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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

As mentiras do neoliberalismo sobre a liberdade individual

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O neoliberalismo prega a anarquia do mercado e uma falsa escolha individual. Enquanto isso, os trabalhadores e a população pobre passam fome e são superexplorados.  O neoliberalismo é excelente em mascarar os impasses capitalistas. Há algo de podre no reino neoliberal.

Nicolas Pantaleoni Nicoletti | Porto Alegre


OPINIÃO O indivíduo ideal para o neoliberalismo é o indivíduo que conquista seu espaço, que trabalha pautado na promessa de alcançar o sucesso. Se o indivíduo ousar contestar seu entorno, ele já não serve mais ao neoliberalismo. É preciso ser resiliente, ver oportunidade onde há exploração, ver meritocracia onde não há condições igualitárias. Mas não para por aí, essa pressão no indivíduo não é só dele mesmo, conta com um fator externo, a valorização do capital. Para cada eu no mundo, uma série de falsas novas possibilidades de ser patrão de si mesmo se apresentam.

Não faz muito tempo que foi publicado um artigo da Folha de São Paulo intitulado Maioria não quer deixar o trabalho com aplicativo. A pesquisa foi encomendada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitech), que, de acordo com seu site, reúne empresas líderes no desenvolvimento e utilização de soluções tecnológicas inovadoras para melhorar o transporte de pessoas e bens.

Sobre renda, a pesquisa indica que, entre os motoristas, a faixa de renda varia de R$ 926 a R$ 4.756 para 20 a 40 horas de trabalho, enquanto para os entregadores a faixa é de R$ 807 a R$ 3.039. 

Empresas aumentam exploração

Os chamados aplicativos de delivery e mobilidade de passageiros possuem hoje 1,4 milhões de pessoas com o dever de seguir o código de ética da Uber”, sem que a empresa tenha qualquer responsabilidade trabalhista. Segundo a pesquisa, a média de jornada de trabalho dos motoristas é de 22 a 31 horas semanais. 

Poucos meses atrás, a Uber foi processada por um ex-motorista, e alegou em sua defesa que não existia vínculo de emprego. A empresa destacou que é uma empresa de tecnologia, atuando como uma simples plataforma destinada a viabilizar o encontro de pessoas em torno de um determinado serviço, tendo os motoristas como seus clientes. Além disso, reforçou que o trabalhador jamais prestou serviços para a Uber, mas era a Uber quem fornecia serviços ao reclamante.

A empresa Uber é uma das associadas da Amobitec que, por sua vez, publicou em seu site uma carta comprometendo-se em: ampliar a proteção social dos trabalhadores em plataformas em um ecossistema de ampla concorrência, liberdade de modelos de negócio e eficiência do mercado em benefício de consumidores e profissionais. 

Uma breve análise do discurso da Amobitec comprova: o neoliberalismo foi criado para lidar e mascarar os impasses do capitalismo. A coisa simplesmente não é sustentável, mas eles seguem tentando achar um jeito com suas palavras vazias. 

Em um momento em que se discute a relação trabalhista dos motoristas e entregadores, uma pesquisa encomendada pela própria associação parece justificar a não relação trabalhista. Ampliar a proteção social dos trabalhadores significa garantir direitos trabalhistas, salário e férias. 

Por outro lado, ampla concorrência, liberdade de modelos de negócio são escolhas que sabidamente levam à precarização do trabalho. O neoliberalismo é excelente em mascarar os impasses capitalistas. Há algo de podre no reino neoliberal.

 

 

 

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