Lúcio Apoema, Salvador-BA.
Marcelo Leite era figura de destaque no bairro da Valéria, periferia de Salvador-BA. Participava da associação de moradores, lutou contra a retirada das linhas de ônibus da Pituba, Barroquinha, Lapa e Comércio. Atualmente, a localidade conta apenas com Estação Pirajá, para se deslocar da cidade. Ao ver o antigo módulo policial do largo ser demolido pelos moradores, em 2017, após estar abandonado há anos, o diretor da Associação de Moradores do Bairro comentou: “Espaço poderia ser utilizado para servir à comunidade como exemplo, base de apoio de combate Zoonoses ou vacinação de caninos.”
Sua luta era pelo direito a cidade. Sabia que espaço público abandonado é pra ser ocupado pelos moradores e em prol dos mesmos. Como diz Seu Jorge em sua canção Zé do Caroço: “É que o Zé bota a boca no mundo/ Ele faz um discurso profundo/ Ele quer ver o bem da favela”. É com muito pesar, que noticiamos sua execução, feita em frente a familia, no dia 8 de abril de 2022. Marcelo ouviu batidas na porta e foi surpreendido por um grupo armado.
Não foi o primeiro líder comunitário a ser assassinado no bairro. Amilton Gonçalves Leite foi atingido com 14 tiros no corpo, em 2016. Há outras semelhanças nos dois casos: ambos aconteceram quando teve briga entre o tráfico e a polícia. Os moradores relataram ao Jornal Correio: Amilton foi assassinado por “saber demais”. Tais casos demonstram pra nós uma guerra dupla, contra nossos lutadores sociais e o povo pobre, escondida por trás do lema de “guerra às drogas”. Ora, o Estado não visa acabar com as drogas, a dependência química, as gangues criminosas, caso pensasse, não teria ampla propaganda do álcool, uma das substâncias psicoativas que mais causa acidentes de trânsito.
Por fim, é necessário falar também sobre as suas vidas. Elas são exemplo para todos nós. O nosso obrigado por ter botado a boca no mundo. Que o nosso povo continue a seguir em frente. E que não tenha minutos de silêncio, mas sim, toda uma vida de luta.
#MarceloLeiteVive #AmiltonVive