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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Deficiência: duas concepções, dois interesses de classe opostos

Comissão Anticapacitista da UP promove estudos sobre a diferença entre os modelos biomédico e social da deficiência e defende a organização para a luta contra o capitalismo, que promove a exclusão dos PCDs

Ingrid Pereira | Rio de Janeiro (RJ)


No Brasil, o debate da comunidade com deficiência é muito recente. Por isso, a Unidade Popular (UP) do Rio de Janeiro tem assumido o trabalho de conscientização da população, com o viés proletário e revolucionário, sobre vários tópicos de vivências e violências sofridas pela parcela PcD do nosso estado. A Comissão Anticapacitista da UP tem proposto cursos, atos e grupos de estudos, todos voltados a conquistar um espaço de luta por direitos para pessoas com deficiência.

No dia 9 de junho, aconteceu o primeiro encontro do grupo de estudos “Capitalismo, Deficiência e Neurodivergência”. Nele foi debatido o texto “O que é deficiência?”, de Débora Diniz, aprofundando os conceitos de modelo biomédico e social de deficiência.

O que são os modelos de deficiência?

A palavra “Deficiência” no dicionário significa “Falta, falha, imperfeição, defeito”. Com essa definição, conseguimos explicar com facilidade a diferença real entre os modelos de deficiência: a questão é assumir onde está a falha, falta, defeito.

O modelo biomédico assume que a falha está no indivíduo, pessoa que nasceu ou adquiriu alguma “anormalidade”. Por outro lado, o modelo social avalia que o defeito está na sociedade que envolve a pessoa com deficiência que necessita de recursos para conviver socialmente e não os recebe do ambiente externo.

Modelo biomédico: ideologia da classe capitalista

O modelo biomédico é o mais conhecido, mais utilizado e mais compreendido no imaginário da população quando se pensa em pessoas com deficiência. Afinal, a pessoa cega, é aquela que não enxerga; a surda é a que não ouve; a descrição do “problema” tem sempre foco na pessoa. Esse modelo, o preferido da burguesia, provoca que uma série de responsabilidades que poderiam ser aplicadas ao sistema produtivo e ao governo sejam arremessadas no colo do indivíduo.

Exemplo. No capitalismo se promove uma política de inclusão efetiva das pessoas surdas no nosso país? Existe difusão da Libras nas escolas regulares? Não. O que existe é uma constante pressão aos surdos no Brasil para fazerem cirurgia de implante ou gastar rios de dinheiro em aparelho auditivo, com o medo da fome e do desemprego. Não é preciso que se elabore muito para comprovar como se estabelece um mar de possibilidades de explorações cada vez mais cruéis, quando nos limitamos à filosofia biomédica.

Modelo social: ideologia construída pelos explorados

Em contrapartida, o modelo social de deficiência mostra um lado mais coletivo e efetivo. Entendendo o problema como o que ele é na realidade: algo que a sociedade (por meio do Estado) tem o dever de corrigir. A pessoa cega não pode decidir enxergar o sinal vermelho ao atravessar a rua, mas os semáforos do nosso país poderiam ser sonoros, além de visuais. Quando se abre o horizonte para entender que o problema não está naquele que anda em cadeira de rodas, que nada pode fazer para mudar sua condição, mas sim em ruas pouco acessíveis e prédios com somente escadas, torna-se muito mais fácil entender as negligências sociopolíticas que o capitalismo nos oferece.

É muito mais fácil culpar o corpo de alguém que não pode ser mudado, do que assumir responsabilidades nas questões que podem ser resolvidas com dinheiro público; questões que já teriam sido resolvidas se o capitalismo não gastasse quase metade do nosso dinheiro, dos impostos que pagamos, com a dívida pública. Então vale pensar, por que nosso direito de ir e vir, de trabalhar, e de estudar, de viver vale menos? O que eles ganham nos fazendo acreditar que não conseguimos nada por causa de algo que não podemos mudar?

Essa compreensão nos mostra que está no momento de nós mudarmos de rumo, de mente, e de espírito. O sistema capitalista nunca vai abrir mão de seus lucros. Podemos continuar deixando os nossos na condição de doentes, pedintes e coitados, ou podemos nos unir e nos organizar para construir uma sociedade livre e justa, feita por todos nós para todos nós, uma sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº 301 do jornal A Verdade

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