Ícaro Vergne
Salvador-BA
JUVENTUDE – Em tempos de ameaça fascista, onde temos um presidente que defende a volta da ditadura militar que torturou estudantes e tentou construir uma narrativa de golpe no 7 de setembro, é preciso resgatar o movimento estudantil combativo na UFBA. Os estudantes foram os primeiros a ser atacados por esse governo, com cortes absurdos que fizeram sangrar a educação pública, nós passamos fome. Os ataques à educação foram despejados sobre as costas dos estudantes pobres, com os cortes nas bolsas, pesquisas e na assistência estudantil que afetaram a permanência em plena pandemia. Para sobreviver, muitos tiveram que trocar a universidade pelo trabalho.
A UFBA, apesar de ser a maior universidade federal do nordeste, foi a terceira do país a sofrer mais cortes. As bolsas de indígenas e quilombolas foram cortadas, a residência estudantil esteve ameaçada de fechar, deixando estudantes sem moradia. As estudantes que são mães não estão conseguindo permanecer na UFBA, devido ao mau funcionamento da creche. O BUZUFBA estava com apenas 2 frotas durante o início do semestre, e mesmo após o aumento para 4, ainda é um serviço insuficiente para a demanda de estudantes e os ônibus estão sempre lotados.
O R.U ficou fechado por quase 3 meses, deixando os estudantes que dependem disso para a sua permanência com fome. Mesmo com a volta do R.U de Ondina, os outros seguem fechados ou com obras paralizadas. Estudantes de outros campus precisam sair mais cedo de suas aulas para chegar em Ondina a tempo de pegar a ficha e se alimentar. É comum as fichas acabarem e ainda ter estudantes na fila, ficando sem refeição. São 750 fichas para almoço e jantar em uma universidade que possui mais de 40 mil estudantes.
A insegurança no campus é cada vez maior e casos de assaltos são diários. As mulheres sofrem com o assédio e são perseguidas por homens até nos banheiros. À noite, falta iluminação nos campi, o que torna ainda mais inseguro. Os cursos noturnos, que compreendem grande parte dos estudantes trabalhadores, estão cada vez mais esvaziados, o que aumenta a insegurança. As demissões em massa de funcionários da segurança durante a pandemia contribuíram para isso. Os trabalhadores que não foram demitidos estão sobrecarregados, principalmente do setor da limpeza, e relatam problemas de saúde.
O transporte público da cidade é péssimo e, principalmente à noite, os estudantes passam por grandes dificuldades para retornar às suas casas. Muitos bairros, em guerra, anunciam toques de recolher. Com o alto desemprego, muitas vezes falta dinheiro para a passagem de ônibus. Ainda assim, a prefeitura de Salvador aumentou o preço da passagem para R$ 4,90. O DCE da UFBA precisa organizar os estudantes para lutar contra o aumento da passagem e pelo direito ao passe livre estudantil, conquistado em outros estados mas que ainda não é realidade na Bahia. O direito ao passe livre é fundamental para garantir a permanência estudantil na universidade.
O sucateamento da UFBA tem como objetivo privatizar e fazer da educação um negócio bilionário para aumentar o lucro das empresas que atuam no setor. Querem com isso elitizar as universidades federais, negando aos estudantes pobres o direito de estudar. Não à toa, o último período foi marcado pela EC95 que congelou investimentos na saúde e educação por 20 anos; pela tentativa de implementar o “Future-se” que objetivava destruir a autonomia universitária e mais recentemente, aplicou um corte de 3,2 bilhões de reais no Ministério da Educação (MEC), afetando a UFBA em 26 milhões. Simultaneamente, o governo articula a implementação PEC206 que pretende cobrar mensalidades nas universidades públicas, destruindo o seu caráter gratuito e a revisão da Lei de Cotas que ameaça destruir essa conquista histórica dos estudantes.
Mesmo diante de todos esses ataques, o DCE não fez nenhum esforço em organizar os estudantes na luta para defender a nossa universidade. Pelo contrário, promoveu um afastamento dos estudantes e por isso, muitos desconhecem a importância de um DCE. O DCE da UFBA representa mais de 40 mil estudantes que, organizados, têm condições de construir grandes lutas e barrar os ataques à educação.
A atual gestão do DCE também vacilou em não se somar às mobilizações pelo Fora Bolsonaro no dia 29 de maio, que deu início a grandes lutas que foram capazes de afastar a ameaça de golpe fascista, incentivada por Bolsonaro, militares e seus apoiadores. Entretanto, os estudantes foram às ruas porque não aguentavam esperar. Era preciso defender a vacina e o auxílio emergencial para que o nosso povo não tivesse que morrer de fome. Era preciso ir às ruas denunciar o extermínio da juventude negra nas periferias, do povo indígena e dos camponeses que lutam por terra. Era preciso desgastar o governo Bolsonaro e o fascismo nas ruas e não apostar todas as fichas nas eleições de 2022.
O DCE da UFBA precisa refletir a vontade dos estudantes, que não se calaram durante esse período, assim como não se calaram durante o tsunami da educação em 2019. Assim como também não se calaram no início do semestre que, sem depender do DCE, os estudantes se organizaram em plenárias e construíram um ato em frente à reitoria para exigir o retorno do R.U e das frotas do BUZUFBA. Como reflexo do acúmulo dessas lutas em defesa da nossa universidade, a Chapa 2 Oposição – Reconstrução e Luta está disputando as eleições para o DCE da UFBA com o objetivo de transformar essa entidade, que abandonou a luta nos últimos anos, e resgatar o movimento estudantil combativo que construiu grandes lutas na ditadura militar e pela redemocratização em nosso país.