Veja a nota publicada pelo Partido do Trabalho da Turquia sobre a queda de Assad na Síria, onde faz um chamado à luta anti-imperialista.
Seyit Aslan | Presidente do Partido do Trabalho da Turquia (Emek Partisi)
A guerra civil na Síria entrou em uma nova fase. Forças armadas jihadistas, lideradas pelo Hayat Tahrir al-Tahriri al-Sham¹ [Frente de Libertação do Levante, no nome em árabe], entraram na capital síria Damasco. Bashar al-Assad fugiu. O Exército Sírio se rendeu.
A mídia pró-AKP² aplaudiu esses eventos. Ele dizem que o ditador foi derrubado e a democracia prevaleceu. A democracia realmente venceu? O HTS trouxe a democracia para a Síria? O regime de Assad não era com certeza democrático, mas o regime do HTS tampouco será. Até hoje não houve nenhum regime islamista democrático no mundo. Não é possível que este será o primeiro.
A entrada do HTS em Damasco não significa que ele domina toda a Síria. No nordeste está a SDF/PYD [Frente Democrática da Síria/Partido de União Democrática, ligado a população curda], que controla 40% do país, e no noroeste estão as forças armadas chamadas “Exército Nacional Sírio” [força financiada e armada pela Turquia]. De agora em diante a luta política e armada continuará entre esses grupos.
Claro que uma nova onda migratória começará neste novo período. Grupos pró-Assad e árabes alauítas³ fugirão do regime do HTS.
Com as dificuldades da Rússia na sua guerra com a Ucrânia e o enfraquecimento do Hezbollah e do Irã na sua luta contra Israel este era o tempo certo para o HTS agir. Nesta conjuntura, os EUA, Israel e seus aliados venceram na Síria junto com os jihadistas do HTS. O próximo alvo dos EUA, Israel e seus aliados será provavelmente o Irã.
Com o slogan de tornar a situação atual numa oportunidade, alguns círculos no nosso país [Turquia] estão defendendo que a Turquia ataque as regiões curdas com o “Exército Nacional Sírio” e se expanda. Uma política dessas significa que a Turquia será dragada também para a guerra. A Turquia deve retirar suas forças armadas da Síria, defender a autodeterminação do povo sírio e desenvolver uma relação fraternal com eles.
Os povos do Oriente Médio devem se unir e lutar contra as forças imperialistas ao invés de lutar uns contra os outros e entre eles mesmos.
Os imperialistas e as tropas estrangeiras, incluindo as turcas, devem sair da Síria imediatamente. O povo sírio, composto de diferentes identidades nacionais e crenças, deve determinar o seu próprio destino.
O presente e o futuro da Síria pode apenas ser garantidos através de uma soberania popular, anti-imperialista, pacífica e democrática. Qualquer outra iniciativa significa a continuação da guerra civil.
Nas condições em que o Oriente Médio e a região estão sendo tragados mais e mais para um atoleiro de guerras, o dever de todas as forças democrática e dos trabalhadores é de se unir mais e de unir a luta.
Traduzido do inglês por Felipe Annunziata (link da nota em inglês aqui, original em turco aqui)
Notas:
¹ HTS (Hayat Tahrir al-Tahriri al-Sham) ou Frente de Libertação do Levante é um grupo de extrema direita fundamentalista islâmico que se formou a partir de uma dissidência da Al-Qaeda.
² Partido islamista de direita do presidente autoritário turco Recep Erdogan.
³ Alauítas: minoria étnico-religiosa com grande presença na Síria e no Líbano e que era ligada ao partido do presidente deposto Bashar Al-Assad.