em suas redes sociais postou vídeo recentemente falando sobre as tarefas imediatas dos revolucionários e o trabalho das Brigadas de Solidariedade:  

“Às vezes a pessoa tem uma compreensão de que a luta revolucionária é somente quando estamos na manifestação, na greve, na ocupação, mas a gente tem a tradição também de fazer esse trabalho com esse Jornal que é um instrumento, uma das maiores armas que nós temos agora, o conteúdo das denúncias políticas e o conteúdo das ideias revolucionárias, esse é o Jornal A Verdade. Nós estamos no meio de uma pandemia e estamos apoiando ativamente a rede de solidariedade dos movimentos sociais, estamos juntando uma coisa na outra. Além de distribuir a cesta que consegue parcialmente o problema da fome de uma parcela das pessoas, também estamos procurando resolver o problema da fome intelectual, da fome de ideias, e por isso estamos colocando junto das cestas os jornais que vão para as ocupações. Esse trabalho precisa ser fortalecido, é parte do grande trabalho de base que a esquerda, os revolucionários e as revolucionárias precisam fazer para retomar o nosso trabalho com muita força em cada canto desse país.” 

Colocada as tarefas dos revolucionários, fica claro que cada cesta entregue não é somente uma cesta de alimentos, mas a possibilidade de ganhar mentes e corações para a luta revolucionária. Talvez seja por isso que os reformistas, aqueles que negam o protagonismo das massas trabalhadoras na transformação da sociedade, propagam aos quatro ventos que nada está sendo feito pelos revolucionários. Por outro lado, precisamos reconhecer que podemos e devemos ter mais ousadia na agitação e propaganda, denunciar na porta das grandes redes de supermercados quem são os responsáveis por milhões de pessoas não poderem se alimentar, quem são os culpados pela miséria que o povo brasileiro vive. Decidimos não receber um centavo dos grandes empresários, mas decidimos por esse caminho porque temos a certeza de que as Brigadas de Solidariedade podem e devem contribuir para a construção da revolução socialista brasileira. Cada coletivo deve refletir profundamente quantos desses milhares de trabalhadores que receberam as cestas  podem ingressar nas fileiras do exército revolucionário da classe trabalhadora. Para que mais ninguém morra com vontade de comer um pedaço de carne, é necessário organizar a solidariedade, é necessário crescer o Partido.

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