Restaurante universitário serve comida com larvas

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Estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora encontram larvas, baratas, parafusos e outros objetos estranhos em comida e relatam terem intoxicação alimentar após consumo no Restaurante Universitário. BG Alimentações, empresa responsável pela administração do espaço e Reitoria, se mantém omissos.

Paolla Izidio* – Juiz de Fora


EDUCAÇÃO – Durante o final de 2022, a Universidade Federal de Juiz de Fora passava por processo de licitação para contratação de uma nova empresa, que ficaria responsável pelo Restaurante Universitário do campus de Juiz de Fora. Após a BG Alimentações fechar acordo com a Universidade, assumiram o R.U e passaram a atuar já no primeiro mês de 2023. Desde então, vários problemas vêm sendo denunciados pelos trabalhadores e estudantes.

Menos de duas semanas após a BG Alimentações começar a atuar na UFJF, os funcionários do R.U fizeram paralisações contra cláusulas absurdas que o novo contrato previa – referente a quebra de utensílios, acidentes e uso de avental – e que gerariam descontos enormes nos salários. Ainda que o R.U sirva, de acordo com o site oficial da UFJF, uma média de 8.300 refeições por dia, entre café da manhã, almoço e jantar, e os utensílios sejam manuseados diversas vezes por estudantes e trabalhadores, a empresa queria descontar dos próprios funcionários quaisquer possíveis acidentes.

Depois, logo no início do período letivo das aulas, denúncias sobre a qualidade da comida começaram a ser feitas nas redes sociais por estudantes. Os relatos vão desde má preparação dos alimentos, não oferecimento de fila preferencial, pouca quantidade de carne sendo servida, até presença de corpos estranhos na comida – como larva, barata, acrílico, metal, parafuso, entre outros – e casos de intoxicação alimentar, que levou à internação hospitalar, após comer no R.U. Apesar das reclamações já durarem meses, tanto dos discentes quanto dos trabalhadores terceirizados, a empresa e a reitoria da UFJF afirmam estar averiguando, mas nada foi feito e novos relatos aparecem diariamente.

Enquanto isso, os estudantes que dependem do R.U continuam à mercê de refeições que podem provocar males à saúde.
Não obstante, uma trabalhadora do R.U sofreu racismo enquanto prestava seu serviço. No dia 4 de Maio, um estudante (não teve o nome e curso divulgado) recusou aceitar a sobremesa distribuída pela funcionária e falou que não iria pegar doces da mão de uma pessoa preta. No dia seguinte, os estudantes organizaram um ato na porta do R.U em solidariedade, exigindo a expulsão do racista e contra o racismo, porém, nada foi feito. A única ação da reitoria da Universidade foi uma nota de repúdio nas redes sociais e a BG Alimentações nem ao menos se manifestou publicamente em defesa da funcionária.

É preciso fazer a ressalva de que, a partir do momento que uma Universidade pública faz uma licitação para contratar uma empresa para prestar um serviço, isso é chamado terceirização do trabalho. Com o serviço terceirizado, a Universidade perde total controle do que é servido, da qualidade e de como o R.U é administrado, uma vez que passa a ser responsabilidade da empresa. É evidente, com tudo que vem acontecendo, o enorme prejuízo da terceirização, tanto para os trabalhadores quanto para os consumidores.

Contudo, essa não é uma realidade apenas da UFJF, já que a maioria dos R.U’s do Brasil são terceirizados e diversos alunos de outras Universidades relatam o mesmo problema, como da UFU, UFC, UEPA, Unifesp, UFES, entre outras.

Para piorar a situação, a UFJF possui, no momento, uma gestão omissa no Diretório Central dos Estudantes, que resume suas ações em notas de repúdio e solidariedade na internet e mobilizações pontuais, sem nenhuma ação efetiva que busque organizar os estudantes e trabalhadores para defender seus direitos e garantir uma política de permanência estudantil de qualidade. Ainda que a refeição tenha um custo de apenas 1,40 para o estudante, a Universidade paga o restante do valor de cada prato, ou seja, o dinheiro público está sendo gasto com uma comida que coloca em risco a saúde de quem consome.

Além disso, o baixo custo que os discentes arcam não é um favor da empresa, nem da própria UFJF, mas um direito de assistência estudantil conquistado com muita luta pelo Movimento Estudantil. É necessário, portanto, uma organização dos estudantes com mobilizações combativas por uma alimentação de qualidade, o que é um direito básico de todo ser humano.

Sendo o R.U uma política de assistência estudantil essencial para a permanência dos estudantes no ensino superior, principalmente para aqueles que, por serem de baixa renda, só conseguem fazer as principais refeições do dia nesse espaço, deveria ser de responsabilidade da própria Universidade a administração, a contratação de funcionários de forma digna e o oferecimento de uma alimentação de qualidade. O mais correto seria a realização de concurso público para contratar trabalhadores de todos os setores dos espaços públicos brasileiros, de forma que as próprias Universidades fossem responsáveis pelo serviço e pela qualidade e que os trabalhadores fossem concursados e tivessem direitos garantidos.

Em defesa de um Restaurante Universitário de qualidade! Em defesa da assistência estudantil e de trabalho digno! Contra a terceirização!

*Estudante de Serviço Social da UFJF e militante do Movimento Correnteza