Fundada em 1966, a Companhia Pernambucana de Borracha Sintética (COPERBO) possui um histórico na industrialização do país. Vendida ao capital privado internacional, a atual Arlanxeo anunciou de forma arbitrária o fechamento da empresa e a demissão de seus funcionários justificando o lucro.
Pedro Noah | Cabo de Santo Agostinho – PE
BRASIL – No início do mês de Agosto, a Arlanxeo (antiga Coperbo), anunciou o fechamento de sua unidade no Cabo de Santo Agostinho, município da Região Metropolitana do Recife. A empresa, líder mundial na produção de borracha nitrílica, encontra-se nas mãos do capital internacional da Alemanha e Arábia Saudita.
Além de estar na cidade pernambucana, também possui uma unidade de produção localizada em Duque de Caxias (RJ) e duas em Triunfo (RS). Inaugurada em 1966, a empresa tem uma presença cultural e econômica na cidade, fazendo parte da história de várias gerações de famílias e da industrialização em nosso país.
O jornal A Verdade conversou com Geraldo Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Borracha em Pernambuco (SindBorracha/PE) para saber a situação da empresa.
A Verdade – Como se deu o anúncio do fechamento da empresa e como isso vai afetar os trabalhos e a comunidade Cabense?
Geraldo Soares – Quando a Arlanxeo anunciou o fechamento da unidade, no dia 6 de agosto, o Sindicato tentou negociar para reduzir o impacto que isso traria para os trabalhadores indiretos — que são mais de dois mil; para os 104 trabalhadores próprios; e mais os 400 trabalhadores terceirizados, assim como também para a população cabense.
O capital impôs uma migalha para justificar o fechamento da empresa, mas dinheiro não falta porque a proprietária é a Saudi Aramco que, nesse segundo semestre de 2024, já teve um lucro líquido de 29 milhões de dólares. Ou seja, o capital massacrou os trabalhadores durante 58 anos, porque essa é a idade da empresa, e, ao final, nos massacra ainda mais nos fazendo perder o emprego.
Qual foi a justificativa da Arlanxeo?
A principal justificativa é de que a empresa não está dando rentabilidade e que eles vão produzir em outro lugar com o lucro mais alto. Ou seja, nenhuma preocupação com o trabalhador, nem com a sociedade em geral, nem com o Estado porque se apoderaram de incentivos fiscais e agora vão embora e deixam a sucata para o Estado cuidar.
Como essa “justificativa” chegou aos trabalhadores?
A fábrica é rentável, dá lucro, mas não é tão alto quanto eles querem. Essa empresa sempre deu lucro. Borracha sintética é muito cara e a gente tem capacidade de produzir 120 mil toneladas por ano. Quando ainda era a Coperbo, sempre teve lucro, mas o lucro que eles querem é ainda mais alto do que se atinge atualmente.
A empresa fecha esta unidade, mas ainda mantém as atividades no Brasil?
Sim, ela tem atividade em Duque de Caxias no Rio de Janeiro e em Triunfo no Rio Grande do Sul. E no Rio Grande do Sul, a empresa montou uma unidade em 2013 e inaugurou outra em 2023. O que nós produzimos aqui ela vai produzir no Rio Grande do Sul. Segundo a empresa, lá as condições estão mais próximas do mercado consumidor e o lucro é maior do que aqui.
Existem algumas ameaças ambientais que o fechamento da fábrica pode trazer para a nossa cidade caso não haja um cuidado desses produtos. Há alguma garantia por parte da empresa com essa questão?
Os riscos são principalmente para os moradores do Cabo de Santo Agostinho. A gente tem milhões de litros de solvente, catalisador e todo tipo de produto armazenado aqui. E a gente queria discutir. Tentamos com a Companhia Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) e com o Ministério do Trabalho. Tem a questão da segurança industrial no Ministério do Trabalho, porque a quantidade de produto é muito grande e a quantidade de trabalhadores que ficaram para fazer a parada de produção é pouca. Paramos de produzir, mas ainda temos que descontaminar a área e todos os equipamentos.
A empresa deixou um número de trabalhadores muito reduzido: quatro por turno. Mas deveriam ser, no mínimo, vinte trabalhadores, porque o risco para descontaminar a planta é muito grande. O risco ambiental ainda é muito grande. E a gente não sabe para onde vão levar os milhões de litros de solventes que sobraram, porque não podem ficar aqui. Tem que ir para outra indústria para ser reciclado e usado novamente. Mesmo que não seja para a produção de borracha, mas tem que estar em uma indústria que refrigere o material e faça com que ele fique em circulação. Esses produtos não podem ficar dentro de um tanque porque podem aquecer e explodir.
Quais os principais encaminhamentos do SindBorracha neste momento?
A gente vai continuar com as Assembleias e com as questões jurídicas. Agora principalmente no campo jurídico nas instituições. Temos reuniões agendadas do CPRH e no Ministério do Trabalho e estamos procurando conversar com alguns parlamentares para tentar amenizar o impacto que causou e que ainda vai causar com o fechamento da Arlanxeo.