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domingo, 24 de novembro de 2024

Nos EUA, Democratas e Republicanos se unem para atacar direitos dos trabalhadores

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A pedido de Biden, Congresso americano nega direitos de greve a trabalhadores ferroviários. Dias antes, o Senado ter bloqueado a garantia de número mínimo de folgas por motivos de saúde.

Rodolfo Schasiepen, Mateus Carneiro e Thaís Lugoboni | Estados Unidos


INTERNACIONAL – Regularmente os EUA são usados como exemplo de sucesso capitalista. Porém, qualquer análise das condições de trabalho na chamada “terra da oportunidade” nos mostram os reais custos e beneficiados desse sucesso.

Os lucros empresariais exorbitantes declarados ano após ano são baseados, e dependentes, de um sistema de exploração que nega necessidades básicas aos trabalhadores. Em 2022, 30 milhões de estadunidenses não estão assegurados por lei a direitos básicos, como licença maternidade e férias remuneradas.

Durante sua campanha eleitoral, o candidato democrata Joe Biden afirmou aos sindicatos que criaria mecanismos de “barganha” para que trabalhadores pudessem lutar por melhores condições de trabalho em diversas áreas de atuação. Além de encorajar a criação e fortalecimento de sindicatos a fim de fortalecer a “classe média americana”, como consta em seu programa de governo.

Governo Biden mentiu para os trabalhadores

No último dia 2, Biden sancionou com apoio bi-partidário, uma medida que impõe o fim das negociações contratuais pelos sindicatos dos ferroviários, e rescinde seus direitos de greve. Mais cedo na mesma semana, o senado negou uma outra medida que garantiria 7 dias de licença saúde, uma das reivindicações dos trabalhadores.

Diferente do Brasil, onde um atestado médico justifica uma falta emergencial, o sistema estadunidense não garante o direito de falta remunerada em caso de problemas de saúde. O trabalhador é forçado a usar o (pouco) tempo de férias que tem para necessidades médicas, e isso é agravado devido à falta de um sistema de saúde público gratuito.

A medida sancionada foi feita às pressas, dias antes de carregamentos de água potável, comida e combustíveis serem colocados de lado. A possibilidade de greve vem se arrastando desde julho de 2020 com os trabalhadores reivindicando aumento de 24% do salário entre o período de 2020 a 2024, um pagamento imediato de 11 mil dólares no momento da ratificação e sete dias de licença saúde.

Empresas ferroviárias compraram votos de parlamentares

As grandes corporações ferroviárias sempre estiveram conscientes de que uma grande greve estava se formando e por isso têm trabalhado para afrouxar a legislação em torno de seus trabalhadores e seus direitos.

Diversos congressistas, tanto democratas, partidários de Joe Biden quanto republicanos (partido do ex-presidente Donald Trump), receberam um total de 20 milhões de dólares em doações para as campanhas eleitorais das mesmas corporações na última década. Apenas nos últimos dois anos, Union Pacific e BNSF Railway Company – que encabeçam as negociações com sindicalistas – injetaram 1,5 milhões de dólares cada em campanhas e fundos eleitorais, como reportado pelo Intercept.

Depois de derrota perante congresso e senado, os quatro sindicatos que não concordaram com a medida aprovada de apenas um dia de licença saúde e que representa mais de 100 mil trabalhadores, declararam que as negociações foram insuficientes e injustas por parte do Congresso.

As empresas que detém o monopólio dos serviços ferroviários nos Estados Unidos, pressionaram de forma extremamente agressiva para que trabalhadores não tivessem direito a nenhum dia de licença, uma vez que seria conflitante com a política que mantém o menor número possível de funcionários na tentativa de maximizar seus lucros e recuar ainda mais os trabalhadores.

Outro voto que não passou no senado foi caso a greve se concretizasse poderia ser estendida por 60 dias. A extensão foi rejeitada por 25-70, uma forte maioria bipartidária em um senado normalmente dividido por um ou dois votos, demonstrando as prioridades de ambos partidos americanos.

O resultado deixou milhares de trabalhadores furiosos e decepcionados com a falta de apoio do partido Democrata após promessas eleitorais de leis que garantiriam licença saúde e fortalecimento dos sindicatos, em especial aqueles que fazem parte de setores estratégicos como transporte, metalúrgica e o setor de serviços. Após ter sido eleito com o apoio de mais de 50 sindicatos espalhados pelo país, Biden mostra os limites da democracia burguesa e a impossibilidade de estar ao lado da classe trabalhadora.

Garantia de falta por motivo de saúde é vetada no Senado

A medida que garantiria a folga por motivos médicos aos trabalhadores ferroviários teve um apoio surpreendente no Congresso, marcado pela brincadeira do senador Bernie Sanders (DEM-Vermont) dizendo “Sempre soube que você era um socialista” ao senador Ted Cruz (REP-Texas), um caricato conservador Republicano e apoiador de Trump.

Aprovada no Congresso, a medida foi bloqueada por falta de votos por um Senado controlado pelo partido Democrata enquanto a medida que retira direitos é aprovada às pressas e com ampla maioria. É flagrante vermos o  governo de Joe Biden descumprindo com suas promessas aos cidadãos e colocando interesse das grandes transportadoras ferroviárias à frente dos trabalhadores.

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