As grandes empresas de tecnologia, que obtiveram grandes lucros nos últimos semestres, apostam na demissão de milhares de trabalhadores para rebaixar seus salários.
Carolina Matos | São Paulo
TRABALHADOR UNIDO – Em todo o mundo, a crise econômica aprofundada pela pandemia está impactando o mercado de trabalho. As big techs, como são chamadas as grandes empresas do ramo de tecnologia, devem aprofundar essa tendência em 2023.
Um relatório da consultoria Challenger, Gray & Christmas, divulgado em janeiro deste ano, apontou que as demissões no setor global de tecnologia aumentaram 649% em 2022 comparado com o ano anterior. Para 2023, os cortes devem continuar.
A Alphabet, empresa dona do Google, anunciou que irá demitir 12 mil funcionários, o que corresponde a 6% de toda sua força de trabalho. Em comunicado aberto, a Microsoft também declarou que desligará 10 mil empregados, sendo que já demitiu cerca de mil trabalhadores em 2022. A Amazon planeja demitir 18 mil pessoas. A Salesforce anunciou que pretende desligar 10% de sua equipe.
A Meta, controladora do Facebook, afirmou que realizará um corte de 11 mil empregos. No Brasil, filiais estrangeiras, startups e empresas menores do segmento de serviços de Tecnologia da Informação demitiram mais de 200 mil empregados em 2022, 26 mil a mais do que em 2021, de acordo com o Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Todas essas empresas de tecnologia tiveram grandes lucros em 2022. Em balanço divulgado em outubro do ano passado, a Meta registrou lucro líquido de mais de US$4 bilhões (20 bilhões de reais).
A Amazon também tem obtido resultados expressivos, contando com lucro líquido de US$ 2,8 bilhões (14 bilhões de reais) no terceiro trimestre de 2022. A Microsoft fechou o ano passado com lucro de US$ 16,4 bilhões (82 bilhões de reais). As demissões, portanto, não se deram por prejuízo no setor. Acontece que a taxa de lucratividade desses grupos sofreu certa queda em 2022 em relação ao mesmo período em 2021, e isso incomoda os capitalistas.
Para justificar as demissões em massa, os anúncios oficiais das big techs falam de uma suposta necessidade de “enxugamento” e “reestruturação”. Especialistas da área chegam a dizer que as demissões em massa são necessárias para promover uma elevação de critérios de qualificação na contratação de profissionais.
No entanto, o bilionário Christopher Hohn, gerente do fundo de investimento TCI Fund Management, em mensagem direcionada ao CEO da empresa controladora do Google, explicou sem meias palavras o que querem os grandes investidores. Nas palavras dele: “Acredito que a gestão deve ter como objetivo reduzir o número de funcionários para em torno de 150 mil (…). Isso requer um corte total na ordem de 20%. (…) A administração também deve aproveitar a oportunidade para abordar a remuneração excessiva dos funcionários. (…) A competição por talentos na indústria de tecnologia caiu permitindo que a Alphabet reduza significativamente a remuneração por empregado.” Christopher Hohn tem uma fortuna estimada em US$ 7,5 bilhões. A TCI Fund Management é uma das maiores acionistas da Alphabet.
Desemprego é um mecanismo do capitalismo para baratear salários
Os estudos de Karl Marx permanecem elucidativos para analisar os movimentos do capitalismo. As crises cíclicas do sistema econômico fazem parte de sua própria lógica e processos de desaceleração são vistos como oportunidades para modelar estruturas de forma a aumentar a exploração da classe trabalhadora.
Aqui é possível verificar duas constatações de Marx sobre o funcionamento da economia: 1) nas relações entre capital e trabalho, lucros e salários ficam na razão inversa um do outro; e 2) o desemprego é um instrumento do capital para pressionar o rebaixamento geral dos salários.
Os executivos da área de tecnologia afirmam que há vagas no setor e admitem que a expectativa é que os profissionais desligados nas demissões em massa acabem aceitando empregos com menores salários, para se recolocar rapidamente no mercado de trabalho.
Além disso, analistas de mercado enaltecem que a principal missão de empresas de tal porte é proporcionar retorno financeiro aos investidores. No menor sinal de diminuição da velocidade de lucratividade, tendem a cortar da força de trabalho, de onde conseguem mais valor.
As crises econômicas nunca chegaram nas mansões dos grandes ricos. As afirmações de Marx sobre o capitalismo mostram que, no contínuo processo de acumulação do capital, em seus altos e baixos, o capitalista sempre irá buscar reduzir salários ao seu mínimo físico, prolongar a jornada de trabalho ao seu máximo físico, e assim extrair o máximo de lucro. São inúmeros os fatores entre tais extremos, mas tal dinâmica sempre revelará, em algum nível, uma sociedade de exploradores e explorados.