Movimento Correnteza realizou uma aula de vogue em conjunto com a cena Ballroom do Rio Grande do Norte. A aula foi confeccionada pelas casas Casixtranha e Acuenda com a parceria de diversos centros acadêmicos da UFRN.
Clarice Oliveira* | Natal
CULTURA – Na sexta-feira do dia 16 de junho, foi realizada uma aula de vogue¹ dentro da UFRN pela cena Ballroom² do Rio Grande do Norte em conjunto com o Movimento Correnteza e diversos centros acadêmicos. A aula contou com mais de 60 pessoas de dentro e de fora da comunidade acadêmica da universidade e foi realizada no Departamento de Artes da UFRN.
O evento foi bastante importante para apresentar a arte e a cultura da cena Ballroom e reafirmar a força que as pessoas trans, travestis e não-binárias têm frente esse sistema que perpetua cada vez mais a exploração e a opressão que a comunidade LGBTQIA+ sofre.
A aula serviu para abrir a campanha sobre o mês do orgulho LGBTQIA+ realizada pelos centros acadêmicos e o Movimento Correnteza, que realizou diversos eventos sobre a temática do mês, envolvendo a comunidade estudantil e ademais. É como afirma Iuna Brasil, vice-presidente do Centro Acadêmico de Letras – Poeta Jorge Fernandes e pessoa Não-Binária, “a aula serviu para iniciar uma campanha que nós estamos realizando dentro da universidade para demonstrar que as pessoas trans têm o direito de ocupar esses espaços tão elitizados. O nosso papel enquanto militantes trans é sempre estar questionando a inclusão de pessoas trans nos espaços e cada vez mais lutar para que essa inclusão ocorra, afinal de contas a educação pública deveria ser para todes.”.
Além do Centro Acadêmico de Letras, o evento foi realizado em conjunto com os Centros Acadêmicos de psicologia, história e teatro.
De acordo com Aisha Vitoria Lemos Vitoriano, Travesti Não-Binária, integrante da cena Ballroom e da Casixtranha, “Eu costumo falar que trazer a cultura Ballroom para o RN, e a chegada dela no Brasil, é uma questão urgente de política pública. Ter um ensaio com mais de 60 pessoas interessadas em nossa cultura me emociona, porque o nosso grito por sobrevivência está existindo. Pra mim, a cultura é exatamente esse grito. Um grito por liberdade, autonomia, autoestima, e acima de tudo, um grito pela vida. Então ver tantas pessoas juntas por um motivo, a nossa existência, me toca em um ponto muito específico”.
A aula serviu também como um espaço de acolhimento e de empoderamento, como afirma Samantha, travesti e militante do movimento Correnteza, “Foi um momento muito gostoso, me senti incrível participando de um momento como esse, que carrega toda uma cultura travesti e preta, me senti muito acolhida. É um espaço muito diferente daquele a que nós estamos acostumadas, um espaço em que somos celebradas por quem somos. A Ballroom é muito mais do que só uma festa ou só o vogue, tem haver com a coletividade. É sobre se ajudar. A sororidade que nós temos enquanto comunidade, por isso existem as casas e por isso precisamos manter a cultura viva.”
*Mulher Travesti e militante da Unidade Popular
¹. “vogue” se refere a uma dança criada por pessoas trans, gays e pretas de Nova Iorque nos anos 70/80. Ela acontece dentro da cena Ballroom e se caracteriza pela imitação de diversas poses que as modelos da capa da revista Vogue faziam. As poses são feitas uma atrás da outra ao ritmo de uma música, tipicamente do estilo “house”.
² A cena Ballroom surgiu em meados dos anos 60/70 no bairro de Harlem, em Nova Iorque, por pessoas trans, pretas e gays que queriam se refugiar da opressão que viviam e ter um momento de celebração de suas identidades. Ballroom é uma festa organizada pela comunidade LGBTQIA+ e é composta por diversas “Casas”, que são famílias escolhidas. Como a comunidade LGBTQIA+ sofre com expulsão da casa dos pais biológicos, quando estão em situação de rua conseguem entrar em uma casa para se refugiarem e se sentirem mais acolhidos.