UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O papel dos estudantes na luta por memória, verdade e justiça

Outros Artigos

Os estudantes assumiram um papel importante na luta contra a ditadura militar fascista e por memória, verdade e justiça. 

Leonardo De Paula | Florianópolis


HISTÓRIA – O período da ditadura militar fascista no Brasil foi caracterizado por diversos crimes e perseguições, entre eles: o genocídio dos povos originários, a corrupção sem pudores nos cargos políticos e a covarde e implacável caça aos comunistas. Entre as parcelas da população que mais se destacaram na defesa contra os generais e ditadores fascistas, os estudantes assumem um papel importante. 

Os estudantes foram responsáveis pelas maiores manifestações populares contra o regime ditatorial que imperava no Brasil, entre elas as mobilizações que culminaram na marcha dos 100 mil, que ocorreu em junho de 1968 na cidade do Rio de Janeiro e que teve como principal motivação, o assassinato pelas mãos da PM do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto em março do mesmo ano.  

A passeata mostrava não só para a cidade do Rio de Janeiro, mas também para todo o país, a revolta e insatisfação dos estudantes com os crimes sofridos pelo povo brasileiro nesse período. Entre atos de rua e assembleias estudantis, os universitários e secundaristas se organizavam em entidades, salas de aulas e coletivos dentro de suas escolas e faculdades com o propósito de demonstrar o poder jovem na resistência contra a opressão. 

Estudantes na rua

De norte a sul do Brasil os estudantes lotaram as ruas e convocaram a população a se juntar a eles, a reivindicação central era a sempre a mesma “Abaixo a ditadura”. Em Santa Catarina, um dos episódios mais marcantes da resistência foi a Novembrada, em 30 de novembro de 1979, que contou com mais de 4 mil alunos da Universidade Federal de Santa Catarina nas ruas do Centro de Florianópolis. O intuito da manifestação era clamar por eleições diretas e barrar a homenagem que era feita por João Figueiredo (até então o general no poder) a outra figura histórica deplorável, Floriano Peixoto – militar, golpista e ex-presidente do Brasil – que deu seu nome à capital catarinense e que assumiu a Presidência da República de forma ilegal em 1891. 

Os estudantes se concentraram na Praça XV de Novembro e ao se depararem com a chegada do então presidente golpista, levantaram suas vozes e faixas em clima de protesto. Com a forte repressão da PM, sete estudantes foram presos, o que gerou nas semanas seguintes uma onda de manifestações que chegaram a contar com até 10 mil pessoas nas ruas exigindo a libertação dos encarcerados. As redes de televisão que cobriam as manifestações tiveram seu material apreendido e a PM realizou mais repressões aos estudantes. Apesar da violência, os jovens conseguiram barrar a homenagem e libertar seus colegas. Quanto ao governo, já há muito havia se desgastado.

Outro evento importante ocorreu em Pernambuco, uma vez que no dia 17 de maio o Diretório Acadêmico de Ciências Sociais e o DCE da UFPE definiram em assembleia o estado de greve em solidariedade ao estudante Edival Nunes Cajá, que havia sido preso pela ditadura e enfrentava torturas nos calabouços dos militares. 

A mobilização dos estudantes recifenses fez com que o reitor da universidade na época, Paulo Miranda, fosse buscar notícias sobre o estado de Cajá e retornasse aos estudantes com informações precisas a respeito da vida do companheiro. As palavras de ordem que dominavam as bocas e os cartazes dos estudantes “Cajá está sendo torturado e você vai à aula?” Não se limitaram a apenas Recife, logo tomaram mobilizações em diversos estados brasileiros e estudantes do Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná também declararam greve em apoio a libertação do militante. 

Graças aos incansáveis esforços, Cajá foi solto e continuou a militar no movimento estudantil, sendo o último preso político da ditadura.

Estudantes comunistas

Muitos dos principais inimigos dos ditadores daquela época eram os estudantes, não apenas por representarem os interesses de grandes massas estudantis, mas também por serem, em alguns casos, comunistas e revolucionários. É o caso de Emmanuel Bezerra da Silva, estudante de sociologia da UFRN, diretor do DCE de sua faculdade e membro do PCR, Partido Comunista Revolucionário, assassinado em 4 de setembro de 1973. Emannuel era um inimigo da ditadura pois utilizava de sua militância e referência na universidade para mobilizar estudantes a refletirem e se manifestarem contra os crimes que ceifavam a vida e a liberdade dos brasileiros e que eram praticados por militares na época. 

Outro exemplo de luta foi o companheiro de Emmanuel, Manoel Lisboa de Moura, estudante de Medicina da Universidade Federal de Alagoas e também militante do Partido Comunista Revolucionário. Manoel, que era ativo desde o movimento secundarista, foi emboscado em 16 de agosto de 1973 e enfrentou a prisão e intensas torturas até o dia 4 de setembro do mesmo ano quando foi declarado morto, mesmo dia que seu companheiro Bezerra. Ambos os universitários preservaram o sigilo e nada contaram a respeito de sua organização e militância para os torturadores.

Muitos foram os estudantes organizados em células e partidos comunistas que perderam a sua vida no período de repressão, mas não restam dúvidas a respeito da enorme contribuição que cada um teve para o enfraquecimento do fascismo na época e que, até hoje, são motivos de exemplos de luta para os que até hoje se propõe a honrar a imagem e o legado daqueles que deram a vida pelo povo.

Unir os estudantes e e derrotar o fascismo

Os estudantes foram essenciais para o desgaste e derrota nas urnas do governo de Jair Bolsonaro. Um governo que frequentemente flertou com um golpe militar e que contava com o total apoio do alto escalão das forças armadas. Apesar disso, os universitários e secundaristas ainda possuem uma tarefa de importância central:  honrar o legado de Edson Luiz, Emmanuel Bezerra, Manoel Lisboa, Iara Iavelberg, Helenira Rezende e tantos outros e vencer o fascismo nas ruas!

Nós, estudantes, temos o dever de nos basear nos exemplos de luta do passado e dar continuidade a isso, sendo ponta de lança nas manifestações populares e fazendo de nosso ambiente universitário um ambiente de luta e resistência antifascista. É preciso lutar com unhas e dentes pela prisão de Bolsonaro e seus cúmplices exigindo a não anistia para golpistas. Como estudantes, montaremos nos ombros de nossos heróis e gritaremos “ditadura nunca mais!”.

 

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes