Apesar das belezas e do alto poder turístico da cidade de Curitiba, as contradições sociais mostram outra cidade, que expulsa a população de baixa renda para as periferias, onde uma realidade completamente diferente é exposta.
Núcleo da UP Centro de Curitiba
A precarização dos trabalhadores responsáveis por coletar e reciclar o lixo em Curitiba tem se agravado no último período. Enquanto a capital paranaense é considerada “a maior recicladora do Brasil”, aqueles que trabalham para reciclar o lixo são abandonados à própria sorte e mal têm o que comer.
A categoria é mais uma vítima da contradição capitalista: os baixos salários dos trabalhadores não permite ter o mínimo de segurança alimentar por conta do alto preço dos alimentos e do custo de vida. Enquanto mais da metade da população curitibana recebe uma renda mensal de menos de 3 salários mínimos, segundo o DIEESE, o preço da cesta básica ultrapassa os R$700,00.
É o caso de Reinaldo, catador de recicláveis e morador do Parolin, bairro periférico de Curitiba. “O lixo é o nosso tesouro aqui no Parolin”, relata. O trabalhador também administra um restaurante solidário, junto com sua companheira, Izete, e relatou ao Jornal A Verdade que a insegurança alimentar sempre esteve presente em sua vida e já precisou “serrar as grades de um estabelecimento para pegar comida. Se os mercados dessem somente o resto dos alimentos pra gente, seria o suficiente para sobrevivermos”, disse.
Segundo o relatório global do Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, divulgado por cinco agências especializadas da Organização das Nações Unidas (ONU), 32,8% da população brasileira sofre com algum grau de insegurança alimentar, o que corresponde a aproximadamente 70 milhões de pessoas.
No caso dos catadores de Curitiba, essa situação é agravada pela desvalorização do preço dos recicláveis que chegou ao menor patamar nos últimos anos. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, enquanto a média nacional de reciclagem de resíduos sólidos é de apenas 3%, a capital paranaense recicla 22,5% de seu lixo, dos quais, 86% são coletados por catadores.
A forma mais acessível que Reinaldo encontrou para tentar fugir dessa realidade, foi se dedicar a um segundo ofício, o de pedreiro. Mesmo assim, com muito esforço, ainda precisou arcar com os custos do curso de formação para conseguir garantir um emprego informal, na nova profissão.
Com a dupla jornada de trabalho, ele e a companheira se dedicaram a ajudar os demais catadores de recicláveis do Parolin. Pedindo ajuda e doações, o casal conseguiu construir um restaurante solidário, que hoje serve 45 refeições por dia, de forma gratuita. “Durante a pandemia, se não fossem essas portinhas (se referindo ao restaurante solidário), o povo tinha morrido de fome”, relata a dura realidade dos catadores de recicláveis em Curitiba.
Enquanto Reinaldo e Izete se esforçam para alimentar as famílias dos catadores com poucos recursos, há uma classe que lucra com a exploração desses trabalhadores no Estado. Segundo o IBGE, o PIB per capita do Paraná é de R$ 45.318,46, ou seja, em média, um trabalhador gera R$ 3.750,00 por mês para o estado. Porém, o que ele recebe em troca é um rendimento mensal domiciliar per capita de apenas R$ 1.802,00.
Para onde vai a metade do valor produzido por um trabalhador no Paraná? Por que os catadores de recicláveis são tão desvalorizados? Estas contradições são comuns no sistema de produção capitalista, onde a exploração do trabalhador massacra cada vez mais o povo pobre e trabalhador.
Enquanto a burguesia se enche de orgulho para dizer que Curitiba é a cidade mais limpa e que mais recicla no país, os verdadeiros responsáveis por esse feito passam fome nas periferias e estão alocados em uma outra Curitiba, propositalmente escondida dos turistas.
Nossa luta é por dignidade para estes trabalhadores, por dignidade humana, e para que todos que trabalham possam receber de volta toda a riqueza que produzem! Pelo poder popular e pelo socialismo!